[Anahi narrando]
Brad entra correndo no escritório - Aí está voce tia! Me ajuda!
- O que houve? - resolvo não olhar na direção de Kevin que observa o pequeno adentrando ao local como um foguetinho. Kevin não apenas conhecia meu afilhado, como também era padrinho dele, mas o pequeno nao parecia sequer se dar conta de sua presença.
- Eu não consigo instalar o meu vídeo-game. Chegou agora?
- Vídeo game? Mas...
- O tio Poncho mandou entregarem! Me ajuda tia, ajuda logo.
- Mas meu bem, eu...Espera, andou falando com seu tio de novo?
- Hoje cedo. Vai me ajudar? Se não eu vou ligar pra ele e perguntar como faz? - Nesse momento eu ja estava entretida demais no fato de Poncho ter me ignorado ou simplesmente ter sumido. Suspirei cansada.
- Brad,olha pra tia, voce não pode ligar para o seu tio, ele esta trabalhando meu amor, está ocupado. Peça ajuda a um dos empregados, eu também estou de saída. - Olho pra sua carinha desapontada e o entendo. Era um retrato perfeito meu quando criança,em busca de atenção dos meus pais,ou de alguém próximo,mas eram sempre ocupados, sempre cheios de desculpas, tirando a graça de muitos momentos- Eu prometo brincar contigo depois, desculpa príncipe.
- Ei campeão, se quiser posso te ajudar com isso. - Kevin diz calmo com a expressão impassiva, fazendo-me dar conta de sua presença novamente.
- Quem é voce? - Brad pergunta inocentemente com uma pequena caretinha que me fez rir.
- Voce não... Ah - ele solta um longo suspiro e sorri - Meu nome é Kevin.
Eu sei o que ele estava pensando, e eu vi a esperança dele de faze-lo se lembrar dele, mas não aconteceu.
- Hm, obrigado, mas não tem graça. Eu quero o tio Poncho dinda, vou falar com ele, só ele me ajuda em tudo ... - Brad sai resmungando e antes que eu pudesse lhe dar uma bronca pela grosseria, ele ja havia ido embora como um foguete. Aposto que conseguiria falar com o tio, traidor!
- Sinto muito por isso. Voce sabe ... ele tinha três anos, não tem como se lembrar.
- Eu já percebi, percebi que muitas coisas mudaram Anahi, ele sequer lembra de mim, suponho que com voce tenha sido a mesma coisa. Sabia que voce tinha alguém, mas não sabia que ele tinha tomado conta de ...tudo! Voce sabe que eu ...
- Ei ei ei, que história é essa? Não meta meu namorado nisso! Ele não tem nada a ver com o fato do menino não ter lembrado de voce, ou seja la o que esteja lhe afligindo.
- Okay, esta certo, mas eu pensei que...
- Pensou o que?Que quando o visse eu iria chorar, te pedir pra voltar? - ironizei, sem me preocupar que pensar dessa forma talvez fosse um pouco de presunção, mas continuei firme e praticamente cuspi as palavras, não lidando com o acesso de fúria ao ouvir aquele "estranho" conhecido falar daquela forma do homem que amo. Ele não respondeu e fitou-me nos olhos pelo o que me pareceu um século, embora talvez tenham sido milésimos.Seu olhar de repente desvia para o chão. Mesmo depois de tanto tempo, eu surpreendentemente ainda conseguia compreender aquele gesto. Rio seca e balanço a cabeça incrédula - Ai, meu Deus, voce achava!
Frases foram lançadas na minha mente, frases ditas que eu sequer sabia que me acordava...
"Não me procure mais também. Não me procure quando perceber a burrada que está fazendo"
Agora eu entendia o peso daquelas palavras, e soube naquele instante, que elas soavam tão verdadeiras hoje quanto na época.
"Eu vou te esquecer, nem que seja a ultima coisa que eu faça na vida"
Eu o esqueci, literalmente, e ele deveria saber disso.
- Olha Kevin, não sei se é um prazer reve-lo, mas acho que já deu, tenho um compromisso importante em meia hora e não posso estender a conversa, nem hoje e bom...nem amanha. Estou noiva.
- Tudo bem Anahi, eu vou embora. Eu não deveria ter vindo aqui, não sei o que tinha na cabeça quando pensei nisso, tchau.
E saiu, simplesmente saiu sem nem olhar direito pra mim. Talvez eu tenha pegado pesado, mas não foi nada fácil revê-lo, e isso se evidenciou ao me deparar com as pernas moles como gelatina e as mãos tremendo.
Eu não sabia pra onde as circunstancias estavam me levando, foi a situação mais estranha em anos para mim, mas eu precisava correr para Nova York assim que possível no mesmo dia, eu precisava da unica pessoa com quem eu me sentia segura mesmo pisando num campo minado, precisava de Poncho.