Fanfic: Uma Noiva de Sorte | Tema: Vondy

Capitulo 4 – segunda parte

Uma folha se soltou da árvore naquele instante. Ficou olhan­do-a cair até pousar em Christopher. Gostaria de retirá-la, mas resistiu à tentação. Christopher não reagia bem a seu toque.

— Agora que já comemos e descansamos, vamos voltar para seu apartamento? — ele sugeriu.

Christopher estava guardando os potes na cesta quando pressentiu a aproximação de Dulce. Ela ergueu a mão. Ele enrijeceu. Sentiu os dedos lhe tocarem os cabelos. Em seguida ela lhe mostrou uma folha.

— Pousou em você.

Ele estava sendo ridículo. Como podia se deixar dominar pelo desejo? Não podia nem sequer chamar de toque, o leve contato dos dedos de Dulce.

— Obrigado — agradeceu e continuou a guardar os potes.

— Minha mãe e eu fizemos muitos piqueniques aqui. — A voz de Dulce soou emocionada. — Esta é a primeira vez que venho sem ela. A saudade é tanta que quase não consigo respirar.

Christopher cerrou os dentes.

— Nunca pude esquecer meu pai. Nada nem ninguém pôde substituí-lo.

— Talvez, um dia, você se sinta melhor se tiver sua própria família. Já pensou nisso?

Christopher hesitou. Aquele deveria ser o sonho de Dulce. Não era o dele. Mas não quis magoá-la.

— Talvez.

— Quero tanto ter uma família, que chego a criá-la em minha imaginação — Dulce confessou.

A declaração não o surpreendeu. Provocou raiva. Dulce ti­nha uma família e fora ignorada durante todos aqueles anos.

Não descansaria enquanto não fizesse Martin Reverte pagar por todos seus erros.

— Quero lhe apresentar só mais uma coisa — disse Christopher, três horas mais tarde. — O dicionário.

— Não seria mais fácil usar o livro? Ele está sempre à mão.

— Se você está diante do monitor, basta acessá-lo. Veja. — Christopher digitou a palavra leprechaun. "Gnomo do folclore irlandês com poderes para revelar um tesouro escondido a quem o pe­gar." — Você lhe deu um nome tão estranho quanto ele. Yarg. De onde o tirou?

— É um nome céltico — Dulce disse, corada.

— Vamos procurar o significado?

— Não! — Ela se levantou. — Estou cansada. Já tivemos lições suficientes por hoje. A propósito, ainda me considera uma boa aluna?

— Sim. Por quê?

— Nunca conheci alguém tão paciente quanto você.

— Esperava tornar-se uma especialista com apenas duas ou três lições?

— Detesto o processo de aprendizagem. Sinto-me incapaz.

— E muito severa consigo mesma. Você é inteligente. E está me ajudando muito. Com suas dificuldades, poderei rever o manual de instruções e simplificar os pontos que certamente não estão claros o suficiente para a maioria dos usuários.

Christopher se levantou. Precisava ir embora antes que fizesse algo de que se arrependeria depois, como beijá-la. Era-lhe difícil manter o autocontrole após ficar sentado ao lado de Dulce durante horas, sentindo seu perfume e admirando seu perfil concentrado.

— Não tema, Dulce. Fiz uma cópia de todos os programas instalados. Caso você os perca, o problema não será tão grave quanto imagina. Se você tivesse uma segunda linha telefônica, tudo ficaria mais fácil. Até que isso aconteça, não conseguirei ligar para você.