Já passava das oito horas da noite, e o meu pai e o tal de Armando, seguiam trabalhando. Não aguentava mais ficar enfurnada em um quarto com aquele garoto. Ele tinha começado a mexer nas minhas coisas e ficava questionando tudo, como por exemplo "Por que você usa esse trapo?" "Você que arruma seu quarto?" "Esse Cd é seu ou você pegou da sua vó? ". A cada minuto, eu sentia uma vontade louca de realmente ter uma faca debaixo da minha almofada.
O convenci a descer pra comer alguma coisa e foi o único momento que não quis mata-lo porque ele estava com a boca cheia e ficou calado. Ele havia arruinado o resto da minha tarde, literalmente. Eu poderia ter feito muitas coisas se ele não estivesse aqui, mas agora eu precisava me arrumar pra sair e ele disse.
- Tudo bem, to terminando e já vamos. - ele resmungou
- Você não entendeu, eu vou ir tomar banho, me trocar e você vai ter de ficar aí. - Ótimo, além de idiota, inconveniente era pervertido também.
- Garota, tem um banheiro lá dentro, eu posso ficar no seu quarto sem te ver.
- Não! Larga de ser intrometido ! Já ouviu alguma vez na sua vida a palavra P-R-I-V-A-C-I-D-A-D-E ? - Soletrei já sem paciência com o idiota.
- Não seja ridícula, eu não quero te ver sem roupa. Só não quero ficar aqui, eles vão me chamar pra ajudar! - ele explicou com uma ponta de suplica no final, e eu quis rir da cara do mané, mas ai eu me toquei do inicio da frase e o olhei com desdém.
- Pouco me importa seus problemas, você fica ai. Bye querido.
Sai sorrindo vitoriosa, pois o deixei lá bufando. Com sorte, meu pai chamaria o senhor Esbarrão pra ajudar,e o encheriam de trabalhos, então ele não terminaria a tempo pra ir no Bar do Ryan, que era um amigo da galera, mas era um tanto mais velho.
Entrei no quarto o trancando rapidamente e fui separar uma roupa para usar. O problema é que eu fiquei mais nervosa ainda,porque me lembrei de Poncho chamando minha calça predileta de trapo. Se Julie estivesse aqui, a faria escolher uma roupa que calasse a boca do idiota, mas ela estava na casa da vovó junto com minha mãe, Dave e Brad.
Vasculhei tudo em busca de algo legal, até que separei um short social preto, junto com uma blusinha azul que ganhei de Julie a algum tempo e um blaiser preto, pronto, era só colocar uma sapatilha que combinasse e eu estaria ótima. Quero ver o metido chamar minhas roupas de trapos.
Quando desci correndo tentando sair escondida, fui agarrada pelo braço e Poncho me virou pra ele.
- Tava fugindo do FBI Anahí? - ele riu
- Não, de você mesmo. - sorri sem mostrar os dentes.
- Falhou de novo. Você vai me dar uma carona. Já estou indo pro bar também.
- Não vou não!
- Ah vai sim, seja educada.
- Ah garoto, você não tem carro não?
- Claro que tenho senhora, mas no dia em que eu te mostrar ele, entenderá porque não quero usa-lo.
Me soltei de seu braço e me virei indo em direção a porta.
- Se vira. Beijos. - Eu ia abri a porta e ele passou por ela me seguindo, quando entrei no carro, ele entrou no banco do passageiro.
- Qual é, não custa nada, estamos indo pro mesmo lugar. -ele pediu sério dessa vez, tentando ser educado.
- Ok, você venceu, mas eu acho melhor não abrir a boca, senão te jogo porta a fora com o carro em movimento.
Eu liguei o carro, bufando por ter que aturar Poncho. Eu nunca havia o visto e quando acontece, sou obrigada a ficar com ele o dia todo? Isso é carma, só pode.
- Sabe Anahí, se você não fosse tão mal educada, eu poderia te dizer que você está estupidamente linda desse jeito.
Uma corrente elétrica passou por meu corpo naquele momento. De onde esse menino vinha? Ele não era nada normal. Apertei minhas mãos sobre o volante em busca de sentir meus pulsos que fraquejaram e disse:
- Calado!
E assim continuamos durante todo o caminho.