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Parte VI

Foi então que Dulce se deu conta de que o desconhecido era o patrão de sua tia. Ora, não era de admirar que Laura estivesse tão nervosa!
— Pensei ter dito para que não se movesse! — a voz grave advertiu-a.
— Estou bem... Juro — Dulce mentiu. — Não é preciso perder o seu avião. Na verdade, acho que já posso me levantar...
— Mas eu não acho — ele a interrompeu em tom autoritário. — Vai ficar exatamente onde está, até a ambulância chegar.
De jeito nenhum, Dulce pensou. Se fosse levada para um hospital, sua tia encontraria um meio de provar que ela não tinha condições de cuidar de Maite.
— Meu Deus! — murmurou consigo mesma, levantando-se de um pulo, ao se lembrar dê que havia deixado a irmã sozinha, no apartamento.
Sentindo tonturas, além de uma terrível rigidez nos músculos, teve de lutar para dominar a onda de náusea que a percorreu.
— Aonde pensa que vai? — ele inquiriu, levantando-se também,
— Preciso ir — ela respondeu.
Deu alguns passos adiante, mas logo lembrou-se do cartão de crédito que ainda tinha nas mãos.
— Aqui está — declarou, estendendo-o para a tia.
Furiosa e embaraçada, Laura apanhou o cartão sem dizer nada.
Girando nos calcanhares, na intenção de seguir para seu apartamento, Dulce se deparou com o patrão da tia, e lembrou-se de que deixara o paletó caído no asfalto.
— Ah, por favor, desculpe... — começou, já voltando para apanhar a peça de roupa do chão.
Não teve tempo de fazê-lo, pois ele chegou lá antes dela.
— Eu sinto muito — Dulce desculpou-se novamente.

Ele deu de ombros com indiferença.
— No momento, você precisa do paletó mais do que eu — disse, antes de inclinar-se para ela e sussurrar: — Está tremendo.
— Mas...
Dulce foi tomada por mais uma onda de tonturas. Além disso, seu punho doía muito, o peito parecia prestes a explodir e a cabeça começava a latejar.
Um braço gentil pousou em torno de seus ombros.
— Venha — o patrão de Laura murmurou. — Mostre-me onde mora, e eu a levarei até lá.
— Não é necessário — Dulce protestou.
— Garanto que é — ele retrucou. — Além do mais, não pretendo ir embora, enquanto não tiver certeza de que está tudo bem com você.
Ora, ele estava falando sério! E até parecia importar-se com ela de verdade. Os olhos de Dulce encheram-se de lágrimas.
— Nem foi o seu carro que me atropelou — ela protestou com voz fraca.
— Não. Foi a minha caminhonete que a atingiu — uma outra voz masculina os interrompeu. — Tem certeza de que está bem? — o motorista perguntou, genuinamente preocupado.
— Absoluta — Dulce voltou a mentir, na tentativa de confortar o homem visivelmente abalado pelo que ocorrera.

—Estou um pouco atordoada,mas é só isso. Por favor, desculpe minha atitude inconseqüente.
— Tudo bem... tudo bem — ele disse, aliviado. Mais uma vez, Dulce foi tomada por uma forte tontura.
No mesmo instante, o braço que envolvia seus ombros proporcionou-lhe o apoio necessário.
— Mostre-me o caminho, srta. Saviñon — a voz soturna comandou.