Era aproximadamente duas horas da tarde quando Alfonso estava trabalhando em sua sala totalmente inquieto. Olhava para o relógio, em seguida para a foto de Anahi em sua mesa e por ultimo seu telefone, e então repetia todo o processo.
Ouviu uma barulhada vindo do lado de fora e assim que percebeu e ergueu a cabeça desconfiado a porta de sua sala se abre. Era Julie. Claro que seria ela, onde Julie ia, uma completa batucada de escola de samba a acompanhava junto. Ela nunca soube ser silenciosa.
- Olá - disse tirando seus óculos - Está nervoso? - disse se sentando na frente de Alfonso sem nenhuma cerimônia.
- O que você acha? -respondeu com as sobrancelhas erguidas.
- Ah, eu acho muita coisa mas meu tempo é precioso demais para perdê-lo tentando explicar o que penso, vocês homens parecem incapazes de compreender isso. - disse aborrecida. Na certa tinha tido algum desentendimento com Dave, e quando digo desentendimento quer dizer que ele não fez algo que ela "ordenou" a ele.
- Seu tempo aqui em Seattle é gasto com futilidades Julie, não me amole.
- Não me amole? Eu ouvi isso? Ok, acho que eu vou deixar alguém resolver os seus próprios problemas sozinho e ir gastar meu tempo com minhas futilidades. - Ela levantou se fazendo de ofendida e seguiu até a porta novamente. Colocou a mão na maçaneta e esperou pela fala dele, mas ele não disse nada. Ela bateu o pé exasperada - Qual é garoto, essa é a parte em que você não me deixa ir porque precisa da minha ajuda!
Ele apenas continuou a observando com um os cotovelos apoiados na cadeira e com a mão do braço oposto brincava com um lápis - Eu não preciso falar nada porque eu sei que você não vai embora. Uma porque ama a sua irmã e consequentemente a mim e duas porque você adora se meter na vida dos outros Julie. - era a primeira vez que ria de verdade nas últimas vinte e quatro horas. Sua cunhada era mesmo uma graça - Ah, e por favor, não me chame mais de garoto.
- Você é patético - disse zoando ele. Era de se esperar que mesmo nesta situação na qual se encontravam, que Julie ia tentar não se deixar abater, estava tentando, acreditava na recuperação da irmã - Passei no hospital pela manhã - falou voltando a se sentar. Ele a ouviu atento - O estado continua estável porém o mesmo, e é justamente esse o problema, mas não pude ficar lá, como sabe, minha vó hoje passou a manhã com Perla fazendo compras - disse revirando os olhos - Eu não entendo como minha vó consegue, sinceramente. Eu mal a aturei por algumas horas.
- Ela é detestável. Amanhã será que sua avó a coloca contra a parede?
- Olha sinceramente eu não sei, mas é o seguinte, minha vó falou e eu sigo a risca as palavras dela, então eu estou esperando o ok dela. Ela pode ser louca mas nunca falha. Ela vai fazer Perla desaparecer sem deixar rastros.
- Estou torcendo por isso. Agora partindo para o próximo problema, não me importo com aquele bando de urubus da imprensa lá fora mas recebi uma ligação de Joseph agora a pouco e estão acampados na entrada da minha casa. A assistente social não pode ir lá e dar de cara com isso Julie.
- É, eu sei, por que acha que cheguei gritando? Eles estão me deixando maluca! Estão na entrada da mansão do papai também, mas minha vó tratou de chamá-los por um monte de xingamentos franceses e os expulsaram de lá.
- Olha, seria muito pedir para ela ir fazer o mesmo lá? Ela já vive nos atormentando por lá mesmo. Luna é importante para mim e para a Anahi, não quero dar motivos para perdê-la antes de a termos Ju. - o semblante de Alfonso pareceu cair novamente.
- Eu sei Poncho, confie em mim, vai dar tudo certo - ela segurou sua mão em cima da mesa - É para isso que eu estou aqui, eu vou ajudar vocês dois, a Annie vai acordar e toda essa confusão vai se resolver. Agora nós precisamos ir. Vamos e eu ligo para a minha vó no caminho.
Os dois juntaram todas as suas coisas e então entraram no elevador em silêncio. Alfonso estava tenso, era importante demais para ele que tudo desse certo e Julie estava nervosa porque pela primeira vez não tinha certeza se conseguiria realmente ajudar a irmã. Ao menos não em tudo.
Ela tentava ajudar com Perla de um lado e com a história de Luna do outro. Era complicado para ela porque querendo ou não, não era invencível. Havia jogado todo o trabalho para o ar quando percebeu que seus pais estavam precisando dela e soube que Anahi estava em maus lençóis assim que descobriu da volta de Kevin. Não conseguia voltar para casa sem ter certeza que estava tudo em ordem, Nova York poderia esperar, Dave podia ajudar com o trabalho. E assim o fez.
Mas tudo na vida de Anahi ficou mais complicado do que ela imaginara e então ela se viu obrigada a apelar para alguém com uma mente mais ardilosa que a dela... Sua avó Clarisse. Mas ainda não era o momento para explicar como a senhora havia ido parar de paraquedas nessa história e porque diabos não admitia a ninguém que estava doente.
Mas estava fazendo de tudo e agora lá estava ela, em mais uma etapa para ajudar a colocar a vida da irmã que tanto amava nos eixos.
Ao chegarem na entrada o barulho dos repórteres é ensurdecedor e isso deixava Alfonso maluco porque odiava bagunça, principalmente as que não era feita por ele. Devia mandar esse bando de fotógrafo era para o apartamento de Kevin, isso sim.
Julie trabalhava em uma emissora então para ela seu último problema era esse então com a ajuda de seguranças ela passou rapidamente por toda a algazarra com Alfonso em seu enlaço logo atrás com cara de poucos amigos.
Eles ignoraram as perguntas que vinham de todos os lados .... "Como está o estado da Srta Portilla?" "Ela perdeu o bebê que esperavam?" "Alfonso é verdade que ela estava com outro? Um amante na hora do acidente?". Essa ultima quase o fez parar para dar um murro no autor da pergunta mas a mão de Julie o puxou e ele seguiu reto.
Enfim após conseguirem entrar na mercedes estacionada à espera deles seguiram rumo a casa de Anahi e Alfonso.
- Vó? É a Julie [...] Onde está a Perla? - Alfonso trava o maxilar, nervoso só de ouvir o nome da víbora e Julie faz uma expressão de desgosto a resposta de sua vó aumentando a curiosidade dele - Certo, menos mal... Escute preciso de um último favor da senhora por hoje. [...] Você consegue espantar mais uma trupe de fotógrafos e jornalistas como fez hoje cedo lá em casa em .... - olhou para o relógio como quem quisesse nada e fez uma careta de desagrado - ... uns quinze minutos? [...] O porquê é irrelevante vovó, acha que consegue? - Julie sabia que questionar a sua vó se havia algo que ela não fosse capaz de fazer aguçava sua vontade de provar que podia sim. A resposta foi um "Puff, me poupe de gracinhas Julie Puente, não há nada que eu não consiga. Me diga onde eles acamparam agora e em dez minutos eles somem meu anjo" - Você é a melhor vó, te amo! - disse ela sorrindo. Tinha uma admiração pela sua vó que só Deus entendia, porque afinal era a única no mundo capaz disso. A ligação foi finalizada e ela olhou novamente para Alfonso como se ele não tivesse estado lá minutos antes - Fala sério, não sei como Annie pode detestar ela, a Clarisse é demais!
- A Annie não a detesta! Ela só não concorda com o jeito arrogante de Clarisse. - defendeu ele.
- Você também não gosta da vovó - falou descrente - Vocês colocaram ácido no creme para rosto dela!
- Não era um ácido, era água oxigenada eu acho! - exclamou ele já cansado. Era nesses momentos que Julie conseguia ser uma pé no saco.
- Irrelevante, de toda forma a deixaram pipocada.
- Dá para não brigarmos por isso? Estou prestes a passar por um momento importante para a adoção da minha filha no meio de toda essa turbulência. Você quer me ajudar ou me deixar nervoso Julie?
"Minha filha..."
A frase ecoou forte na cabeça de Alfonso fazendo o parar de raciocinar. Luna era sua filha, não era? Se sentia como pai dela, queria proteger a menina e amá-la como um pai cuida de uma filha e chamá-la de princesa para todos verem, queria dar seu nome a ela.
Luna Portilla Herrera soava bem na cabeça dele. Era isso que queria!
Esses pensamentos o deixaram mais nervoso então ele resolveu focar todos os seus pensamentos em Annie, porque embora estivessem no meio desse furacão, ele sabia que ela voltaria e lembrar de seus momentos com ela o faziam ficar mais calmo. Ela era a sua calma...