E foi assim que tudo virou uma bagunça. Nos outros dias, Kevin tentava demonstrar que estava tudo bem entre a gente, era carinhoso e tentava aproveitar, mas eu sei que algo o incomodava, ele ficava muito pensativo em muitos momentos. Quando voltamos pra casa, as coisas pioraram, ele se mostrava meio aéreo no colégio , pois foi chamado atenção algumas vezes na semana. Isso ocasionou algumas brigas entre nós, duas delas bem feias. O pior de tudo é que eu sempre jogava na cara que ele ia me abandonar e tudo mais, e nossos amigos já não aguentavam. E quando vi faltavam poucos dias para Kevin ir embora. Eu tentei conversar com minha mãe sobre isso mas os amigos dela e do meu pais haviam chegado já e eles estavam por conta deles, até tentaram me obrigar a ir no jantar na "maravilhosa mansão" dos famosos Herrera , falando que eu poderia ajudar seu filho a se enturmar já que na próxima semana entraria no mesmo colégio que eu. Eu bati o pé , neguei e disse que ficaria sozinha em casa e pronto. Era um sábado a noite, e eu e Kevin tínhamos discutido por conta de Cláudia, a capitã das lideres de torcida que teve a petulância de ir hoje cedo na casa dele com um presente de despedida dela e ele aceitou! Deixou-a entrar sabendo que ela gosta dele, ou ao menos quer se esfregar nele como uma qualquer. "Maldito dia 26 de abril, só aproxima o dia 1" pensei assim que meus pais saíram. 20 minutos depois o interfone toca, e eu fui atender.
- Quem?
- Anahí, sou eu, abre.
Era Kevin, eu abri a porta e ele estava sério, muito sério.
- Oi - eu lhe dei um selinho.
Ele passou a porta e disse.
- Como está?
- Bem...Senta, eu tava vendo um filme. Aceita uma coca? - eu ergui uma lata para ele.
- Não,obrigada. Amor , er , Any, senta, precisamos conversar.
E mais uma DR de reconciliação demorada e cansativa estava para começar. Já tinha até ensaiado minhas falas dessa vez. Me sentei e nos viramos um para o outro.
- Fala. - eu disse.
- Olha, amor, não tem uma maneira fácil de falar isso, na verdade, ainda não sei nem se é certo o que eu vou dizer. - ele abaixou a cabeça por um segundo e logo a ergueu, me fazendo delirar perdida em seus olhos, querendo que a reconciliação fosse rápida para que eu pudesse beija-lo - Você tem consciência de que ultimamente, temos só brigado, mesmo tentando aproveitar esses últimos dias. Ta tudo muito pesado, não conseguimos mais ficar um dia sem um chorar pelo outro, e isso ta desgastando - e então eu travei, tentando expulsar os pensamentos mais macabros que eu poderia ter : um rompimento. -Ta me ouvindo?
- Sim, continua ... -falei aérea.
- Any, eu sei o que eu to te causando, sei que essa minha ida, ta acabando com você, e ta acabando comigo também. Não quero mais te fazer sofrer , eu juro, e é por isso que ... olha , não me entenda mal,mas acho melhor ... a gente ...
E ai eu comecei a querer chorar, eu já sabia o que ele estava tentando dizer mas estava travado na garganta. Droga! Eu virei uma garotinha de cinco anos pra chorar tanto ultimamente.
- Não Kevin! Por favor, não diga isso, não termina a frase! Você ta louco?
E virou uma enxurrada, e Kevin também deixou uma lagrima cair e passou o polegar em meu rosto tentando limpar meu rosto.
- Eu sei Any, mas a gente precisa! Eu não posso mais te fazer sofrer assim. Vai ser melhor, eu vou estar longe e você vai me esquecer.
Não, não, eu não queria esquece-lo! Eu o queria comigo! Queria casar, queria ter filhos, queria ser feliz, envelhecer, com ele! Como ele podia estar fazendo aquilo comigo? Como? Tirei sua mão do meu rosto bruscamente e meu rosto agora era de raiva.
- Any? Olha me desculpa, por favor, não é por mim, é por você! Olha só o que eu te causo! Não aguento mais te ver chorando escondida de mim, cabisbaixa, brigando. Você não merece isso!
Eu me levantei rapidamente, ainda com algumas lagrimas rolando, mas estava furiosa.
- Quer saber Kevin? Quer terminar? Ok? Quer fugir pra Africa? Ok também! Tchau, vai com Deus, seja feliz, mas não venha tentar amenizar as coisas! Sem desculpinhas por favor, você sabe que não é esse o motivo. No minimo do minimo cansou de mim. Mas tudo bem, agora, se me der licença... - eu fui em direção e porta e a abri apontando a saída, mas ele não levantou, apenas apoiou os braços no joelho com a cabeça abaixada - Kevin, você ouviu? saia !
Ele se levantou e parou em frente a mim, seus olhos estavam vermelhos, estava chorando e eu não estava muito melhor naquele momento.
- Eu te amo, e um dia , quando eu voltar, você vai entender isso. Vai entender que foi pro seu bem, pra não ter que te deixar sofrendo aqui, e esse rompimento, dói agora, mas vai passar mais rápido que a dor de ficarmos longe pensando um no outro. Se você pensa, que não me dói, dói sim, corrói o meu coração te deixar ir. Só o que eu queria era te poupar, me perdoa por isso.
Eu estava tão nervosa, triste e angustiada que só o que eu pensava era que era por causa da Cláudia, eu os deixei sozinhos quando saí com raiva, algo deve ter acontecido para ele terminar e isso só aumentou todo o sofrimento, mas consegui tirar forças para dizer.
- Tudo bem Kevin, se você quer assim, eu não ligo. Digo mais, vou acreditar que é para me poupar, mas eu te digo, eu vou te esquecer, nem que seja a ultima coisa que eu faça na vida. Você pode ir pra Africa, e fazer o que quiser por la, aqui, tanto faz, mas por favor, não me procure mais também, e digo isso sério, não venha atras de mim quando perceber a burrada que ta fazendo. Agora, tchau. Boa viagem, espero que sua vida seja maravilhosa, de verdade, que tudo corra bem com voce por lá.
Ele se ergueu e beijou minha testa, e ficou pousado la por uns segundos, e uma lágrima voltava a rolar em meu rosto e então ele me abraçou , apertado, forte, me fazendo inalar o seu cheiro embriagante e doce mas me mantive irredutível, e não correspondi, segurando a maçaneta da porta com uma mão e a outra solta sobre meu corpo enquanto ele me apertava mais, e então ele se separou e disse:
- Tchau Any. Eu... eu te amo. - E assim saiu porta a fora de cabeça baixa.
Fechei a porta eu comecei a chorar. Não era possível isso! Eu havia acabado de perder a pessoa que mais amei nos últimos três/quatro anos da minha vida! Pior, essa pessoa tinha me deixado! Podia ter me trocado! Não me amava mais! Com certeza todas aquelas palavras doces dele no rompimento era pra amenizar a culpa só pode. Meu Deus! Quantos juramentos eu fiz que nem uma idiota! Eu fui gentil, eu fui boba, eu deixei ele me conhecer sem nenhuma armadura, eu ia me casar,eu ia ... eu quase dei tudo o que tinha aquele homem! E ele aparece na minha casa querendo se livrar de mim.Eu podia estar me sentindo mais só, mais deixada de lado, abandonada do que isso?