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CAPÍTULO 2
Parte I

— Como está se sentindo? — ele indagou em tom gentil, assim que Dulce abriu os olhos.
— Dopada — ela replicou.
— Precisa de algum tempo para se recuperar da anestesia. Então, se estiver se sentindo bem, poderá voltar para casa.
Animada com a idéia de ir para casa, Dulce sentou-se na cama.
— Onde está Maite? — perguntou.
Pela primeira vez, seu guardião se mostrou contrariado.
— Eu esperava que, a esta altura, você confiasse em mim para providenciar que sua criança fosse bem cuidada — retrucou com impaciência.
— Só por que tia Laura trabalha para você? — Dulce devolveu em tom de desafio, notando a tensão provocada por suas palavras. — O fato de ter sido gentil e me socorrido não significa que posso confiar em você. Não o conheço e nada garante que não é um desses maníacos que atacam jovens inocentes e vulneráveis.
Dulce arrependeu-se das palavras rudes assim que as pronunciou, mas não teve chance de se desculpar, pois ele a impediu.
— Jovem, você é — ele admitiu. — Afinal, não deve ter mais que dezoito anos. E, vulnerável, realmente está, no momento. Mas, inocente? — indagou com cinismo. — Uma mulher não pode ser inocente e, ao mesmo tempo, gerar uma criança, srta. Saviñon.

Além de ter se enganado com relação à idade dela, ele também concluíra que Maite era sua filha! Seria possível que tia Laura não houvesse contado a verdade a ele? E quem ele pensava que era, afinal, para julgá-la?
— Não tenho dezoito anos. Tenho vinte e um! — corrigiu-o, irritada. — E Maite não é minha filha. Ela é minha irmã! Nossa mãe morreu, apenas duas semanas depois de dar à luz. Se você não houvesse mandado minha tia cuidar dos seus assuntos tão importantes, ela certamente teria tido tempo de lhe explicar tudo isso, e eu não estaria aqui, sendo insultada dessa maneira! Além do mais, minha inocência, ou falta dela, não é da sua conta.
Naquele momento, a porta se abriu e uma enfermeira entrou, trazendo Maite nos braços.
— Ah, já está acordada! — ela falou com um sorriso para Dulce. Aproximou-se da cama e, com movimentos delicados, acomodou o bebê adormecido. — Ela foi alimentada, trocada e muito mimada. Portanto, não vai precisar se preocupar com ela por algumas horas. — Obrigada — Dulce murmurou. — Vocês foram muito gentis.
— Ora, não foi nada — a enfermeira declarou. — Se estiver se sentindo bem, poderá ir para casa quando quiser — informou e saiu.