Anahi estava no lugar mais lindo de todos naquela cidade. Estava se sentindo tão bem que parecia ter esquecido dos problemas de mais cedo. Vez ou outra claro, seu sorriso morria quando se pegava pensando em sua situação com Poncho, e isso se agravou a conhecer um berçário onde ficavam os bebes que lá chegavam, que apesar de uma boa estrutura, só tinham três até o primeiro ano de idade, tudo muito arrumado.
Era um lugar que emanava paz embora tivessem tantas histórias não tão felizes ali. Anahi não pode de deixar de notar a admiração com que as pessoas olhavam Kevin, da mesma forma que ela sempre o olhou, o motivo pelo qual se apaixonou por ele. Mas ali parecia algo muito distante, sua cabeça estava em outro lugar, seu coração do tamanho de uma bolinha de gude.
Até que eles chegaram a sala de recreação que estava uma bagunça, mais cheia que os dormitórios, o refeitório ou qualquer outro local. As crianças - que eram muitas - se divertiam como podiam.
- Com licença crianças! - Kevin falou ao bater na porta após já ter entrado enquanto Annie seguia ele, impassível, apenas observando o local, perguntando sobre projetos, nem parecia a Anahi Portilla que um dia ele conhecera.
E então começou um coro de chamados pelo "tio Kevin" e todos chamavam a sua atenção como podiam, através de suas brincadeiras, até Anahi mirar uma menininha de aproximadamente quatro anos, de cabelos negros com cachos longos, que normalmente não chamaria atenção, mas fez Anahi se lembrar de Poncho. A garota em nada sorria, e estava desenhando algo em uma mesa sozinha no canto da sala. Annie não se conteve e decidiu se aproximar.
- Oi, posso me sentar aqui com você ? - disse gentil abrindo um enorme sorriso para a garota que a olhou admirada. Não era para menos, Anahi parecia uma Barbie com seus olhos azuis e os cabelos loiros que hoje estavam lisos. A garota logo fez a associação de Anahi com a boneca.
- Pode. Você vai querer desenhar? - O olhar esperançoso da garota fez Annie sentir seu coração mole como nunca esteve. Não sabia dizer se era pela gravidez e o instinto maternal que estava desenvolvendo, mas quis tanto abraça-la e faze-la sorrir que não se conteve e começou a desenhar com a garota, rabiscando uma rosa.
- Meu nome é Anahi, e o seu? - disse fingindo prestar atenção no seu desenho, afim de não deixar a menina mais tímida, pois ela mal olhava para Anahi quando ela a olhava ao mesmo tempo.
- O meu é Luna. Anahi, você parece uma boneca minha.
- Sério? Muito obrigada, você também parece uma.
A partir de então Anahi e Luna começaram uma conversa interessante. A menina tinha quatro anos de idade e adorava as três espiãs demais, e hora da aventura também. Sempre que Anahi percebia que a criança estava empolgada com a conversa, acabava se retraindo, mas nos poucos momentos em que não era tímida, arrancou várias risadas de Annie que se viu encantada pela menina, como se ali só existissem as duas no meio de tanta bagunça.
- Luna, está na hora de vocês irem se aprontar para o almoço querida. A tia Mary está chamando. - Anahi sequer havia se dado conta da presença de seu ex ali, até que ele surge para chamar a garota. A verdade é que ele a observara durante um tempo com Luna, tentando entender o que ocorria ali.
Anahi pode ver no olhar da garota que ela estava exitante em ir, e olhou para Anahi com uma cara de suplica, pronto para pedir mais um tempinho, mas não.
- Senhorita Annie, você vai voltar aqui? - Anahi pretendia dizer a verdade, dizer que não sabia nem porque estava ali pra inicio de conversa e que não sabia se iria voltar, mas ela queria ver Luna novamente, queria poder dar atenção a garota e não sabia explicar o quanto.
- Sim querida, sempre que eu puder. - disse para depois depositar um beijo na testa da pequena que se despediu e saiu feliz junto com as outras crianças.
- Ela é uma graça não?
- Quem? Luna? Ela é ... especial.
- Especial como?
- Ela é inteligente Anahi, tem uma percepção muito grande sobre as coisas e já passou por muitas coisas que até então nós dois nos nossos vinte e tantos anos de vida não passamos, assim como muitas dessas crianças. Existem histórias muito tristes nesse meio Anahi.
- O que aconteceu com Luna?
- Venha, vou te contar.
E então os dois saem para dar uma volta no local, ao ar livre e Anahi descobre que os pais de Luna tinham morrido em um acidente de carro onde só a menina sobrevivera. Seus pais eram muitos jovens, sua mãe tinha apenas dezesseis anos então quando a família dela soube, foi uma loucura. O pai da mãe de Luna, seu vô já era falecido há um ano quando ela descobriu da gravidez, restando somente a avó que era cabeça dura pois Anelise, nome da mãe de Luna, era filha unica. Já o pai da pequena, já tinham ido há muito tempo pois eram muitos idosos, e por uma infelicidade do destino, também era filho único e se virava sozinho nos seus vinte e quatro anos, idade de Poncho. Sua vó materna nunca a quis, e mandou que a entregassem ao juizado, praguejando pela morte da unica filha e ainda sim afirmando que infelizmente era um castigo por ter engravidado cedo. Anahi achou tudo tão triste e horrível que não pode deixar de agradecer pelas condições que seu bebê se encontrava.