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Dedicado a Luanna!

Parte IV

Dulce permaneceu imóvel, os olhos fixos no pacote de notas, que era o preço de sua traição. Estendeu a mão trêmula e apanhou o dinheiro, a fim de saber exatamente quanto sua traição valia, mas algo caiu de dentro dele.
Ao reconhecer o cartão de crédito da tia, Dulce saiu correndo do apartamento e desceu a escada depressa, segurando o dinheiro em uma das mãos, e o pequeno retângulo de plástico dourado na outra.
O vento gelado atingiu-a em cheio, quando ela abriu a porta da rua. Parou por um instante, olhando para todos os lados, à procura da figura distinta de Laura, sentindo o corpo todo tremer, uma vez que a fina blusa de algodão que vestia não oferecia a menor proteção contra o clima frio.
A rua era estreita, mas muito movimentada, pois interligava duas grandes avenidas. As construções em estilo vitoriano que ocupavam toda a sua extensão haviam sido, um dia, residências elegantes. Agora, porém, não passavam de prédios de apartamentos baratos.
Os automóveis velhos estacionados dos dois lados da rua refletiam o nível dos inquilinos da região. Por isso, a grande e luxuosa limusine na qual Dulce viu a tia entrar, chamou-lhe a atenção.
— Tia Laura! — ela gritou, mas o vento carregou o som para longe, antes mesmo que a porta da limusine se fechasse.
No mesmo instante, o veículo se pôs em movimento.
Sem pensar no que fazia, Dulce atravessou a rua correndo. O que aconteceu em seguida foi muito rápido. Provavelmente, Dulce se lembraria pelo resto da vida da buzina disparando muito perto dela, bem como da estranha visão dos próprios cabelos dourados agitando-se em torno de seu rosto, quando ela se virou e deparou com a caminhonete de entregas que avançava sobre ela.
Então, o som agudo do freio, o cheiro ácido de borracha queimada e os gritos de passantes tomaram conta da cena. E, ela ainda registrou na mente o horror estampado no rosto do motorista.

Dulce sentiu a pancada no lado direito do corpo, mas não a dor que deveria acompanhá-la. Quando deu por si, estava deitada no asfalto. Um desconhecido de olhos muito escuros inclinava-se sobre ela, enquanto uma voz trêmula e aflita repetia com insistência:
— Ela atravessou na minha frente! Não tive chance de evitar!
Atordoada e confusa, Dulce tentou sentar-se.
— Não se mova — ordenou urna voz grave.
— Está bem — ela murmurou, obediente.
E tudo parecia mesmo muito simples. Dulce ainda não sentia nada, não se lembrava de nada, o que lhe parecia perfeitamente natural.
— Estou morrendo, ou algo parecido? — indagou, curiosa.
— Não, enquanto eu estiver aqui para evitar — o desconhecido respondeu.