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CAPÍTULO 4
Parte I
— Quer se casar comigo? — Dulce repetiu, incrédula.
No mesmo instante, concluiu que ouvira mal, e soltou uma risada nervosa. E se arrependeu de pronto ao perceber que sua reação o atingira com força e crueldade.
Ora, ele estava falando sério! A constatação fez seus joelhos vergarem, e ela tratou de se sentar em uma poltrona.
— Por favor, não me entenda mal — Christopher disse, recuperando a dignidade. — Não estou sugerindo um relacionamento íntimo. Seria um casamento de conveniência. Precisaríamos apenas manter a aparência de um casal apaixonado e feliz.
Ao mesmo tempo em que repetia mentalmente que não haveria intimidade entre eles, Dulce lembrou-se do beijo trocado em seu quarto, horas antes.
— É claro que tomarei as providências necessárias para que nosso... contrato seja vantajoso para você — ele continuou com frieza. — Acredito que as vantagens de ser casada com um homem rico não precisam ser mencionadas. Além isso, não teremos de ficar casados pelo resto da vida, embora eu faça questão de me tornar pai de Maite, legalmente. Do contrário, não vai dar certo.
— O que não vai dar certo? — Dulce perguntou, atordoada.
— Só posso fazer essa revelação, se você aceitar a minha proposta, mas se Maite se tornar minha filha, terá o futuro garantido, o que só pode ser bom para ela, uma vez que será minha única herdeira. E, quando você decidir me deixar para viver a sua vida, não partirá de mãos vazias.
A mente de Dulce começava a clarear. Finalmente, compreendeu o que ele estava dizendo: Christopher queria Maite, mas se não podia tê-la sem Dulce, estava disposto a aceitá-la.
— Acho que você está louco — declarou — Nem me conhece!
— Costumo confiar na minha primeira impressão das pessoas, — e gosto de você, Dulce. Na verdade, admiro-a por ter conseguido enfrentar tantas dificuldades, sem ajuda de ninguém.

— Tenho ajuda! — ela mentiu, furiosa por ele parecer ler todos os seus pensamentos.
— Está se referindo a este tipo de ajuda? — Christopher indagou, retirando do bolso um pacote de notas.
Dulce demorou alguns segundos para reconhecer o que via.
— Esse é o dinheiro que tia Laura me deu?
— Você o deixou cair, quando desmaiou, no seu apartamento — ele explicou. — Apanhei o dinheiro e guardei-o no bolso. Mais tarde, contei as notas. Há exatamente cem libras, aqui. Mesmo sabendo da situação terrível em que você se encontra, que deve quase quatro vezes esse valor de aluguel, e que precisa comer e alimentar sua irmã, sua tia só lhe deixou isso.
Para Dulce, que não tinha nada, cem libras representavam uma fortuna! Mas era óbvio que, para aquele homem, não. A maneira como ele jogou o dinheiro na mesa deixou claro o seu desprezo e contrariedade.
— Na verdade, ela estava tentando pressioná-la, para que você começasse a encarar a sugestão dela de maneira mais favorável. Consegui que ela confessasse isso, enquanto você estava inconsciente.., e ela tentava me explicar por que suas únicas parentas viviam em uma pocilga como aquela.
Dulce fechou os olhos, pois a palavra “pocilga” atingiu-a como uma bofetada.
— Então, você já sabia da proposta dela, antes que eu lhe contasse — concluiu, sentindo-se tola por ter acreditado no interesse que Christopher havia demonstrado por ela, durante o jantar.
— Desculpe-me se isso a ofende, mas é importante você ter em vista o que é melhor para você mesma e para Melanie. E, se tiver de escolher entre entregar a menina para adoção e aceitar a minha proposta, creio que sou a sua melhor opção.
— Ah, sim, sem dúvida! — ela exclamou, pondo-se de pé. — Quero o meu bebê e quero ir para casa — informou-o com frieza igual à dele.