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Parte IV

Foi então que a sugestão lamentável de Laura fez com que abrisse os olhos e se empertigar no banco, muito tensa. Sem perceber o par de olhos escuros que a observavam, tentou desesperadamente pensar em uma solução.
— Algo errado? — Christopher indagou.
— Não, nada.

Dulce sacudiu a cabeça, perguntando-se como poderia dizer a ele que sua respeitável secretária executiva seria capaz de entregar a própria sobrinha para adoção, em vez de partilhar a responsabilidade por seu bem-estar. Francamente! Tal sugestão era, simplesmente, imoral!
Ainda assim, Dulce pensou com tristeza, havia se declarado disposta a considerar tal possibilidade.
As lágrimas secaram à medida que outras coisas começaram a invadir sua consciência. Uma delas foi a constatação de que estavam no bairro rico em que havia morado até três anos antes. Franzindo o cenho em confusão, virou-se e deparou com o olhar misterioso de Christopher fixo em seu rosto.
— Este não é o caminho para o meu apartamento —declarou.
— Não. É o caminho da minha casa — ele replicou, impassível.
Dulce imobilizou-se, como se houvesse recebido uni choque elétrico.
— Seu motorista vai deixá-lo lá, antes de me levar —arriscou, decidindo ser essa a melhor explicação.
— Não. Vocês duas irão comigo para a minha casa.
— Por quê? Tia Laura estará lá?

Houve uma longa pausa, enquanto os olhos escuros continuavam fixos nos dela, mas Christopher não respondeu. Dulce descobriu-se a pensar que ele tinha um rosto bonito, com e traços bem desenhados na pele cor de oliva. Era uma pena que o conjunto se estragasse sob a máscara de frieza...
Deu-se conta de que ele ainda não respondera à sua pergunta, mas não pôde insistir, pois a limusine parou.
— Chegamos — Christopher anunciou, ao mesmo tempo em que se inclinava para soltar o cinto de segurança de Dulce.
No mesmo instante, ela sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, o coração disparar, e forçou-se a pressionar as costas contra o banco, a fim de evitar o contato.
— Fique calma — ele murmurou. — Acredite, não tem nada a temer de mim.
Não? Dulce adoraria poder acreditar nisso. Uma hora antes, teria acreditado, mas desde então, algo havia se alterado naquele homem. E o que mais a apavorava era o fato de não compreender o significado daquela mudança.

Nikos, o motorista, abriu a porta e estendeu-lhe a mão para ajudá-la a sair do carro. Tomada pela mais pura teimosia, Dulce recusou a oferta de ajuda e saiu sozinha. Infelizmente, o esforço provocou dores por todo o seu corpo, forçando-a a apoiar-se na lateral da limusine, em busca de equilíbrio. Então, virou-se e observou Nikos retirar Maite de sua cadeirinha, enquanto Christopher aguardava ao lado dele, para receber a menina nos braços.
Ao ver o bebê adormecido, confortavelmente embrulhado no xale de crochê que sua mãe confeccionara com tanto carinho, Dulce foi tomada por uma forte onda de ciúme e desejou poder arrancar a criança dos braços daquele desconhecido.
Como se houvesse percebido o ressentimento dela, Christopher virou-se com olhar frio.
— Está tudo bem? — inquiriu.
“Não”, Dulce pensou, “não está tudo bem. Quero que me dê minha irmãzinha e me deixe ir para casa, porque meus instintos me dizem que não devo ir a lugar algum com você.”

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