Relutantes os dois assentiram e saíram fechando a porta atrás de si. Alfonso sentou-se na cadeira de Kevin e apontou a cadeira a sua frente para que o rapaz se sentasse. Kevin sentou-se mas ergueu as sobrancelhas e balançou a cabeça negativamente com o gesto de Alfonso tomar conta de sua sala como se fosse dele, prepotente.
Alfonso não se incomodou e começou a falar.
- Tá, eu devo explicações eu sei, então começando pela primeira pergunta eu vim parar aqui por causa da Anahi e não voltemos na história dos seguranças, já sabe muito bem o porque da existência deles. Eu ouvi uma conversa de Anahi uma vez com nossa secretaria na empresa e fiquei curioso, não é todo dia que sua noiva fala "quero adotar fulano" e esconde isso de todos. Mas quando eu conheci Luna Made in África eu juro, eu entendi o que fez a Anahi querer adota-la porque eu praticamente cai de joelhos aos pés dessa criança. Deus sabe como, mas eu tive essa mesma conectividade que Anahi teve com ela desde a primeira vez que a vi. Juro também, que nunca teve nada a ver com joguinho algum, e sim com um sentimento de paternidade que não consigo entender como é porque surgiu. E eu escondi isso porque você é um grandíssimo filho da puta que quer me roubar a mulher que eu amo e porque sei que acharia que fazia parte da disputa então faria de tudo para impedir.
- Faria mesmo! E ainda estou avaliando se não faço isso agora! A Annie está em uma cama de hospital e você está mais uma vez tentando manipular a vida dela.
- Ela vai me agradecer quando acordar!
- Tá, e se tudo der certo ou se eu ajudar por exemplo, quem garante que ela vai voltar pra você?
- Ela vai voltar. E bom, trabalhando com hipóteses, mesmo se ela não voltasse para mim, eu ainda seria o pai da Luna, não estou fazendo isso só pela Anahi, mas por mim também então eu continuaria com a adoção, e não, antes que me pergunte, eu não tiraria da Anahi o previlegio de ser mãe da Luna.
- Eu não confio em você.
Alfonso ficou em silêncio. Essa era uma batalha na qual ele sabia que não devia subestimar o ataque do inimigo, ainda mais quando se encontra tão vulnerável quanto naquele momento. A maior prova de sua vulnerabilidade era o fato dele estar tentando se explicar logo para Kevin.
- Você sabe de tudo pelo o que a Luna já passou? - prosseguiu Kevin em silêncio. - Sabe o quanto uma criança daquele tamanho já passou por todos os tipos de perrengues possíveis? Porque logo você quer adota-la? - disse baixo e calmamente.
- Eu sei de toda a história de Luna ok? Não queira me tomar por idiota! Eu sei de cada parte e isso corta meu coração. E eu quero adota-lá porque eu a amo, assim como já amo Miguel.
- Miguel? - perguntou o rapaz confuso.
- É o nome do bebê, Anahi disse que seria Miguel caso fosse um menino. - disse sem toda a autoconfiança de sempre. Alfonso desse jeito estava matando Kevin desde a madrugada. Era muito mais fácil lidar com o inimigo quando ele o tirava do sério com toda a sua autoconfiança. Se sentia com um motivo para odiar ele. Alfonso percebeu o olhar reflexivo do rapaz e a última coisa que queria que ele sentisse era pena dele - Eu sei que não posso e também não quero te pedir nada Kevin, mas você sabe como toda essa história vai terminar, eu sei que sabe, então se você realmente sente um amor tão genuíno pela Anahi livre de trapaças, de ódio e seja lá o que for, por ela, não precisa ajudar, mas também não atrapalhe na adoção da Luna. Eu recebi uma visita da assistente social hoje e Deus sabe como foi difícil pra mim fazer tudo sem a Annie do meu lado para me apoiar. Eu não queria ter que mentir para ninguém, muito menos para ela. Você pode perguntar a qualquer funcionário seu que eles te dirão o quanto eu quero ser pai da Luna, o quanto ela é especial pra mim e vi que para a Annie também, e essa menina, eu sei que ela sente como se eu fosse a família dela e eu juro a você que só não a chamo de filha e peço a ela que me chame de pai porque a última coisa que quero é dar falsas esperanças a ela, isso me partiria o coração. Ela precisa de amor, estou querendo dar isso a ela. Ela nos admira. - disse se levantando e abrindo o desenho que havia ganhado agora a pouco da menina - Este aqui é você, este sou eu, Annie e Julie. E tem o cachorro que ela quer que eu dê a ela. Se você também está nesse desenho é porque ela também o vê como alguém que a ama e quer o bem dela. Pense nisso. - disse tamborilando os dedos na mesa - Agora com licença, eu vou ficar um pouco com ela e então voltarei pro hospital e isso você não irá impedir.
E então saiu deixando Kevin sozinho olha só para o papel colorido cheio de rabiscos. Havia tido a coragem de largar todo seu ego inflado de lado e se expor a pessoa que "teoricamente" ele deveria odiar.
Não se importou, faria de tudo pela sua família que queria construir.
[...]
Alfonso encontrou Luna novamente sendo paparicada pelos tios toda risonha, e graças ao bom santo, alheia a toda confusão na qual estava envolvida.
- Meu anjo, vem cá! - disse se aproximando dela. Sentou-se e a menina como se fosse uma adulta sentou-se ao lado dele balançando as perninhas que não alcançariam jamais o chão - Hoje eu conheci uma moça que pode deixar você ir morar comigo e com a Annie.
- É? - disse a menina arregalando os olhões entrando em êxtase. Alfonso queria saber como explicar a ela sem dar falsas esperanças.
- Sim! E aí agora nós temos que esperar pra ver se vai dar certo - vendo que ela não entendia muito bem ele prosseguiu - Se ela deixar você vai morar com a gente.
- Amanhã!? Agora?! - pronto, era isso que ele queria evitar.
- Não! Pode demorar um pouquinho tá? Mas se ela não deixar, eu vou estar aqui todos os dias pra brincar com você minha princesa. Acredita em mim? - ela assentiu com o rostinho escancarando que ela estava preocupada.
- Mas se ela não deixar? Eu quero ir!
- Eu sei meu amor,mas se ela não deixar você vai poder ir pra casa de outras pessoas legais.
- Mas...mas eu quero vocês! - e então estava feito. As lágrimas nos olhos dela brotaram e só Alfonso sabe o quanto ele estava segurando as dele também. Estava tudo difícil demais, não podia lidar com mais isso.
Julie e Dave olham preocupados toda a situação e ela se ajoelha na frente da menina acariciando seu rosto.
- Não se preocupe minha querida, a tia vai dar um jeito nisso ok? Eu sou a fada com poderes lembra? - disse sorrindo mas nem isso fez a garota voltar a rir como fazia sempre.
- Você me ajuda tia Ju? Eu quero ficar com vocês, eu quero a Annie!
O coração de Alfonso que estava quebrado em dois, agora se fez em mil pedaços. Anahi não estava ali, não podia confortar a menina, Anahi nem sequer imaginava que ele tinha ligação com ela.
- Não precisa chorar meu anjo, você vai ficar com a Annie.
- Mas cadê ela? Ela não vem me ver mais, só você e tia Ju. Cadê ela Pon?
E então ele a abraçou, a abraçou como se com aquele abraço apertado ele pudesse juntar todos os pedacinhos da pequena para que ela não chorasse mais e voltasse a sorrir. A abraçou como se também pudesse juntar os seus próprios pedaços.
- Não chora minha princesa, por favor, eu fico tão triste te vendo chorar Luna. Não precisa disso.
- Ela não me quer mais? - disse esfregando os olhinhos com as mãos limpando as lágrimas.
- Não minha princesa! É que a Annie está esperando um bebê, você sabe não é? Então às vezes ela fica meio dodói, e por isso não consegue vir te ver. Mas ela vai vir quando melhorar prometo!
A menina parou ponderando as palavras de Poncho. Anahi já tinha dito a ela que as vezes ficava "dodói" e não tinha como aparecer. Isso acontecia quando ela não conseguia controlar seus enjoos, ou quando não queria ver Kevin.
Dave e Julie assistiam tudo atordoados, não estavam acostumados a isso, a tantos problemas rodeando a família deles.
- Ela tá bem? É o que ela tem? - disse se acalmando.
- Sim, ela está bem, só que ela anda dormindo muito sabe, então fica difícil ela vir.
A menina pareceu pensar se era preciso se preocupar ou não. A sua expressão de inocência e confusão deixaram Alfonso atordoado. Céus, essa menina precisava dele e de Anahi e ele precisavam dela. Não tinha outra verdade além dessa.
Ela pula da cadeira e se afasta a passos curtos parecendo uma boneca apertando seu vestidinho em sinal de nervosismo. Pega um urso de pelúcia azul e o entrega na mão de Alfonso que a olha confuso.
- Aqui, dá pra Annie tá?
- Mas você adora esse ursinho minha princesa!
- Eu sei, mas ela deve estar precisando dela mais do que eu. Eu empresto pra ela. Você não esquece de entregar?
Alfonso sorriu. A menina era realmente especial- Não minha querida eu não esquecerei. Ela vai adorar o Bobby. - disse afagando os cabelos dela.
- Não é Bobby, é Toddy! - disse brava. Os três riram dela e ela não gostou disso.
- Tá bom, mas então eu acho melhor você aproveitar e brincar muito com o Toddy e com a gente, e depois nós vamos levar ele pra Anahi, tenho certeza que ela vai amar ver ele. O que acha? - disse Dave.
- Tá bom.
Durante um bom tempo a atenção dos três foi toda da menina. Principalmente a de Alfonso. Ele não podia ver ela todos os dias, então tentava prolongar ao máximo seu tempo com ela. Ao menos conseguia se distrair parcialmente, mas estava sempre atento ao telefone esperando notícias de Anahi, mas os sogros estavam com ela.
Só que ele não via que tinha alguém somente os observando de longe, tentando entender tudo o que estava acontecendo e travando uma batalha interna consigo mesmo...Pobre Kevin.
"E eu quero adota-lá porque eu a amo, assim como já amo Miguel."
Lembrou-se também de Anahi reclamando depois de uma das milhões de brigas que ele ouvia sobre ela e Alfonso "O Alfonso é maluco Kevin! Ele me manipula, me faz agir contra a mim mesma! Ele não me deixa viver sem meter o dedo em cada passo que eu dou."
"Mas sou seu amigo Ken, então por favor, não torne as coisas mais difíceis para o Poncho, ele está desesperado" Até Christian que sempre fora tão legal com ele e o apoiava em tudo estava do lado de Alfonso.