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dedicado á natyvondy e dulvonuckermann

Parte VI

Christopher calou-se e, durante alguns minutos, o único som no escritório era da respiração ofegante de Dulce, que continuava sua batalha contra a dor lancinante. Quando finalmente venceu a luta, deixou-se apoiar no corpo forte. E foi então que se deu conta de alguns detalhes sobre ele. Como, por exemplo, o peito largo e musculoso, que servia de almofada para seu rosto, e a cintura esbelta, onde sua mão esquerda pousara. Christopher era um homem grande, forte, cujo perfume sutil a envolveu por completo, intoxicando-a.
— Sente-se melhor, agora? — ele perguntou, pondo um fim ao breve momento de encanto.
— Sim, estou bem, obrigada — Dulce respondeu, endireitando-se.
Christopher recuou um passo, deixando as mãos caírem ao lado do corpo, mas permanecendo muito próximo, para o caso de ela fazer mais alguma tolice.
— A mamadeira de Maite — ela se lembrou de súbito.
— Eu não trouxe nenhuma. — Assim como não levara fraldas, ou roupinhas. — Preciso ir para casa.
— Encontrará tudo o que precisa, aqui.
Ora, o que significava isso? Seria possível que ela teria de enfrentar ainda mais uma batalha?
— Não me diga que mandou comprar um enxoval completo, junto com a cadeirinha! — suspirou.
Ele não se deu ao trabalho de responder.
— Vou levá-la até a cozinha, onde poderá mostrar a Lefka o que fazer.

Enfrentar Christopher era, decididamente, o mesmo que confrontar um soldado armado, protegido por um tanque de guerra! Quando não se interessava por uma determinada questão, ele simplesmente passava por cima dela.
— Vá na frente — Dulce murmurou, resignada, permitindo que ele tivesse aquela pequena vitória.., pelo bem de Maite, claro.
A cozinha era o sonho de qualquer dona de casa, com armários por todos os lados e todo tipo de eletrodomésticos. Os aromas que se erguiam das panelas eram apetitosos, lembrando Dulce que ela estava faminta.
Uma jovem de cabelos pretos, mais ou menos da mesma idade de Dulce, encontrava-se perto da mesa, onde repousava um cesto de bebê. Quando Dulce se aproximou do cesto, ansiosa, a moça afastou-se em silêncio.
Maite estava deitada, acordada e olhando em volta com ar curioso. Fora trocada e usava um macacão novo, em uma tonalidade de rosa suave, que realçava sua pele cor de oliva, assim como os finos cabelos negros.
Nada na menina lembrava a mãe falecida, Dulce notou com tristeza. As lágrimas ameaçaram escapar ao seu controle, como sempre acontecia, quando pensava na mãe.

— Por favor — pediu ao homem parado ao seu lado, — preciso segurá-la por alguns momentos. Pode me ajudar?
O bom senso lhe dizia que seria loucura tentar se abaixar para tomar Maite e nos braços.
— Claro — Christopher respondeu de pronto, já se inclinando e apanhando o bebê. Então, fez uma pausa, indeciso. — Como vai segurá-la? — indagou. — Não pode forçar as costelas.
Olhando em volta, Dulce decidiu que o melhor a fazer seria sentar-se. Assim, poderia usar a mesa como apoio para o braço esquerdo.
Assim que se sentou, Maite foi acomodada em seu braço, que Dulce apoiou na mesa. Com um suspiro trêmulo, inclinou-se e roçou os lábios na face rosada do bebê.
Diante daquela cena, somente um cego não perceberia quanto Dulce amava aquela criança. Christopher não era cego, e emocionou-se tanto, que Dulce teria ficado chocada se houvesse erguido os olhos para ele, naquele momento, pois a emoção transformou-se em uma raiva, tornando seu semblante ainda mais frio, quase assustador.