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Parte V

Um longo momento de silêncio se seguiu. Dulce estava atordoada demais para falar, e era evidente que Christopher continuava furioso.
Afinal, fora a raiva que o fizera beijá-la, e ela reconhecera o sentimento de pronto, pois ele a informara sobre sua péssima reação a desafios.
— Se fizer isso de novo, arrancarei seus olhos — ela sibilou.
— Antes ou depois de mostrar seu corpo para mim?
Ah, ele era mesmo diabólico! Se suas pernas não estivessem tão trêmulas, Dulce teria mesmo arrancado os olhos ele. No entanto, o impulso destrutivo se desfez no momento m que ela se lembrou da sensação provocada pelo olhar dele, durante o breve beijo.
Temendo encará-lo novamente, por não saber se seria paz de controlar a própria reação, Dulce pôs-se a olhar volta, tentando lembrar-se do que estava fazendo, quando se deparara com Christopher.
Viu a toalha caída no chão, mas sabia que não conseguiria apanhá-la para terminar de secar os cabelos, por causa das telas. Assim, foi até a penteadeira e apanhou uma escova cabelos.
Christopher permaneceu de costas.

— Por que entrou aqui, afinal? — Dulce inquiriu, precisando quebrar o silêncio a qualquer custo.
Ele se virou, tenso e rígido, e Dulce quase riu diante dele. Ao mesmo tempo, deu-se conta de que, dessa vez, não iria um pedido de desculpas.
Percebendo o brilho do humor nos olhos dela, Christopher ficou ainda mais furioso, e suas faces se avermelharam. Divertindo-se com a situação, Dulce ergueu uma sobrancelha esperando para saber como ele lidaria com a perda instantânea do autocontrole.
Reconhecendo exatamente o que se passava na mente ele emitiu um longo suspiro.
— Como estão as suas costelas?
Ah, a velha tática da mudança de assunto!
— Doloridas — ela respondeu com sinceridade.
— E o punho?
— Latejando.
— Então, creio que fiz bem em vir aqui para lhe dar isto —Christopher falou, exibindo um vidro escuro. — É o analgésico que lhe deram no hospital. Eu me esqueci que estava em meu bolso. — Depois de colocar o vidro sobre um móvel, perguntou: — Onde está a sua tipóia?
Dulce baixou os olhos para o braço engessado.
— Devo tê-la deixado no banheiro — disse.
Sem dizer nada, mas recuperando a compostura, assim como a atitude arrogante, Christopher foi até o banheiro e apanhou a tipóia.
Quando se aproximava de Dulce, fez uma pausa, pensou um pouco e, então, inquiriu em tom irônico:
— Posso?
Ela assentiu, dando-lhe permissão para se aproximar colocar a tipóia em seu pescoço. Ao acomodar o braço engessado em uma posição adequada, Christopher comentou:
— Conseguiu tomar banho sem molhar o gesso.

— Sou uma garota esperta — ela replicou em tom casual.
— E, às vezes, muito inconseqüente e ingênua.
— Não entendo como pode tirar tantas conclusões sobre mim, tendo me conhecido há poucas horas!
Em seguida, Dulce trocou a brincadeira sarcástica por um gemido de dor. Os olhos negros e misteriosos perderam imediatamente sua frieza, passando a exprimir genuína preocupação.
— Está sentindo muita dor? — ele perguntou com suavidade
— Um pouco — Dulce mentiu.
— Onde dói?
— O corpo inteiro — ela confessou, mais uma vez à beira das lágrimas.