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Parte III

— Deveria perguntar a si mesma por que tem tanto medo de aceitar o que estou lhe oferecendo.
— Já sei a resposta. Porque sinto que é errado... e porque sou jovem demais para esse papel.
— Ou eu sou velho demais?
Ora, ali estava um homem que jamais envelheceria.
— Quantos anos você tem, afinal? — Dulce inquiriu. — E não me dê o tipo de resposta antipática que deu da outra vez. Se quer que eu considere a sua proposta, deve ao menos fornecer as informações que julgo necessárias.

— Trinta e seis — Christopher respondeu e ficou visivelmente perturbado pela reação de surpresa de Dulce.
— Isso é loucura — ela murmurou com um suspiro. Mais louco ainda era o fato de Dulce estar começando a ceder. Não teria mais preocupações, nem enfrentaria dificuldades, vivendo em um lugar que detestava, sem a menor perspectiva de melhorar de vida. E, ainda, tinha de considerar o fato de que Maite teria tudo o que precisasse e quisesse... se Christopher estivesse sendo sincero.
Admitindo tratar-se de uma oferta muito sedutora, Dulce tocou de leve o galo na testa, pois sua cabeça voltara a latejar.
Christopher notou o gesto e, imediatamente, foi tomado pela preocupação.
— Está evidente que você teve um dia duro — murmurou. — Vamos descansar, agora. Voltaremos a conversar amanhã, quando você estiver se sentindo melhor.
Ele tinha razão, mas Dulce sacudiu a cabeça.
— Não. A menos que resolva tudo isso agora, sei que não vou conseguir dormir. — Ergueu os olhos para fitá-lo. Poderia, por favor, explicar por que precisa de uma esposa e de um bebê?
Christopher fez uma pausa, antes de indagar em voz muito baixa:
— Está dizendo que vai aceitar a minha proposta?
— Estou pensando nisso — Dulce confessou com honestidade.

— Então, enquanto você pensa, também vou pensar em contar por que quero que se case comigo.
Bem, ele parecia gostar de brincar de gato e rato.
— Nesse caso, tenha uma boa noite — ela falou, virando-se para a porta.
— A propósito, gosto dos seus cabelos. A tonalidade é, simplesmente, maravilhosa.
— Obrigada — Dulce balbuciou, embaraçada e ligeiramente confusa.
— Não são loiros, nem ruivos — Christopher observou. —Trata-se de uma mistura fascinante dos dois... Gostaria de saber que tonalidade vão adquirir, ao pôr-do-sol da Grécia.
— Nunca estive na Grécia.
— Vai adorar — ele prometeu. — Os dias são ensolarados e as noites, muito agradáveis. Você vai ter de proteger a pele clara contra o sol forte, mas a pele de Maite não apresentará problemas. Seja qual for a nacionalidade do pai dela, ele a presenteou com a pele morena, típica do Mediterrâneo.
— O pai dela era espanhol — Dulce informou-o e, no mesmo instante, uma nova idéia cruzou-lhe a mente. — É por isso que a quer? Por Maite possuir o tom de pele perfeito para se passar por sua filha legítima?
Christopher sacudiu a cabeça, com um raro brilho de humor no olhar.
— Tendo uma esposa inglesa, de pele clara e cabelos loiros, eu poderia ter uma filha parecida com a mãe.
Dulce franziu o cenho, começando a ficar realmente irritada com o mistério.
— Bem — começou, dando de ombros — vou...
— Minha família está me pressionando para que eu me case de novo e tenha um herdeiro.
A revelação repentina surpreendeu-a. Quando pensava que começava a conhecer aquele homem, descobria uma nova faceta de sua personalidade.

— Já escolheram minha noiva — ele continuou — e a pressão aumentou, pois minha avó está muito doente. Ela quer segurar o bisneto nos braços antes de morrer. Como sou o único neto, cabe a mim realizar seu desejo.