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Parte II
— Ela parece renovar a energia, quando tem a chance de me provocar — disse.
— Sim, eu percebi — Dulce murmurou.
— Sei que vovó é rude, mas ela sente o peso de sua atual impotência e, por isso, torna-se...
— Rude — Dulce completou. — Ao menos, assim, ela consegue fazer com que a ouçam.
— Exatamente — Christopher confirmou, parecendo aliviado ao saber que ela compreendia a situação a pobre velha. —Mas ela não tem a menor intenção de magoar alguém. E, como ela certamente vai lhe dizer, não tem tempo nem energia para descobrir o que quer saber por meios velados e sutis. Por isso, vai direto ao ponto. Ela não quis ofendê-la, ao falar de seus pais.
— Não me ofendi. Na verdade, gostei dela.
— Bom.
Quando chegaram ao final do corredor, onde um arco levava à outra ala da casa, Dulce deu um passo para o lado, para que ambos pudessem passar ao mesmo tempo. Seus corpos se tocaram, e foi como se uma bomba explodisse. Dulce perdeu o fôlego e teve a impressão de que o mesmo aconteceu com Christopher. Tentou quebrar a tensão, afastando-se dele, mas a mão grande e forte que pousou em suas costas a impediu. No momento seguinte, estavam colados um ao outro, perdidos em um beijo ardente.

De nada adiantaria fingir que aquele beijo significava qualquer coisa que não fosse o mais puro desejo. Até mesmo Dulce, com toda a sua inexperiência, reconheceu isso. Assim como reconheceu o próprio desejo, que a tornava incapaz de reagir. Na verdade, não queria reagir, lutar ou fugir. Queria entregar-se por completo, deixando que Christopher lhe ensinasse tudo sobre aquele tipo de paixão que ela jamais experimentara antes.
As mãos dele passeavam por seu corpo, pressionando-a contra si, para que ela sentisse a prova do desejo que se apossara dele. Dulce descobriu não apenas sensações novas, mas também, partes de seu corpo que ela nem sabia o quanto eram sensíveis.
De repente, uma porta se abriu em algum ponto do corredor deserto. Os dois se separaram de pronto, como dois adolescentes apanhados em atitude suspeita.
Ligeiramente atordoado e visivelmente contrariado, Christopher resmungou em grego, enquanto usava o corpo para esconder Dulce de quem quer que estivesse atravessando o corredor, para logo desaparecer através de outra porta.
Aquela altura, ela se deixara apoiar na parede, de olhos fechados, o coração parecendo prestes a saltar do peito. Então, Christopher afagou-lhe os cabelos e a face.
— Não se culpe pelo que acabou de acontecer — sussurrou.
Como ele podia pensar que ela estava se culpando? Irritada, Dulce fixou os olhos no chão e não disse nada. Após alguns segundos de silêncio, ele suspirou e se afastou.
— A culpa é toda minha — admitiu. — Sinto-me fortemente atraído por você. Mas.., pode confiar em mim, pois não permitirei que isso escape ao meu controle.
Confiar? Momentos antes, nenhum dos dois tinha controle de coisa alguma! E a situação piorava a cada beijo que trocavam.
— Não costumo seduzir virgens inocentes — ele acrescentou, como se quisesse reassegurá-la.

Sem saber de onde vinha a sua força, Dulce empurrou-o com violência, antes de seguir pelo corredor com passos pesados. Só sabia que fora a palavra “inocente”, pronunciada em tom condescendente, a gota de água que faltava para a sua explosão.
Já em seu quarto, andando de um lado para outro, furiosa, não se sentia inocente, mas sim inquieta, ansiosa e profundamente excitada.
Não fosse por Lissa, que bateu na porta, oferecendo-se para levá-la ao berçário, Dulce teria começado a atirar objetos nas paredes, a fim de descarregar sua frustração.
Enquanto ia ao encontro de Maite, repetia para si mesma que odiava Christopher com todas as suas forças.
E usou as duas horas seguintes para se preparar para encará-lo no jantar, mas quando desceu, descobriu que ele havia fugido.
— Tinha um jantar de negócios — uma criada informou.
Ora, já deveria esperar por isso, Dulce pensou. Afinal, já conhecia aquela tática. Sempre que realizava um avanço ousado, Christopher imediatamente batia em retirada, temendo que ela desistisse daquele plano maluco, caso ele ficasse por perto.