À medida em que o tempo ia passando, Alfonso e Kevin acabaram se aproximando. Sim, depois da parada cardíaca de Anahi, o parto precoce... Era de se imaginar que a raiva de Alfonso aumentaria e ele acabaria matando Kevin. Era meio lógico.
Mas no meio disso tudo, ninguém o entendia. Todos viviam o olhando com pena, como se ele fosse um miserável, e isso o corroía por dentro e por fora. Ao menos brigando com Kevin, ele não tinha que lidar com pena alguma e conseguia notícias de Luna embora Kevin dissesse que não daria nenhuma informação do caso pois deveria ser imparcial. Não sabiam dizer até quando isso iria durar, mas era o que tinham por enquanto.
Alfonso pôde começar a ver Miguel e pega-lo no colo todos os dias uma vez que a utilização do método canguru era bastante utilizada em bebês prematuros, então os braços do pai fazia muito bem ao bebê, e bom, aquele era o momento favorito de Alfonso.
Os familiares e amigos estavam completamente apaixonados pela criança e sentiam com a chegada dele uma esperança de que Anahi acordaria pelo filho, que abriria aqueles olhos azuis para o mundo novamente e esse pesadelo teria fim.
Aliás, ali estava uma surpresa, os olhinhos de Miguel eram verdes como o do pai. Será que Anahi se sentiria tão encantada como dizia que ficaria antes de ter terminado tudo com ele?
Naquele fim de tarde Anahi saiu do isolamento e desceu novamente para seu quarto. Alfonso não tentava mais entender o estado de saúde dela, apenas permanecia ali com ela e por ela.
Quando a preocupação apertava demais, ele preferia se lembrar de sua conversa com Julie... "Anahi é uma Puente, somos todos vasos ruins e você sabe o que costumam dizer sobre vasos ruins" "É, eu sei, eles nunca quebram" respondeu. Se lembrava disso, e tentava permanecer de pé.
Entrou no quarto e verificou se estava tudo bem com ela e iria para casa cuidar do quarto de Miguel. O quarto de Anahi estava claro e iluminado e não era bom porque isso a assustaria quando acordasse. Estava prestes a pedir a uma enfermeira que cuidasse disso quando viu o celular dela dentro de uma pequena mala com seus pertences. Não se lembrava de ter pedido a ninguém que trouxesse.
Ele sabia a senha então desbloqueou a tela do celular, talvez por curiosidade. Ficou completamente surpreso quando viu que o celular dela ainda era completamente lotado de fotos dos dois. Tinha até fotos bem antigas, que ele sequer lembrava. Eles eram felizes, eram amigos, eram cúmplices e apaixonados. O olhar de devoção deles era nítido em cada uma das fotos e se perguntou como nunca pode prestar atenção nisso, nesses pequenos detalhes. Sorriu bobo com uma foto deles fazendo caretas. Se lembrava daquele dia como se fosse ontem...
Era fim de ano, estavam todos empolgados na universidade com o final das provas. Alfonso como presidente da Alpha resolveu dar uma festa na republica e esta seria daquelas bem planejadas.
Observava da sacada de seu quarto a movimentação na república, todos dançando lá em baixo loucamente sem se preocupar com a ressaca do dia seguinte. Ele sorriu, a faculdade era uma loucura mesmo.
Olhou mais minuciosamente para o pessoal lá embaixo em busca de sua namorada. Anahi geralmente se atrasava para festas, mas nunca para as dele. Tomou mais um gole de sua bebida e olhou para o meio do pessoal avistando-a.
Se lembra até hoje do momento em que a viu nessa festa, era aliás a mesma festa na qual tem uma foto dela em seu escritório em Nova York, e agora sabia que ela tinha também uma foto daquele dia no celular. A música tocava altíssima envolvendo a todos e ele a avistou dançando lá em baixo com suas amigas Megan e Estefânia.
Ela estava deslumbrante em um tubinho preto que ele odiava porque chamava a atenção dele, e de todos. Mas nem pensou nisso enquanto a olhava, só a admirava enquanto ela dançava com os olhos fechados, sentindo a música, os longos cabelos que estavam na cor chocolate que ele tanto amava soltos com os seus cachos balançando junto com ela, no ritmo do som. Ela não parava e rebolava de um lado para o outro, então ele sente um incômodo surgir entre suas pernas, ela o excitou apenas com uma dança e ele nem estava lá com ela. Ela abre os olhos rapidamente e sorri para as amigas. Não precisava estar perto delas para imaginar a intensidade daqueles olhos azuis. Era uma dança insinuante e se ele não tivesse ali vigiando-a de longe diria que ela estava tentando provocar alguém em específico, mas Anahi nunca provocaria alguém se não ele mesmo, embora ela por si só já fosse uma provocação para ele e para muitos idiotas que a admiravam. Ela irradiava beleza, felicidade... Era de longe a mais bela dali, e era sua, somente sua.
Alfonso termina de tomar mais um gole da bebida e resolve descer atrás dela. A música troca, e ela volta a dançar enquanto ele ia abrindo caminho entre as pessoas. Uma vez que era nem era tão difícil assim pois as pessoas pareciam dar passagem à ele por contra própria, rapidamente ele chega até a namorada. Ela não parava de dançar então ele a tocou no braço. Quando ela se virou ele recebeu um sorriso angelical dela.
- Oi. - foi só o que ela disse sorrindo. - Você é? - disse divertida. Talvez já tivesse bebido um pouco.
- Oi - colocou a mão na cintura dela. Ela estremeceu como quase sempre fazia quando ele a tocava em um ato de posse - Eu sou Alfonso, presidente da república. E você quem é?
- Anahi. Presidente da republica Beta logo ali do outro lado do campus. Do que precisa Alfonso?
- Bom, é que eu estava ali em cima - disse apontando para a sacada de seu quarto no último andar - observando o andamento da festa. Quer dizer, minto, eu estava na verdade atrás da minha namorada, e aí eu te vi e achei você a garota mais gata de toda a festa, não resisti e tive que vir conferir de perto.
- Oh, você tem namorada? - ele assentiu - E está me cantando!? - ele assentiu e ela se fez de indignada - Olha, não vai dar, também tenho namorado.
Ele aproximou- se mais colando seus corpos, chegou perto do ouvido dela e disse sorrindo malicioso - Não acho que os dois vão se importar. Afinal, você quer muito isso. - beijou e mordiscou sua orelha a puxando mais para si, o corpo dela esquentou e ela fechou os olhos. O mais simples toque vindo dele era coisa de outro mundo e ele sabia disso.
- Quero? - Perguntou ela ainda se balançando um pouco pela música, ele a acompanhou.
- Sim, caso não quisesse não estaria dançando tão provocantemente agora a pouco.
- Ainda bem que percebeu, pensei que não ia entender nunca que eu já sabia que você estava me vigiando como sempre. - ela disse rindo saindo do seu personagem e sendo ela mesma agora.
Eles se beijaram sorrindo entre o beijo de forma doce e ao mesmo tempo com uma necessidade maluca os rodeando.
Esses momentos mais simples eram os que mais marcavam Alfonso. Aqueles em que os dois se divertiam envoltos em sua bolha particular, sem medos, sem nada e ninguém entre eles, onde ele podia admirar a risada doce dela, gravar cada uma de suas expressões, se perder nos olhos claros dela e aproveitar cada um de seus beijos.
Ele daria tudo o que tinha e não tinha, qualquer coisa, para ter esses momentos de volta.
Decidiu ir logo se despedir do filho, chamar a enfermeira e ir para casa, mas não sem antes aproximar de sua ex-noiva sorrindo calmo.
- Volte pra mim meu bem, venha me incomodar, porque é muito dificíl viver sem você.
A passos lentos ele se afastou, olhando para trás antes de fechar a porta como todos os dias, pois tinha a esperança de que nesses momentos ela poderia abrir os olhos e chamar por ele.
Mas mais uma vez isso não aconteceu. Ela não acordou.
Até que ele fechou a porta.