As pessoas sentem medo de perder. Até as pessoas mais fortes, as mais corajosas, as mais sérias, todas elas sentem um medo em comum... Medo de perderem alguém que amam.
Não existem palavras, abraços, apoio que faça a pessoa acreditar que tudo ficará bem, porque ela não vai conseguir acreditar nisso.
Até quando rezam, elas não têm plena crença de que serão ouvidas, somente imploram porque precisam que alguém os ouça.
Alfonso estava assim, e em completo estado de choque. Pensava e pensava, andava de um lado para o outro em silêncio e depois sentava e não ficava menos de um minuto pois voltava a andar em circulos. Era capaz de abrir um buraco no chão com tantas voltas.
Todos tentavam falar com ele, consola-lo, dizer que estava tudo bem mas ele estava mudo, incrivelmente mudo. O que sequer combinava com ele.
Se dissesse algo - se conseguisse na verdade - ele sabia que não ia segurar as lágrimas pela milésima vez e seu estado de choque era tamanho que ele não conseguia nem fazer isso mais sem perder o controle. Se começasse não pararia.
Deus, o que ele havia feito para merecer isso?
Quando foi expulso do quarto acompanhado por enfermeiros para que pudessem levar Anahi para o centro cirúrgico seu mundo caiu. Nunca havia presenciado uma cena daquela, ver Anahi tendo que ser reanimada, sangrando ... Estava perdendo seu filho.
Assim que saíram com ela conseguiu assinar uma autorização de praxes para realizarem a cirurgia e então estava sozinho de novo em completo desespero.
Ligou para Maite, foi a primeira pessoa que conseguiu pensar mas quando ela atendeu não conseguiu falar nada, ela o chamou por diversas vezes até que ele conseguiu soltar um soluço com o choro que se iniciou vendo o quarto no qual estava a pouco sem Anahi na cama. Não podia sequer estar perto dela.
Por sorte Maite deve ter entendido o recado e logo chegou com Christian que avisou aos familiares após muita dificuldade ,mas então sem conseguir falar com Julie, Maite desapareceu furiosa e quarenta minutos depois Julie, Dave, Christopher e Dulce apareceram com Maite. Quinze minutos depois disso, apareceram seus pais, Ruth e Armando.
Todos, exatamente todos tentaram falar com ele , mas ele não olhava no olho de nenhum deles, não conseguia falar, raciocinar até que parou e olhou para Maite que o observava preocupada.
- Poncho... - começou ela, mas foi cortada com um gesto dele que levantou a mão indicando-a que parasse.
- Avisa ao Kevin! - e se virou, voltando então a andar em círculos na sala de espera. O Overlake era enorme, mas a tensão de todos era tão grande que o hospital parecia pequeno para eles.
Logo mais Kevin apareceu totalmente assustado e não conversou com ninguém, mas não pode evitar não ver Alfonso e o olhou entendendo completamente o que o seu até então "inimigo" devia estar sentindo.
Não se aproximou sabendo que não obteria sucesso mas quando Alfonso o viu balançaram a cabeça em positivo. Bom, era mais fácil do que tentar falar um "Vai ficar tudo bem" que ele sabia que não faria diferença até mesmo porque ele também estava com medo.
Alfonso não queria ser consolado, queria somente ter Anahi e seu filho de volta.
- Alfonso, é melhor se sentar. Se acalme filho.
- É cara, calma, vai ficar tudo bem. - disse Christian.
Aquilo foi a gota d`água. Era o fim da sua paciência e mudez.
- Não! - disse quase em um grito e começou a disparar furioso - Não venham me dizer que vai ficar tudo bem! Não tá tudo bem porra! Anahi está morrendo e vocês aí não param de sentir pena de mim! Eu não quero essa porcaria de pena! Eu quero a Anahi e o meu filho, então pelo amor de Deus, fiquem calados! Não piorem as coisas porque vocês sabem que não está tudo bem!
Todos o olharam atônitos, e logo depois ele se arrependeu de ter dito isso, pois eles sofriam assim como ele, mas não queria se desculpar, não queria ter que articular mais uma frase sequer então voltou a andar de um lado para o outro.
Nao soube dizer quanto tempo passou até que o médico de Anahi, Dr. Harrison, e outro médico mais novo, de cabelos castanhos e um topete baixo apareceram.
- Doutor! Cadê a Anahi? O que aconteceu? - disparou Alfonso antes que qualquer um ali pudesse falar.
- Esse aqui é o doutor Jackson, ele que acabou de fazer a cirurgia comigo e poderá lhes dar maiores explicações.
- Muito prazer - disse apertando a mão de Alfonso e logo em seguida a de Enrique que estava logo ao lado. - Bom, o que aconteceu mais cedo foi um início de ataque cardíaco em Anahi, isso fez com que o bebê se sentisse comprimido no útero porque não recebia oxigênio, e a sua frequência cardíaca também ficou irregular. - o médico percebeu que eles não entendiam aonde ele queria chegar e então resolveu mudar de tática - Resumindo, o bebê estava morrendo sufocado então não houve outra alternativa a não ser realizar uma cesárea. - o médico olhou na ficha os dados da criança a prosseguiu - Miguel nasceu com trinta e nove centímetros pesando um quilo e meio. Como veem nasceu extremamente prematuro e agora foi levado para a UTI neonatal, mas encontra-se vivo. Vamos realizar um acompanhamento de perto e mais minucioso pois essa primeira semana na encubadora é fundamental para seu desenvolvimento e para que permaneça vivo. Não se preocupem, tudo ficará bem e embora não seja uma situação muito fácil , parabéns senhor Herrera, o senhor é pai.
Alfonso não conseguiu ouvir mais nada, tudo pareciam meros murmúrios. Seu filho havia nascido prematuro, estava correndo risco e Anahi não estava ali para acompanha-lo. Céus! E como sua Annie estava?
- Como está Anahi? - perguntou afoito.
- Bom, eu sou cirurgião obstetra e o problema de Anahi é em sua neuro, nesse caso o doutor Harisson que está cuidando do trauma dela i pode te dar maiores informações. Se me derem licença, vou verificar se você pode ir ver seu filho senhor Herrera e talvez vocês todos um por vez. Doutor Harrison. - disse acenando positivamente para que o medico de Anahi prosseguisse.
Todos ali se endireitaram atentos ao que o médico mais velho diria. Alfonso não conseguia nem comemorar a emoção de ter sido pai, eram preocupações demais. Isso já estava dando no saco.