Acordei no outro dia, tão desanimada que poderia simplesmente passar o dia todo naquela cama fogosa sem me preocupar com nada, porém, não tive sinal algum de Poncho ao meu lado, e muito menos deixou algum bilhete...Nada! Ótimo, ele está bravo. Mas a culpa também é dele oras! Ele aceitou estar ali, então não adiantava ele ser tão cheio de si quando na verdade era tão pecador quanto eu.
Estava tudo errado e eu já não sabia mais o que eu poderia fazer para inverter a situação. Eu já sabia, há anos, que Poncho não era imune a mim, mas ontem, eu tive a confirmação que um deslize da sua consciência, e eu conseguiria.
Levantei-me para fazer minhas higienes matinais, ainda sem qualquer animo, porém quando fui mexer na minha necessaire dei de cara com os comprimidos ridículos que Julie mandou - o que para mim, era um sinal claro de que a situação estava preta para o meu lado, piscando como um aviso que dizia "Inútil! Inútil!"
Mas tamanha foi a minha surpresa foi ao pega-los e ver que um havia sido tomado. Mas eu não...
Não! Não! Não podia ser! Mas que bela de uma falta de sorte a minha!
"Por acaso voce tem algum remédio pra dor de cabeça naquelas suas coisas?"
Eu quis gritar ao me lembrar dessas palavras. Poncho não tinha tomado remédio para dor de cabeça,e sim o remédio idiota da Julie! Sério, não sei o que fez para merecer isso, simplesmente nao sei! Então era justamente por isso que ele havia tomado a iniciativa ontem, apenas por isso e nada mais, só pode! Reprimi uma lágrima de cair, de tão cansada que ja estava desses joguinhos e me recompus após alguns minutos tentando organizar meus pensamentos, indo tomar meu desejum.
[...]
- Bom dia senhorita Anahi - Abdul aparece na pequena cozinha, servindo o café-da-manha. Ele puxa a cadeira para que eu me sente, um ato de muito cavalheirismo, observo. Não sei o que dizer, pois estou totalmente embaraçada pelo episodio da noite passada. - Hoje está um belo dia não é mesmo? - ele diz sorrindo. Fiquei surpresa com a sua naturalidade.
- Sim, acho que será um dia maravilhoso. - menti, pois essa era a ultima coisa que eu pensava que seria este dia. Aonde se meteu o mau-humorado do Poncho? Resolvi não perguntar, para evitar trazer a tona o embaraço do rapaz.
- Pretende fazer alguma atividade do hotel hoje? Soube que o senhor Alfonso adora pescar, hoje teremos... - Certo, não era nada justo vê-lo se esforçando para fingir estar tudo bem depois de ter sido chamado aquela hora ontem para simplesmente ficar sem graça. Eu o cortei.
- Abdul, me desculpe.- Falei rapidamente. O rapaz parou e examinou minha expressão, enquanto a sua se mantinha calma, parecendo não saber sequer do que se tratava, mas seus olhos o denunciaram.
- Perdão, não entendi. - ele falou ao me servir mais um copo de suco de melancia que eu adorava.
- Voce sabe do que estou falando Abdul. Agradeço por ter vindo aqui ontem, sei que não era seu turno, porém não podia chamar outra pessoa...Bom, obrigada de verdade e desculpe-me por qualquer inconveniente que eu possa ter causado. Na verdade, Poncho e eu não...
- Senhorita! Tudo bem, sem problemas. - ele disse querendo encerrar o assunto e eu entendi pelo seu tom de voz e apenas assenti,deixando um silencio agonizante tomar conta do local, até que ele o quebrou - Se me permite dizer senhorita Anahi, tenho á observado nestes dias que está aqui. Posso estar sendo intrometido em dizer-lhe, mas aconselho que curta esta viagem, sua estada, não tem porque se preocupar com coisas que poderão acontecer naturalmente.
Dessa vez eu não pude evitar uma expressão de perplexidade, sabia que meus olhos quase saltaram das órbitas. Quer dizer que Abdul sabia dos meus problemas ou ao menos suspeitava deles? Bom, foi o que eu entendi com suas palavras, mas não era possível uma coisa dessas!
- A senhorita está bem? Perdão, não quis ofende-la. - ele disse com uma fisionomia de preocupação estampada em seu rosto. Coitado. Tentei sorrir para amenizar as coisas.
- Não, não tem que se desculpar de nada. Diga-me Abdul, porque diz isso? - ele me olhou hesitante, parecendo travar uma batalha consigo mesmo, tentando decidir se falava ou não.Por fim ele retomou sua expressão calma e começou.
- Senhorita...
- Me chame de Annie, por favor. - falei gentilmente. Não aguentava mais ser tratada por senhorita.
- Tudo bem...Annie - ele sorriu sem graça e me serviu um pedaço de bolo da baunilha. Delicia - Respondendo a sua pergunta, fui criado em uma religião muito conservadora, voce já deve ter conhecido o modo de vida indiano, porém, este lugar aqui, apesar de também ter uma religião severa em grande parte, recebe muitos turistas e já vi pessoas em cada situação que não acreditaria se lhe contassem. O local aqui, é bastante romântico, mágico até, eu diria, mas vejo gente cada vez menos se importando sobre o que podem sentir ao lado da pessoa amada, ao estar aqui - Comecei a prestar cada vez mais atenção, enquanto fingia bebericar um café. - Pessoas que não se importam em amar ao companheiro e simplesmente apenas fazer alguma loucura, se é que me entende. Mas voce e o Senhor Herrera, são diferentes. São jovens e apaixonados, sei o que é isso, e vejo o a forma com que ele a olha e como age, não se importando em momento algum se algo pode ou não ser bom para ele contanto que a senhorita esteja feliz. - O olhei confusa desta vez não entendendo aonde ele queria chegar. - O que quero lhe dizer é que, não se preocupe com coisas que deve acontecer sem nenhum forçamento, pois o senhor Herrera te ama e fará sempre o que puder para vê-la feliz. Lhe garanto.
Não soube o que responder de imediato, porém, o agradeci pelas palavras, e logo depois, tomei a liberdade de lhe perguntar coisas sobre sua vida, as quais ele respondeu prontamente, mesmo que estivesse ainda um pouco tímido. Era um rapaz jovem, que vivia em boas condições em seu país, sendo de uma casta de comerciantes, porém, se apaixonou com uma estrangeira que visitava Bangladesh e abandonou tudo por ela ao ser advertido pela familia de que não seria tolerado um casamento entre os dois. Ambos haviam se mudado para Male, afim de construírem uma vida juntos e estavam tentando. Fiquei tocada com sua história e a forma com a qual ele lutou por ela e como enfrentavam os problemas juntos. Se uma pessoa como Abdul, que vivia um amor tão lindo, disse aquelas palavras sobre Poncho e seus sentimentos por mim, quem era eu para descordar de seus conselhos?