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Parte II

— Você só tem vinte e um anos! — Laura prosseguiu. — Até um mês atrás, era estudante. Agora, abandonou a faculdade, mas não tem um emprego e, conseqüentemente, não dispõe de meios para sustentar a si mesma e menos ainda, um bebê! Não tem dinheiro sequer para pagar o aluguel deste lugar horrível!
— Conseguirei um emprego — Dulce retrucou, orgulhosa.
— Para fazer o quê? — Laura desafiou. — Vai ser garçonete ou faxineira, quando deveria estar fazendo o que sua mãe sempre sonhou, que é obter o seu diploma? E quem vai cuidar de Maite? Uma babá custa caro, Dulce. O dinheiro que sua mãe deixou mal deu para as despesas do enterro.
— Tenho meus direitos! Com certeza, o Estado vai me ajudar!
—Claro que vai — a tia concordou, — mas somente no que for absolutamente necessário. E Maite também tem direitos. Acha que ela vai sentir gratidão por você tê-la criado na pobreza, quando ela poderia crescer em meio a pessoas capazes de lhe dar tudo?

A brutalidade das palavras da tia atingiram em cheio a alma já dilacerada de Dulce. e ela se sentiu mais confusa do que nunca. Por instantes perguntou-se se seria melhor para Maite entregá-la para adoção, começando a enxergar
O futuro através dos olhos da menina. E viu-se obrigada a admitir que Laura poderia estar certa. Maite não teria motivos para agradecê-la, se fosse condenada à vida pobre que Dulce lhe daria.
Em silêncio, atravessou a sala e acomodou o bebê adormecido no berço. Estava tão magra que suas roupas pareiam pertencer a outra pessoa.
Porém, poucos meses antes, Maite ainda não havia nascido, e sua mãe ainda estava ali, esperando com alegre ansiedade pelo nascimento da nova vida que, para ela, representava um novo começo.
Três anos antes, Dulce era a filha mimada de um casal diz. Então, seu pai se suicidara, incapaz de enfrentar a falência de seus negócios, que o deixou sem nada. Haviam perdido a casa, a mobília, e até mesmo boa parte das roupas, que fora vendida, a fim de pagar os credores. Mudaram-se de Holland Park, um bairro rico de Londres, para East End, onde Dulce continuava vivendo, agora.
Victoria Stenson nunca conseguira se recuperar por cometo da maneira como o marido a abandonara em meio a n verdadeiro caos. E, para piorar, vira os supostos amigos desaparecerem. Dulce tivera de deixar a escola particular onde estudava, para cursar o último ano do colégio na escola pública do bairro e, assim como a mãe, perdera todos os seus amigos.
Haviam sido tempos difíceis, que deixaram Victoria desiludida e amarga. Ela tivera de procurar um emprego, o que, depois de vinte anos no papel de esposa de um empresário bem-sucedido, não fora fácil. Por mais estranho que pudesse parecer, fora Laura quem a ajudara a conseguir um emprego de vendedora em uma butique de alta moda.

Victoria sempre fora uma mulher muito elegante. Alta e esbelta, com cabelos loiros-escuros, aos quarenta e dois anos de idade, ainda era muito atraente e provara ser extremamente eficiente em seu trabalho. Por isso, quando a dona da butique adoecera e se vira impedida de viajar para Madri, conforme havia planejado, para visitar um de seus fornecedores, ela não hesitara em mandar Victoria em seu lugar.
Quando Victoria voltara para casa, parecia feliz, relaxada, em paz consigo mesma. Duas semanas depois, o motivo de tudo isso fora revelado.
— Estou grávida — Victoria anunciara.
Oito meses mais tarde, Maite havia nascido, com sua pele cor de oliva e cabelos negros, que chegavam a parecer cômicos, quando comparados às tonalidades claras da mãe e da irmã. E fora amor à primeira vista o que unira aquelas três mulheres.

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