- Vou explicar a vocês os detalhes para que entendam o caso de Anahi. - começou o médico com uma ruga se formando em sua testa. Odiava ter que lidar com a família dos pacientes nessa situação, não sabia lidar com as expectativas - Existe uma parte do cérebro, embaixo dele, que é uma massa de neurônios. Se chama tálamo, caso queiram pesquisar, e é o tálamo o responsável por enviar impulsos sensoriais para o córtex cerebral. A consciência da Anahi depende da constante transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro, porque essas áreas estão ligadas por caminhos neurais. Qualquer interrupção nestas mensagens pode colocar a pessoa em um estado alterado de consciência, e é isso o que está acontecendo agora, mas isso não quer dizer que ela esteja morrendo só que o trauma que ela sofreu foi muito forte e agora que estão aparecendo os problemas é que poderemos soluciona-los.
- Eu não entendo. Quer dizer que isso pode...durar? Vocês não diziam que depende da Anahi?! Vocês disseram! - disse Alfonso nervoso finalmente reagindo a algo.
- Sim Alfonso, realmente depende dela. Não há nada que possamos fazer por enquanto, já foi um grande feito o bebê ter sido salvo.
- Pensei que fosse uma espécie de coma induzido. - Dessa vez Julie disse furiosa entrando no meio de Alfonso. Não podia acreditar no que estava ouvindo.
- O coma induzido é comum para recuperar o cérebro de um indivíduo que tenha sofrido derrame, traumatismo craniano...
- Hemorragias... - Kevin falou finalmente se pronunciando naquela noite. Acabou por aprender um pouco de medicina em sua época de voluntariado na Somalia. Jennifer era médica e sempre explicava o que podia a ele.
- Sim, também. Mas Alfonso - disse se voltando novamente para o rapaz - estamos fazendo tudo o que podemos. Eu costumo acreditar que sou o melhor no que faço. As estruturas cerebrais delas podem estar frágeis mas eu, Dr. Harrison, me comprometo a fazer o impossível para que sua mulher responda aos estímulos. Eu só quero que esteja preparado para quando ela acordar porque muita coisa pode acontecer.
- Muita coisa? Como o que? Doutor o que pode acontecer com minha filha? - Tisha disse já quase chorando. Era coisa demais para que ela pudesse suportar , e estava segurdando a barra por ela e por Enrique, então ouvir aquilo foi demais para ela. Enrique a abraçou forte, sentindo toda a culpa cair por cima de seus ombros novamente.
- O senhor não respondeu a pergunta dela - disse Clarisse que até então não havia se feito notar no hospital - Muita coisa como o que pode acontecer?
- Muita coisa como seqüelas motoras, sensitivas, intelectuais, convulsivas ou até no comportamento dela.
- Pelo amor de Deus cara, seja mais claro com a gente! Não vê que estamos desesperados? Haja como uma pessoa e não como um robô programado! - Maite já estava sem paciência. Não sabia como lidar com tudo isso, pensava e se preocupava com a amiga a todo instante. Sequer havia feito um exame clínico para confirmar se estava grávida, porque sentia que nada era mais importante naquele momento do que sua amiga. Estava brincando com algo sério.
- Quer dizer que Anahi pode acordar sem os sentidos completamente funcionando, dentre outras possibilidades mas que principalmente pode ter sua memória afetada total ou parcialmente. - o silêncio que se seguiu no meio de treze pessoas fora o médico foi enlouquecedor. As palavras ficaram pesando na cabeça de todos por alguns instantes e o médico sabia que este era o momento de se retirar - Vocês precisam aguardar mas peço que confiem em mim. Anahi e também Miguel ficarão bem. Vocês estão em um dos melhores centros de traumatologia de Seattle, sabemos o que estamos fazendo, fiquem tranquilos.
Antes que Alfonso pudesse protestar o bip do doutor Harrison apitou e ele se viu "sozinho" olhando para o nada no meio do corredor enquanto todos outros ali se perdiam em uma própria preocupação.
Não conseguia mais suportar aquilo.