Longe dali, do outro lado da cidade, acontecia o "salão de carros" e não havia nada mais entediante para Julie do que estas convenções.
Foi por isso que há alguns anos atrás, saiu de casa bem jovem ,para não ter que entrar nesse mundo, pois queria seguir seu próprio caminho. Mas agora estava ali, representando a família ao lado de Dave e para piorar, Dulce não estava nada amigável.
Primeiro porque incrivelmente Natalia Tellez apareceu do nada acompanhada de um homem que ela nem sabia quem era e segundo porque ela preferia estar com Anahi no hospital, não ali. Julie estava ajudando Dulce com seu casamento quando podia então acabaram se aproximando a ponto de saber das neuras de Dul com a moça que trabalhava para o Uckermann então tentava mantê-la calma, mas o mau humor de Dulce tinha se estendido a ela também.
Dulce por outro lado não via como estava em puro estado de nervos até que Natalia se aproxima para cumprimenta-los. Deu um beijo meloso no rosto de Christopher que sabia estar em maus lençóis e deu um sorriso tão falso a Dulce que a mesma teve vontade de vomitar, mas apenas retribuiu.
- O que fazem aqui? - perguntou dissimulada.
- Ora, você não sabia que vínhamos? - disse Dulce agarrada ao braço do noivo.
- Claro que não! Vim acompanhar um grande amigo meu. Mas é uma ótima surpresa vê-los aqui.
Então Christopher explicou que Anahi estava internada e que eles estavam fazendo um favor a Alfonso.
- Sim, mas logo estaremos indo, não é mesmo querido? Gostaria de passar a noite com Annie no hospital hoje. Se você não se importar claro.
- Jamais amor. Eu aproveito para falar com Alfonso. Mas você tem que descansar Dul, não quero saber de você perdendo o sono ou não se alimentando, está bem?
- Eu irei, não se preocupe. Isso que dá ter um noivo mega preocupado. - disse Dulce sorrindo falsamente para Natalia antes de dar um beijo no marido.
A conversa estilo Harry Potter imitando as cobras durou o máximo que Dulce poderia aturar, até que do outro lado do salão surge justamente quem Christopher esperava a noite toda...Jonathan Wilde. E ainda por cima com a filha, então poderiam ser dois coelhos numa cartada só.
- Natalia se nos der licença, vamos ali cumprimentar algumas pessoas. Aproveite a noite. - disse ele rapidamente antes de puxar Dulce pela mão e ir fazer "sala" para pai e filha. Não desgrudaria deles a noite toda. Queria muito descobrir algo que ajudasse Alfonso.
[...]
A noite parecia não ter fim. Julie não conseguia parar de pensar em seu pai e nas consequências de seus atos.
Dave parecia o mesmo de sempre, uma alma elevada que sempre conseguia manter a calma nesses momentos.
Dulce estava de mal humor pois com o tanto de coisa acontecendo, Natalia ainda tinha a pachorra de tentar se aproximar de Uckermann a cada brecha que tinha. Hoje estava impossível.
Já Ucker parecia totalmente alheio a tudo isso. Estava preocupado demais tentando arrancar algo de Jonathan Wilde e Bianca Wilde. Achava até mesmo o motivo da chegada da filha do velho um tanto suspeita e os dois não paravam de cochichos.
Quando finalmente a exposição se dispersou Julie pediu licença para ir ao banheiro sendo seguida por Dulce.
As duas pararam em frente ao espelho para retocar a maquiagem.
- Você está nervosa demais Dulce. Precisa relaxar, o Uckermann não vai te largar.
- Eu estou preocupada é com sua irmã, não com o Christopher! Você não está mais lá no hospital com tanta frequência e ela está mal, precisa de você! - disse grossa.
A verdade é que Julie estava sempre com sua vó ou com Alfonso resolvendo alguma de suas loucuras com os dois e quando podia também tinha que estar com seu filho, uma vez que era ela quem devia estar ao seu lado, não uma babá, então acabava não passando tanto tempo com a irmã como Dulce fazia.
Julie bem que queria, mas não podia dizer nada do que estava acontecendo para Dulce, pois a primeira coisa que a ruiva faria seria meter o bedelho no meio, e sabe Deus que ela não teria paciência para incluir alguém tão emocional como Dulce em seus planos.
- Dul, eu tenho muitas coisas para resolver. Não posso ficar o dia todo no hospital, então não me julgue se não tenho aparentado ser uma boa irmã tão quanto você tem aparentado ser uma boa amiga. Eu não sou você. - Já estressada pelo dia que vinha tendo ela respondeu seca, afinal não estava aberta a temporada de aceitação de críticas de Julie, que acontecia um dia no ano apenas. Bom, ao menos costumava pensar que era assim.
- Ela é sua irmã! Você deveria estar cuidando dela! - disse a ruiva sem paciência. Na última semana Dulce não chegou nem a pisar em seu ateliê de moda porque Anahi era mais importante até mesmo do que seu casamento naquele momento. Largou nova coleção, preparativos para o casamento e todo o resto pra cima! Por que diabos Julie se achava melhor o bastante para não parar sua vida alguns instantes pela irmã?
- E eu estou! Principalmente quando estou fora daquele maldito hospital, é o que estou sempre fazendo! Mas como não lhe devo satisfação alguma, deixemos por isso mesmo e pense o que quiser.
- Isso mesmo, "pense o que quiser", é isso o que você tem como argumento. Eu espero de verdade que a Annie acorde logo porque caso isso não ocorra, todo esse seu "cuidado" fora do hospital com ela será em vão.
E então Dulce saiu deixando Julie perplexa de olhando no espelho mas trava ao chegar na porta e ver Uckermann de longe conversando perto demais com Natalia Tellez.
- Fala sério, vai lá e faz alguma coisa! - disse Julie aparecendo atrás dela parecendo ter esquecido as farpas que haviam trocado a pouco - Se fosse o Dave, ele já teria perdido o maldito pinto dele para não ter a possibilidade de usá-lo caso quisesse. E bom... A outra já estaria na funerária há muito tempo.
Dulce olhou para Julie e revirou os olhos. Ela não iria lá agora e dar um barraco pois precisava ser melhor que Natalia, tinha que ser a mulher perfeita e brigar com Uckermann só o aproximaria da vadia.
- Está vendo aquilo Julie? É ela lutando por ele, e eu sabia que esse momento ia chegar. Bom, se eu for lá, vou dar com burros n`água porque nesse instante é ela que deve estar se afundando sozinha, não eu. - Julie ergueu a sobrancelha de forma irônica e sorriu, se lembrando exatamente de quem deve ter ensinado esta técnica a Dulce.
- Foi ela não foi?Anahi te ensinou a técnica do "Não ligue, não reclame, só assista". Nem ela mesma segue os ensinamentos dela. - disse revirando os olhos mas sorrindo com saudades da irmã.
Dulce não admitiu que a ideia em si era de Anahi. Sua amiga vinha tentando colocar isso na sua cabeça desde o maldito dia em que tiveram aquele pequeno incidente com o carro. Estava justamente brigando com seu noivo quando soube que sua amiga estava em uma cama de hospital e sofreu por isso, então decidiu a partir dali que iria ouvir sempre os conselhos dela.
- Não, Anahi me ensinou a ganhar,. Ela sempre me ajudou, com tudo, sempre mesmo. É por isso que estou com o Uckermann hoje, por isso tenho o trabalho dos meus sonhos, sou feliz, amada. Graças ao apoio dela Julie, e é por isso que fiquei possessa com você agora a pouco. Me desculpe. - as duas conversavam mas os olhares de ambas eram somente para Christopher e Natalia.
- Eu te entendo. Mas acontece que não tenho tempo para sofrer Dul. Anahi vai acordar e eu quero deixar tudo no seu devido lugar para que ela não sofra mais, chega de problemas para a minha irmã. São coisas que não posso te contar mas que você deve entender. Eu vou resolvê-los, um por um.
Dulce desviou o olhar e viu os olhos de Julie brilhando de lágrimas que queriam começar a se formar. Mas só queriam. Julie nunca choraria na frente de ninguém naquela noite e contanto que ela realmente ajudasse Anahi, Dulce não se importava.
[...]
Christopher viu quando mais tarde naquela noite Wilde e a filha se afastaram dos convidados e saíram de fininho para um canto reservado , ambos com uma cara nada boa então discretamente foi os seguiu e ficou escondido atrás de uma enorme pilastra perto o suficiente para ouvir a conversa.
- Eu odeio essa cidade. Não para de chover, esse jeito morto dessas pessoas. Pai eu não quero ficar aqui, Alfonso vai me odiar! Por que eu tive que vir para essa droga de cidade?
Ninguém sabia mas Bianca tinha acabado de chegar de Nova York e foi direto para o local como acompanhante de seu pai. Estava nervosa, queria ver Alfonso.
- Cala a boca Bianca! Se alguém nos ouve. - Christopher não pensou muito e já foi ligando o gravador do telefone, algo bom tinha que sair daquela conversa - Olha, sua chegada pode mudar as coisas, vá lá, dê seu apoio a ele, é só o que tem que fazer por enquanto. - Christopher pôde ouvir uma risada seca - Quem diria não é mesmo ? Meses tentando tirar aquela insolente do meu caminho para no fim, ela mesmo ir lá e se matar - a risada do velho tão cínica não foi acompanhada pela da filha que parecia mais uma adolescente emburrada. Os punhos de Ucker se fecharam, tamanho o ódio e a vontade de arrancar cada um dos dentes do velho. Alfonso estava certo, era Wilde desde o início. Lembrou-se do atentado contra Anahi com a sabotagem do carro, suas amigas em risco, sua mulher em choque...Foi preciso se segurar para não aparecer e encher o velho de socos, por ele e por todos os outros que amava.
- Pai, ela não deveria morrer! Tem que estar viva, para ver tudo o que ela ama sair das mãos dela!
- Não! Está louca? Essa menina é uma pedra no nosso sapato Bianca. Eu já te expliquei minha filha, vai dar tudo certo, confie em mim!
- Como? Você nunca me conta nada! Me faz de idiota sempre que pode! Pelo amor de Deus, você não tem sequer um plano pai!
- Não? Pois escute bem,quando ela morrer, farei Alfonso vender as ações dele para mim, com o dinheiro dos desvios e venda de contratos que nós conseguimos isso ficará fácil, ele ficará tão abalado que não irá querer saber de mais nada. É aí que você entra e consola ele, está entendendo Bianca?
O coração de Christopher subia e descia freneticamente. Santo Deus, o homem estava se vangloriando de algo tão sórdido? Não sabia nem o que pensar e sentir.
- Você acha que será fácil? - Rebateu a moça - Ainda existe a parte da songa monga!
- Que ele herdará!
- Não! Eles vão ter um filho, tem a outra, a maluca da Julie... Isso não tem como dar certo, a Julie Puente é louca! E você viu que ela está aqui né - disse a menina com a voz cansada, já exasperada.
- Não se preocupe com isso. Tisha está nas minhas mãos e por falar nela, você ainda tem aquele dinheiro não tem?
- Qual? Do seque... - então houve silêncio. Ucker prendeu a respiração e esperou. A adrenalina pulsou forte e ele rezou para que aquela gravação ficasse boa e ele vivo no fim disso tudo.
- Está louca? Fale baixo! Nem ouse mencionar isso, está me entendendo? Ou por Deus Bianca, e pela sua finada mãe, eu te tranco em um hospício! O seu papel é ter os Herrera do nosso lado, será que consegue fazer isso ou é tão imprestavel a esse ponto?
- Quer saber pai? Para! Não me ameace mais! Você é o louco aqui! Só está fazendo isso porque tem um maldito de um ego ferido e morre de inveja dos Puente! Minha mãe foi uma mulher muito melhor do que aquela lá. Sinceramente, só estou nessa porque sou sua filha e porque quero o Alfonso, mas quando isso acabar eu quero minha parte e que você não me importune mais.
- Bianca ... - esbravejou o velho com a voz baixa mas antes disso ela o deixa falando sozinho.
E então Alfonso tinha razão. Jonathan Wilde era muito pior do que realmente parecia ser, e ali estava a prova disso tudo. Christopher não conseguia sequer pensar direito, por que diabos foram tão tolos a ponto de falar disso logo ali? Alguém poderia ouvi-los!
Esperou em silêncio o velho se afastar para o outro lado e então respirou fundo, tamanho nervosismo, mas de longe avista Natalia se aproximando pela milésima vez aquela noite.
- Uckermann!
- Natalia! - saudou cansado. De novo? Fala sério.
- Bom, eu já estou indo e só queria me despedir. - disse a moça. Um sorriso gentil surgindo em seu rosto.
- Ah sim, claro. Tenha uma boa noite Nati e até segunda no escritório. - disse se aproximando e dando um beijo no rosto dela. Natalia fechou os olhos, deixando o cheiro do loiro invadir suas narinas, tal agradavelmente.
Eles se afastaram com a mesma rapidez e então Uckermann percebe que Natalia está desconfortável.
- Eu vou indo. - Uckermann não tinha olhos para qualquer outra mulher desde os seus dezesseis anos, quando ainda era um garoto , portanto não percebia nem de longe quando alguém além de Dulce mostrava interesse nele. Achando que Natalia estava com algum problema ele decidiu interferir.
- Nati, o que houve?
- Oh Ucker você não vê? Você está acabando comigo!
- Oi? Eu? Natalia o que você ... Oh meu Deus? Não! Não diga que está ...? Santo Deus! - disse todo atrapalhado. Dulce não poderia estar certa! Não!
- Por que ela e não eu? Me diz Uckermann? O que ela tem que eu não tenho? Me diz? - Natalia dizia em desespero mas sem gritar. Eles não percebiam que Dulce estava bem ali assistindo a cena, esperando para ver no que daria.
Uckermann olhou para os lados sem saber o que fazer, segurou a mão da morena e tentou dizer algo que ajudasse - Natalia, não ... Não tem que fazer isso, dizer essas coisas. Eu sinto muito.
- Por favor Christopher, me diz, por que ela e não eu? - uma lágrima tímida desceu do rosto dela. Ucker hesitou - Me diz!
Uma vez, em uma conversa com Alfonso, Uckermann havia perguntado a ele porque havia deixado as coisas com Perla chegasse aquele ponto no qual se encontravam agora, se dizia amar tanto Anahi. O amigo respondeu "Eu escolhi a Anahi, não estou disposto a perdê-la" e ele contrapôs com uma outra pergunta "Por que ela?" "Porque eu a amo desde sempre, eu amei ela assim que a vi" . E então Alfonso falou abertamente de seus sentimentos e isso havia o ensinado a falar de seu amor por Dulce. Talvez o certo fosse tentar fazer Natalia entendê-lo e então ela encontraria outro alguém.
- Eu amo a Dulce, eu amo ela desde que eu era um moleque e tenho vivido por ela e com ela há um tempo que me parece longo o bastante. Ela me enlouquece, atira sapatos em mim, grita comigo quando está brava...Na maioria das vezes por ciúmes. Mas ainda assim, ela é tudo o que eu mais amo na minha vida. Eu acho graça nisso tudo, no jeito dela, porque embora eu reclame, no fim das contas não saberia viver sem isso Nati. Não teria graça gostar de você. Por isso sempre foi ela, sempre será ela. Eu sinto muito, mesmo.
Ele não queria ter dito isso tudo, mas quando viu ja estava fazendo um discurso apaixonado sobre Dulce Maria. Agora entendia exatamente o que Alfonso queria dizer sobre "não conseguir parar de expressar o que sente". Agora estava ali de frente à Natalia, com um olhar decepcionado e até mesmo de raiva.
- Se não existisse ela... Se não ...
- Mas ela existe! - exclamou Ucker e logo em seguida pegou uma mão de Natalia e depositou um beijo nela - Me desculpe mais uma vez Natalia, espero que entenda. - É então saiu para o outro lado com as mãos nos bolsos da calça e completamente culpado.
O que se pode fazer nesses casos? O amor, aquele de verdade, que te faz suar frio, que causa arrepio, que te move e te consome, acontece só uma vez na vida.
Uma única vez.
E parece que para Ucker, ele já havia acontecido.
É o amor minha gente, pobre daquele que o perdeu.