Fanfics Brasil - Capítulo UM P3 A Culpa é das Estrelas

Fanfic: A Culpa é das Estrelas | Tema: Vondy


Capítulo: Capítulo UM P3

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Capítulo UM P3


 


Mamãe parou na entrada de carros circular atrás da igreja às 4h56. Fingi que estava ajeitando o cilindro de oxigênio por um segundo só para ganhar tempo.
— Quer que eu o carregue até lá dentro?
— Não, está tudo bem — respondi.
O cilindro verde só pesava uns poucos quilos e eu tinha um carrinho de aço para transportá-lo. Aquilo me fornecia dois litros de oxigênio por minuto através de uma cânula, um tubo transparente que se dividia bem embaixo do meu pescoço, passava por trás das orelhas e se juntava de novo nas narinas. A geringonça era necessária porque meus pulmões faziam um péssimo trabalho como pulmões. — Eu te amo — ela disse, enquanto eu saltava do carro.
— Eu também, mãe. Vejo você às seis.
— Faça amigos! — ela gritou pela janela abaixada enquanto eu me distanciava. Não quis usar o elevador porque isso é o tipo de coisa que você faz nos seus ‚Últimos dias no Grupo de Apoio‛, então fui de escada. Peguei um biscoito, coloquei um pouco de limonada num copo descartável e me virei.
Um garoto olhava fixamente para mim.
Eu tinha quase certeza de nunca ter visto aquele cara na vida. Alto e magro, mas musculoso, ele fazia a cadeira de plástico, daquelas usadas em sala de aula, parecer minúscula. Cabelo acaju, liso e curto. Parecia ter a minha idade, talvez um ano mais velho, e estava sentado com o cóccix na beirada da cadeira, uma postura péssima, com uma das mãos enfiada até a metade no bolso da calça jeans escura.
Desviei o olhar, repentinamente consciente da quantidade infinita de coisas erradas em mim. Eu estava com uma calça jeans velha, que algum dia foi justa mas que agora ficava folgada nos lugares mais estranhos, e uma camiseta de malha amarela com o nome de uma banda da qual eu nem gostava mais. Tinha também meu cabelo: cortado tipo Príncipe Valente, e eu nem tive a preocupação de, puxa, dar uma escovada nele.  Além disso, minhas bochechas estavam ridiculamente redondas, como as de um esquilo, efeito colateral do tratamento. Eu era uma pessoa de proporções normais com um balão no lugar da cabeça. Isso sem falar do
inchaço nos tornozelos. Mesmo assim, dei uma espiada rápida e os olhos dele ainda estavam grudados em mim. 
Foi então que entendi o verdadeiro sentido de aquilo ser chamado de contato visual.
Andei até a roda e me sentei ao lado do Isaac, a duas cadeiras do garoto. Olhei de novo, rapidamente. Ele ainda me observava.
Na boa, vou logo dizendo: ele era um gato. Se um cara que não é gato encara você sem parar, isso é, na melhor das hipóteses, esquisito, e na pior, algum tipo de assédio. Mas se é um cara gato… na boa…
Peguei meu celular e apertei uma tecla para ver as horas. Os lugares na roda foram ocupados por azarados de doze a dezoito anos e, então, o Patrick deu início aos trabalhos com a prece da serenidade: Senhor, dê-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que posso, e sabedoria para reconhecer a diferença entre elas.
O garoto ainda estava me encarando. Senti meu rosto ficar vermelho.
Por fim, resolvi que a melhor estratégia seria também olhar fixamente para ele. Afinal de contas, os garotos não detêm o monopólio da Atividade
Encaradora. Foquei nele enquanto o Patrick explicava pela milésima vez sua ausência debolas etc., e aquilo logo virou um Jogo do Sério. Depois de um tempo o garoto sorriu e, até que enfim, desviou os olhos azuis. Quando me olhou de novo, arqueei as sobrancelhas como que dizendo: ganhei.
Ele deu de ombros. O Patrick prosseguiu e, enfim, a hora das apresentações chegou.
— Eddy, talvez você queira ser o primeiro hoje. Sei que está enfrentando um grande desafio no momento.
— É — o Eddy disse. — Meu nome é Eddy. Tenho dezessete anos. Parece que vou precisar ser operado em duas semanas, depois vou ficar cego. Não estou reclamando nem nada porque sei que poderia ser pior,
como no caso de alguns aqui, mas, quer dizer, ficar cego é, tipo, uma droga. Ter uma namorada me ajuda. Além de amigos como o Christopher. — Ele balançou a cabeça na direção do garoto, que agora tinha nome. — Pois é… — continuou. Ele estava olhando para as mãos, os dedos cruzados parecendo o topo de uma tenda indígena. — Não há nada que se possa fazer para mudar isso.
— Estamos do seu lado, Eddy — o Patrick falou. — Vamos lá, pessoal, digam para o Eddy ouvir.
E então todos nós, em uníssono, dissemos:
— Estamos do seu lado, Eddy.
O Michael foi o próximo. Ele tinha doze anos. Sofria de leucemia.
Desde que se entendia por gente. E estava bem. (Pelo menos foi o que disse. Ele desceu de elevador.)
A Viviane tinha dezesseis anos e era bonita o suficiente para ser alvo do olhar do cara gato. Era frequentadora assídua das reuniões — estava em um longo período de remissão de um câncer de apêndice, que eu nem
sabia que existia. Ela disse — como em todas as outras vezes que eu fui às sessões do grupo — que se sentia forte, o que para mim, com aquela chuvinha de oxigênio fazendo cosquinhas no nariz, era o mesmo que tirar onda. Outros cinco falaram antes do cara gato. Ele deu um sorrisinho quando chegou sua vez. A voz era baixa, aveludada e super sensual.
— Meu nome é Christopher Uckermann — disse. — Tenho dezessete anos.
Tive uma pitada de osteossarcoma um ano e meio atrás, mas só estou aqui hoje porque o Eddy pediu.
— E como está se sentindo? — o Patrick perguntou.
— Ah, maravilha. — Christopher Uckermann deu um sorrisinho. — Estou numa montanha-russa que só vai para cima, amigão.
Quando chegou minha vez, eu disse:
— Meu nome é Dulce Maria. Tenho dezesseis anos. Tireoide com metástase nos pulmões. Estou bem. A hora passou rápido. Lutas foram recontadas, batalhas ganhas em guerras que com certeza seriam perdidas; a esperança virou tábua de salvação; famílias foram celebradas e recriminadas; foi consenso que os amigos não entendiam nada; lágrimas foram compartilhadas, e consolo, oferecido.
Nem eu nem o Christopher Uckermann tínhamos soltado uma palavra, até que o Patrick disse:
— Christopher, talvez você queira falar de seus medos para o grupo.
— Meus medos?
— É.
— Eu tenho medo de ser esquecido — disse ele de bate-pronto. — Tenho medo disso como um cego tem medo de escuro.
— Calma aí… — disse Eddy, abrindo um sorriso.
— Estou sendo insensível? — perguntou o Christopher. — Eu posso ser bem cego quando o assunto são os sentimentos das outras pessoas.
O IEddy estava rindo, mas o Patrick levantou um dedo, repreendendoo.
— Por favor, Christopher . Voltemos a você e às suas questões. Disse que tem medo de ser esquecido? — É — respondeu o Christopher.
O Patrick pareceu meio perdido.
— Alguém, ahn, alguém gostaria de fazer algum comentário?
Eu não frequentava uma escola de verdade havia três anos. Meus melhores amigos eram meus pais. Meu terceiro melhor amigo era um escritor que nem sabia que eu existia. Eu era relativamente tímida — de jeito nenhum o tipo que levanta a mão para falar. E, mesmo assim, só dessa vez, resolvi abrir o verbo. Levantei a mão, e o Patrick, a satisfação estampada na cara, disse:
— Dulce!
Eu estava, tenho certeza de que foi isso o que ele pensou, me abrindo.
"Me tornando parte do grupo."
Olhei na direção do Christopher Uckermann, que me encarava. Dava quase para ver através dos olhos dele, de tão azuis.
— Vai chegar um dia — eu disse — em que todos vamos estar mortos. Todos nós. Vai chegar um dia em que não vai sobrar nenhum ser humano sequer para lembrar que alguém já existiu ou que nossa espécie fez qualquer coisa nesse mundo. Não vai sobrar ninguém para se lembrar de Aristóteles ou de Cleópatra, quanto mais de você. Tudo o que fizemos, construímos, escrevemos, pensamos e descobrimos vai ser esquecido e tudo isso aqui — fiz um gesto abrangente — vai ter sido inútil. Pode ser que esse dia chegue logo e pode ser que demore milhões de anos, mas, mesmo que o mundo sobreviva a uma explosão do Sol, não vamos viver para sempre. Houve um tempo antes do surgimento da consciência nos organismos vivos, e vai haver outro depois. E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá. Deus sabe que é isso o que todo mundo faz.
Eu tinha aprendido aquilo com meu já citado terceiro melhor amigo, Peter Van Houten, o autor recluso de Uma aflição imperial — de todos os meus livros, o mais próximo de uma Bíblia. Peter Van Houten era a única pessoa que eu conhecia que parecia: (a) entender o que era estar morrendo, e (b) não ter morrido.
Assim que terminei fez-se um longo silêncio, e eu pude ver um sorriso se abrindo de um canto ao outro no rosto do Christopher — não o tipo de sorriso cafajeste do garoto tentando parecer sexy ao me encarar, mas um sorriso sincero, quase maior que a cara dele.
— Caramba! — disse ele baixinho. — Não é que você é mesmo demais?
Nós dois não falamos mais nada até o fim da reunião, quando todos se deram as mãos e o Patrick nos guiou em uma prece.
— Senhor Jesus Cristo, estamos aqui reunidos em Seu coração, literalmente em Seu coração, como sobreviventes do câncer. O Senhor e somente o Senhor nos conhece como conhecemos a nós mesmos. Nos guie pela vida e para a Luz em nossos períodos de provação. Oremos pelos olhos do Eddy, pelo sangue do Michael e do Jamie, pelos ossos do Christopher , pelos pulmões da Dulce, pela garganta do James. Oremos para que o Senhor consiga nos curar e para que possamos sentir Seu amor e Sua paz, que excedem todo o entendimento. E nos lembremos em nossos corações daqueles que um dia conhecemos, amamos e que foram para a Sua casa: Maria, Kade, Joseph, Haley, Abigail, Angelina, Taylor, Gabriel…
A lista era grande. Tem muita gente morta no mundo. E enquanto o Patrick continuava a ladainha, lendo a relação em uma folha de papel porque era muito comprida para ser decorada, fiquei de olhos fechados, tentando elevar os pensamentos em oração, mas a maior parte do tempo imaginava o dia em que meu nome ocuparia um lugarzinho ali, bem no fim da lista, quando ninguém mais está prestando atenção.


r: r�[7 ��膥 font-family: Calibri; font-size: 17px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 23.799999237060547px; orphans: auto; text-align: start; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px; -webkit-text-stroke-width: 0px; display: inline !important; float: none; background-color: rgb(255, 255, 255);">"Me tornando parte do grupo."
Olhei na direção do Christopher Uckermann, que me encarava. Dava quase para ver através dos olhos dele, de tão azuis.
— Vai chegar um dia — eu disse — em que todos vamos estar mortos. Todos nós. Vai chegar um dia em que não vai sobrar nenhum ser humano sequer para lembrar que alguém já existiu ou que nossa espécie fez qualquer coisa nesse mundo. Não vai sobrar ninguém para se lembrar de Aristóteles ou de Cleópatra, quanto mais de você. Tudo o que fizemos, construímos, escrevemos, pensamos e descobrimos vai ser esquecido e tudo isso aqui — fiz um gesto abrangente — vai ter sido inútil. Pode ser que esse dia chegue logo e pode ser que demore milhões de anos, mas, mesmo que o mundo sobreviva a uma explosão do Sol, não vamos viver para sempre. Houve um tempo antes do surgimento da consciência nos organismos vivos, e vai haver outro depois. E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá. Deus sabe que é isso o que todo mundo faz.
Eu tinha aprendido aquilo com meu já citado terceiro melhor amigo, Peter Van Houten, o autor recluso de Uma aflição imperial — de todos os meus livros, o mais próximo de uma Bíblia. Peter Van Houten era a única pessoa que eu conhecia que parecia: (a) entender o que era estar morrendo, e (b) não ter morrido.
Assim que terminei fez-se um longo silêncio, e eu pude ver um sorriso se abrindo de um canto ao outro no rosto do Augustus — não o tipo de sorriso cafajeste do garoto tentando parecer sexy ao me encarar, mas um sorriso sincero, quase maior que a cara dele.
— Caramba! — disse ele baixinho. — Não é que você é mesmo demais?
Nós dois não falamos mais nada até o fim da reunião, quando todos se deram as mãos e o Patrick nos guiou em uma prece.
— Senhor Jesus Cristo, estamos aqui reunidos em Seu coração, literalmente em Seu coração, como sobreviventes do câncer. O Senhor e somente o Senhor nos conhece como conhecemos a nós mesmos. Nos guie pela vida e para a Luz em nossos períodos de provação. Oremos pelos olhos do Isaac, pelo sangue do Michael e do Jamie, pelos ossos do Augustus, pelos pulmões da Hazel, pela garganta do James. Oremos para que o Senhor consiga nos curar e para que possamos sentir Seu amor e Sua paz, que excedem todo o entendimento. E nos lembremos em nossos corações daqueles que um dia conhecemos, amamos e que foram para a Sua casa: Maria, Kade, Joseph, Haley, Abigail, Angelina, Taylor, Gabriel…
A lista era grande. Tem muita gente morta no mundo. E enquanto o Patrick continuava a ladainha, lendo a relação em uma folha de papel porque era muito comprida para ser decorada, fiquei de olhos fechados, tentando elevar os pensamentos em oração, mas a maior parte do tempo imaginava o dia em que meu nome ocuparia um lugarzinho ali, bem no fim da lista, quando ninguém mais está prestando atenção.



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Autor(a): vondy321

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 7



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  • lara_11 Postado em 22/06/2014 - 19:49:32

    Contunuaaaaahhhh

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 17:47:27

    Continuahhhhhhhh.........

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 16:10:37

    Cntinuahhhhh..... continuahh.... ;)

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 09:56:06

    Ta mt boa sua fic ta mt top.... pf posta... <3

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 09:52:17

    Continuahhh....... <3

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 09:51:28

    Post postta... <3

  • lara_11 Postado em 19/06/2014 - 09:49:34

    Postaaaaa... pf...


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