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Parte IV

— Acho que você é linda — ele corrigiu com sua voz profunda, estendendo a mão para acariciar-lhe a face. Então, virou-se e afastou-se, da maneira abrupta que já começava a se tornar familiar. — Divirta-se — sugeriu.
E desapareceu pela porta de comunicação entre os quartos, deixando Dulce petrificada, a mão trêmula pousada no ponto onde os dedos dele haviam estado, segundos antes. Seus pensamentos estavam fixos na expressão terrível que vislumbrara pouco antes de ele se virar e sair. Sentira uma dor tão grande, que tivera o impulso de correr atrás de Christopher, atirar-se nos braços dele, e dizer-lhe que não devia ficar tão triste, pois ela o amava. Com certeza, isso faria alguma diferença...
Dulce arregalou os olhos. Estaria mesmo se apaixonando por ele?
Um homem apanha você no meio da rua, ela pensou, cuida de você e a leva para sua casa. Então, põe um fim a todos os seus problemas, e cria uma porção de outros. E você decide que esse é o homem certo por quem se apaixonar?
Vendida,Dulce zombou de si mesma, pelo preço de uma mansão e um guarda-roupa repleto de roupas caras e elegantes, ao homem frio e calculista, de temperamento terrível, por quem ela estava se apaixonando!
Bem... Ergueu o queixo, preparando-se para travar uma batalha consigo mesma, e marchou até a porta de comunicação e abriu-a.
— Quero falar com tia Laura — anunciou sem preâmbulos. E descobriu exatamente como ele havia se sentido, quando ela saíra do banheiro usando apenas um robe aberto sobre o corpo nu.
Ora, disse a si mesma, enquanto tentava recuperar o controle sobre o próprio corpo, ele não estava exatamente nu. Porém, a cueca de seda preta, a única peça de roupa que ele ainda não havia tirado, não escondia muita coisa.
Ao menos, não escondia os músculos viris das coxas grossas, ou do peito largo, nem os pêlos negros que cobriam a pele cor de oliva. Se o visse assim, Atlas teria morrido de inveja!
— Saia daqui! — ele vociferou.
Dulce deu um pulo e saiu do quarto com a velocidade de um raio. Fechou a porta atrás de si e, então, encostou-se na parede ao lado e fechou os olhos, desejando poder voltar no tempo, apenas trinta segundos.
O que não era possível, claro. Na verdade, não teve sequer alguns minutos para se recompor, antes que a porta voltasse a se abrir com um estrondo.
Christopher olhou em volta e, ao descobri-la grudada na parede, com os olhos fechados, postou-se diante dela, colou as duas mãos na parede e aproximou-se, mais parecendo um cavaleiro vingador, em busca de uma vítima.

— O que tem na cabeça para invadir meu quarto desse jeito? — inquiriu, furioso.
— Eu sinto muito — ela balbuciou, sem abrir os olhos. — Não pensei no que estava fazendo. Eu apenas...
— Não pensou? — ele a interrompeu. — Tem idéia de como chegou perto de criar um enorme embaraço para nós dois?
— Por favor, desculpe-me.
Dulce mordeu o lábio e cerrou o punho esquerdo, tentando desesperadamente livrar-se da imagem que ficara impressa em sua mente.
Christopher suspirou.
— Pequena tola — murmurou, parecendo já ter desabafado toda a sua ira. — Da próxima vez, bata e espere ser convidada a entrar, antes de abrir a porta. Assim, vai nos poupar de rubores desnecessários.
— Sim, senhor — ela teve a presença de espírito de soar bem-humorada.
Após um breve momento de silêncio, Christopher soltou uma gargalhada.
— Está se sentindo bem? Nunca vi alguém ficar tão vermelha! Imagino que você nunca tenha visto um homem nu, antes.
Ora, ele a estava provocando!

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