- Senhor Herrera, senhorita Portilla, como vão? - disse a mulher formalmente com um sorriso polido do rosto.
Era de uma estatura baixa, com um corpo cheinho e óculos de grau como acessório. Vestia uma saia social que claramente a apertava demais mas parecia alguém muito gentil embora não deixasse transparecer muita coisa.
Eles foram obrigados a explicar a ela sobre o fato de Anahi ter sofrido um acidente e que não poderiam estar com eles naquele momento. Bom, no plano original ela não estaria da mesma forma e eles teriam que arranjar uma desculpa maior para a ausência dela. Ela não imaginava que Anahi sequer tinha ideia de que a adoção estaria em andamento, ela surtiria por Alfonso se intrometer em sua vida dessa forma.
Na verdade, Julie havia tido uma ideia maluca de querer se passar por Anahi, afinal,era uma Puente como tal e sempre acompanhava Alfonso na maioria das visitas que ele fazia a Luna fazendo com que a senhora Grace que era sempre muito simpática pensasse que eles eram um casal. Não podiam arriscar que a senhora dissesse algo a Anahi e pela sondagem que faziam Anahi sabia que havia um "casal" interessado na adoção da garota mas não sabia quem porque Kevin nunca os encontravam durante suas visitas e porque Alfonso e Julie compraram o silêncio das pessoas envolvidas para que seus nomes não fossem divulgados. Além deles dois as únicas pessoas que estavam envolvidas nessa loucura de burlar a lei como ela é - afinal embora estivessem seguindo o cronograma normal, havia muito mais burocracia do que se pensa em um processo de adoção para pessoas normais - dando seu jeitinho pelo poder que tinham, era Dave e Christopher. A única ressalva que deveria ser feita para que não restasse dúvidas é que essa adoção não se aplicava a regra porque nem Alfonso ou Anahi eram pessoas comuns.
Eles deram um tour pela casa enorme e Julie falava mais do que o próprio Alfonso ou a senhora. Aliás, Alfonso estava nervoso demais para conseguir opinar algo que preste, mas ao menos tentava.
Todo o seu nervosismo se esvaiu ao mostrar o quarto de Miguel e logo em seguida o quarto que ele havia decidido que seria de Luna, um ao lado do outro no corredor da ala esquerda que ficava no segundo andar da casa.
- Bom, como vê, o quarto do bebê e o dela não estão com decorações específicas. Acabamos de descobrir o sexo da criança que será um menino - disse com um sorriso orgulhoso - E quanto a Luna, não quero criar falsas esperanças em Anahi, doeria em nós montarmos tudo do jeito que ela sonhou para não dar certo no fim das contas. Acho que a senhora entende.
- Claro que entendo - respondeu a senhora quando os três chegaram enfim a um dos dois escritórios da casa. Este era o de Anahi e ficava no segundo andar da casa uma vez que ela adorava trabalhar olhando para o jardim da parte de trás da casa lá de cima.
A conversa fluiu mais um pouco e o suor de nervosismo que Alfonso sentia inicialmente não estava mais ali. Ele precisava impressionar a mulher, precisava fazer com que ela entendesse que ele precisava de Luna porque ele a queria na família e não sabia explicar o quanto ou como queria isto.
- Alfonso espero que entenda que existe muitas coisas às quais devo levar em conta para dar minha aprovação a sua vontade de adotar a Luna Norren - disse fazendo menção sobrenome da mãe biológica da garota - Para mim ficou bem claro que vocês têm muita condição de dar a ela o que há de melhor em questões materiais, mas bom, você sabe que nesse momento por exemplo o nome de vocês estão estampados em quase todas as revistas de fofocas a notícias, e eu realmente sinto muito pela senhorita Anahi. Mas toda essa publicidade pesada na quais vocês são constantemente envolvidos não é ambiente para uma criança que já passou por tantas coisas. Você sabe da bagagem de Luna.
Ainda bem que Julie não manteve sua ideia de se passar pela Anahi nessa entrevista. Santo Deus, a mulher estava acompanhando a vida deles pelos tabloides, ela saberia de qualquer jeito de tudo o que ocorria ali.
- Senhora Roodes, as pessoas mentem. Elas inventam o que querem para vender a sua notícia, sejam elas verídicas ou não. É o que está acontecendo agora, estão aumentando tudo! Minha noiva sofreu um acidente, ok, isto poderia acontecer com qualquer um e ao contrário do que também inventaram, o estado dela é estável, não está morrendo - tentou dizer com o máximo de convicção possível, embora realmente fosse uma verdade. Falava tudo numa calma inexplicável, pois por dentro a última coisa que sentia era calmo ou cortesia pela senhora - Nós dois queremos adotar Luna e dar á ela uma família, pai, mãe, irmão, tios... E essa é a única verdade com a qual a senhora deve se preocupar. Pergunte ao dono do orfanato, o nome dele é Kevin Dustin, o conhece não? - Julie arregalou os olhos, mas que diabos Alfonso fazia colocando Kevin a seu favor nessa história? Não era por ele ser uma pedra no seu sapato que eles estavam tentando manter tudo em segredo? Agora a mulher poderia comentar algo com o rapaz e eles não poderiam comprar o silêncio dela, o dela não - Ele é testemunha do carinho que minha noiva sente pela criança.
A mulher o olhou fixamente tentando avaliar se acreditava ou não no discurso de Alfonso. Ela já passara por esses momentos muitas vezes para se deixar enganar com intenções de aspirantes a pais que faziam de tudo para adotar uma criança e quando conseguiam meses depois lá estava a pobre criança novamente no orfanato com um coração destroçado. Era uma profissão dolorosa às vezes.
Julie percebendo a desconfiança da assistente perdeu toda a sua paciência. Eles não nadaram até ali para morrer na praia, e se nada desse certo, ao menos ela ia ter que escutar o que tinha para dizer. Alfonso estava destroçado pelo momento que vivia, não ia conseguir se sair cem por cento nessa entrevista e sua irmã não estava ali para se defender, então precisou intervir, como sempre. Já estava até cansada da própria voz.
- Me desculpe entrar no meio disso mas senhora Roodes eu preciso falar que você parece achar que Alfonso e Anahi vivem com problemas, eu estou vendo isso. O que você sabe é que sim, a vida deles como profissionais, como donos de uma empresa de conhecimento mundial ,é complicada e a cara deles estão estampadas em revistas nesse momento servindo de comida para os urubus que não sabem cuidar da própria vida, mas você não está vendo a coisa da perspectiva pessoal. Esses dois estão tentando construir o que me parece há muito tempo uma família, construir o que haveria de melhor neles! Alfonso é a parte boa de Anahi e ela é a parte boa dele! Eles estão tentando estender isso a outras duas pessoas! Uma está na barriga da minha pobre irmã que agora está numa cama de um hospital lutando para acordar e ver a vida dela dando certo, e a outra é Luna, uma criança pela qual os dois se apaixonaram e querem que ela faça parte da vida deles! Não me entenda mal mas quero que entenda que se você não aprovar essa adoção você não estará privando uma criança de problemas familiares, apesar de que não existe problema familiar maior que ser órfã, mas estará privando ela de receber amor de duas pessoas maravilhosas que amam o sobrinho deles, meu filho, como se fossem a criatura mais preciosa que existe. Pense quando for o filho deles, Miguel .... E eles querem dar este mesmo amor à uma criança que também se apaixonou por eles e no entanto está em um orfanato sem nenhum responsável por ela. Pense nisso quando for realizar seu relatório para o juiz, por favor.
A sala ficou em silêncio.
Alfonso não conseguiu conter o queixo caído com a fúria com que Julie falava com a mulher. Haveria algum dia em que sua cunhada seria menos explosiva? Ele pensava que não.
Mas agradeceu com um olhar cúmplice para ela. Não sabia o que seria da vida dele agora sem seu apoio.
E bom, Julie estava curiosamente intrigada com o olhar da senhora a sua frente que parecia complemente estática.
Parece que mais uma vez, ela tinha dado a alguém algo em que pensar.
[...]
Meia hora depois Alfonso e Julie viam o carro a assistente social se afastando cada vez mais da propriedade. O coração dele doeu. Tinha que dar certo, essa fora a primeira entrevista e se Deus quisesse seria a última, já teria seu aval ali.
Julie sorriu para ele tentando lhe dar forças - Vai dar tudo certo. Relaxe.
- Eu estou com medo. De tudo o que está acontecendo.
- Pois não devia - disse tocando seu ombro - Agora vamos Poncho, Dave está vindo para cá nos buscar, hoje é dia de você ver a Luna.