Anahi saiu do quarto com a respiração falha, o coração parecia que ia sair pela boca.
Jurava a si mesma que não iria se vitimizar mais, pois não queria ser essa pessoa, mas era tão diicil. Cada dia era uma batalha diferente.
Deixou sua mãe sozinha chorando com o coração em pedaços para ser bem sincera. Sentia pena da mãe, até conseguia entender seu medo e compreendia também que não deve ter sido nada fácil. Só que ao mesmo tempo não entendia porque a mentira. Anahi era prova viva de que as mentiras podiam destruir, podiam causar dor, separação e acidentes. Isso mesmo, a mentira era traiçoeira e ponto final.
Ela pensava que as pessoas só podiam ser muito cegas ao mentir. O que faz as pessoas acreditarem que seriam odiadas sempre, sem exceção ao contarem a verdade? Enrique podia muito bem ter acreditado nela, se o amor dos dois era tão sólido. Ela poderia ter estado ao lado de Alfonso se ele não tivesse escondido Ian.
E naquele momento era só isso que ela conseguia pensar, mas as coisas poderiam mudar. Só que não agora.
Andava pelos corredor sem rumo quando deu de cara com Julie, se assustando.
A irmã vinha praticamente saltitando, como uma criança, com o mesmo sorriso no rosto de sempre. Dave realmente sabia fazer sua irmã feliz, e ela era muito grata por isso.
-Nerd, ainda bem que achei você! Preciso que me ajude a escolher algumas coisas para o quarto do Miguel! Aquela cor que você escolheu deixa tudo muito ... Espera, você tá chorando?
Anahi não estava chorando, mas seu rosto e seus olhos a entregavam. Tratou logo de forçar um sorriso para a irmã.
-Eu...eu estava emocionada, me lembrando de algumas coisas do passado, mas eu já to melhor. Você sabe, eu sou uma chorona.
Julie devolveu o sorriso, acreditando rápido demais em sua irmã.
-Já sei... Alfonso não é mesmo?
-Sim. As coisas não foram tão fáceis como imaginamos sabe ... - continuou com a mentira.
-E você estava lembrando disso no quarto da mamãe? Anahi, você está mentindo pra mim. Não tem nem vergonha nessa cara. O que houve?
Anahi queria poder se abrir com ela. Se tinha alguém que realmente poderia ajudá-la, esse alguém era Julie. Ela era sua irmã, amiga, fada madrinha, seu maior alicerce quando tudo parecia sem solução.
Mas aquilo já era demais.
Sua irmã era feliz, era realizada e completa. Anos atrás a única coisa que havia lhe machucado, foi ter que fugir de Seattle para viver seu sonho, e desde então, ela tem se esforçado para ser a filha perfeita para Enrique e Tisha, coisa que Anahi jamais havia tentado realmente.
Julie tinha o conceito de família em mais alta estima. Era a alegria da casa, sempre bem humorada, acabando com qualquer clima ruim ou tristeza, era algo natural dela. Dizer a verdade a ela, dizer que toda aquela ideia de amor perfeito que seu pais vendiam para elas era a maior mentira, poderia destruir o mundo cor de rosa dela.
Anahi não queria isso. Não queria ser egoísta o suficiente para causar dor a sua irmã, só para não ter que aguentar a barra sozinha. Julie não merecia isso, não depois de tudo que fez por ela.
-Julie seria muito pedir para você não se envolver nos meus problemas só dessa vez? - Julie a olhou perplexa. Anahi estava recusando sua ajuda!?
-Mas...- Julie parou, ainda pensando no que poderia ter acontecido - Okay, se você quer assim...Mas o que faço com essa decoração? - disse apontando para o catálogo em sua mão.
-Pode escolher você, o que quiser. A vovó pode te ajudar. - e saiu praticamente correndo, não suportando ter que mentir para sua irmã.
Ao virar no corredor seu corpo de bateu contra algo. Era Dave.
-Annie, o que aconteceu? - perguntou assustado.
- Ah não! Você também não! Por favor! - disse dessa vez sem paciência.
-Calma, o que houve? Por que está assim eim? - disse a puxando para si.
Dave era uma zona neutra. Ela sempre contou com ele na época de seu ralacionamento com Kevin. Tudo bem que os conselhos dele eram sempre malucos, mas ele a ouvia e não a julgava. Além de tudo, sabia ser imparcial.
Por isso naquele momento ela se sentiu segura para colocar para fora o que estava engasgado. Não contar a verdade, mas chorar.
-Calma Annie. Tudo bem nerd - disse a chamando pelo apelido que sua irmã usava com ela - Vai ficar tudo bem. Não fica assim!
-Eu não suporto mais Dave. Não era para eu estar assim... Não era! - disse se deixando chorar.
Anahi chorou por alguns segundos abraçada com o cunhado até que conseguiu acalmar novamente os ânimos e ele a perguntou se ela queria conversar.
-Não Dave, obrigada, mas não. Só não conta isso pra Julie ta? Não quero ela no meu pé hoje.
-Está bem. Mas Annie, só não se esqueça de uma coisa...O que quer que esteja acontecendo, você vai ficar bem, você só precisa pensar um pouco mais alto. As pessoas erram, mas erram por amor. Pense nisso okay?
Anahi não podia fazer nada, apenas assentiu, meio confusa. Era possível Dave estar sabendo de alguma coisa?
Não querendo ficar por mais tempo ali para confirmar sua teoria, simplesmente saiu dali, sem querer dar mais explicações.
Anahi se sentia sufocada. Queria falar com o pai, queria cuidar dele, mas não sabia como fazer isso sem destruir sua família. Á esta altura os associados da empresa deviam estar loucos atrás de seu pai, foi por isso que Alfonso disse ter conseguido desativar o chip dele por um tempo, até que ela explicasse o que aconteceu com Jonathan Wilde.
Não parecia tão difícil assim, antes do velho jogar todas aquelas verdades na sua cara. Como explicar ao seu pai que Jonathan Wilde o odiou durante todo este tempo, que ele roubou sua empresa por anos e tentou matar sua filha, mais de uma vez, sem querer contar que no fim das contas ele fez tudo isso porque era obcecado pela sua esposa que era sua ex-namorada em ele saber?
Ela tinha em mente que não podia magoar mais ainda sua mãe, e contar um segredo que era dela, mas que tinha vontade de limpar toda aquela sujeira contanto a verdade, ah isso ela tinha.
E foi nessa confusão de ideias que ela saiu porta a fora atrás do seu motorista. Precisava estar em uma zona neutra, longe de toda aquela sujeira.
[...]
-Oi meu amor. Como estamos hoje eim? - disse Anahi sorrindo.
Sentada, segurava Miguel em seu colo, utilizando do mesmo método de sempre, chamado canguru. Tinha todo o cuidado do mundo com Miguel, parecia que ele era de porcelana.
-Ele logo poderá voltar pra casa senhorita Anahi. - disse a enfermeira gentil. Anahi passava todo o tempo que podia ali, e fazia muitas perguntas, isso fez com que ela se aproximasse das pessoas que ali trabalhavam. Sorriu para a enfermeira esperançosa que continuou - Ele já está quase no peso ideal e ja vai completar as semanas de uma gestação normal. Aguente firme Anahi! - disse a enfermeira esperançosa.
Anahi sorriu confiante, embora não pudesse deixar de passar pela sua cabeça que era para seu filho estar nascendo agora.
Discretamente a moça deixou Anahi um pouco a sós com a criança embora não fosse sequer permitido.
Anahi fechou os olhos e inspirou forte, sentindo o cheiro de seu bebê. Miguel era sua vida agora, nada mais importava.
-Filho, as coisas não estão fáceis para a mamãe agora, mas sabe...quando estou aqui com você, as coisas parecem melhores do que realmente são. Eu queria estar sempre com você assim, no meu colo, recebendo carinho da mamãe e passando forças pra ela. - disse baixo e calmamente, falando de si mesma na terceira pessoa. Não reparou na pessoa que a observava de longe, curioso para saber sobre o que tanto ela falava. Sorrateiramente Alfonso aproveitou a distração de Anahi, e se aproximou mais ficando atrás dela, longe o suficiente para que ela não sentisse sua presença, mas perto o suficiente para ouvi-la. - A tia Ju está fazendo um carnaval no seu quarto, está uma bagunça, mas espero que você goste do seu lar meu bem. - foi então que ela pensou um pouco antes de prosseguir, parecia ter perdido a fala por um momento chegando até a preocupar Alfonso. Será que ela havia se engasgado com o próprio choro? Bom, ele podia jurar que como sempre ela estava prestes a chorar - É meio estranho chamar lá de lar, eu sei. Para mim, nosso lar, é junto com o seu papai, mas ele anda se esquecendo disso - Alfonso respirou fundo, sentindo o coração descompensado. Aquilo não era atuação, ela não podia saber que ele estava ali. Miguel começou a chorar e ela de pronto o acalmava - Eu sei meu amor, eu sei. Eu amo seu pai, eu amo vocês, a gente vai dar um jeito nisso... Nós sempre damos. Quem sabe, com sorte não lhe damos uma irmãzinha? Vamos lutar para dar certo meu amor, mas você precisa sair logo daqui né? - disse para o bebê ainda choroso.
Aquilo pegou Alfonso de jeito. Ele tinha sonhos, ele tinha planos, e a cada dez desses planos, dez envolviam Anahi. Nesses planos ele estaria casado com ela, com Luna em seu colo enquanto ela segurava Miguel. Eles acordariam no domingo de manhã prontos para o dia em família. Luna ia brigar para levar o Toddy com ela para onde quer que fosse s Miguel ia estar com os primeiros dentinhos nascendo... Havia pensado em cada detalhe durante o coma de Anahi que nem entendia como aquilo podia chegar a não acontecer.
Louco para se livrar dessas ideias, resolveu se mexer e balançou a cabeça negativamente espantando os sonhos.
-Tem sido um dia longo. - disse de aproximando, Anahi vira a cabeça, assustada. Não sabia que ele viria hoje - Sabe, sentado naquela minha cadeira por um longo tempo depois que você foi embora, eu pensei "Anahi deve estar se sentindo um caco, sozinha...", mas não pensei que fosse desabafar com um bebê. Sabe que Miguel não está entendendo nada não sabe? - disse na tentativa de tirá-la do sério. Uma Anahi nervosa, era melhor que uma Anahi triste.
-Eu estou um caco, se quer realmente saber.
-Estou vendo, só não passe suas frustrações para o meu filho okay? Eu ficaria agradecido. - disse com um sorriso de canto. Anahi riu.
-Fique tranquilo. - ele assentiu fazendo com que a conversa morresse e silêncio pesasse. Anahi fazia carinho no filho quando se deu conta do que falava antes dela perceber a presença de Alfonso - Espera, você...?
-Eu...?- disse ele estimulando a pergunta.
-Você tá aqui há muito tempo? - perguntou tentando ser discreta. Mas Alfonso entendia muito bem qual era sua preocupação.
-Não, mas ouvi o que você erva conversando com Miguel. - disse simples.
-Alfonso, eu ... Sabe...droga, você sabe, você ouviu. - disse nervosa. Ele sabia que ela queria voltar pra casa, que queria sua vida de volta. Meu Deus, ouviu até a parte da "irmãzinha"
-Como está sua mãe? Você contou para ela o que descobriu? - disse como quem quisesse cortar o assunto sobre "eles". Anahi entendeu o recado e decidiu atender ao seu pedido, precisava realmente conversar.
-Minha mãe está como deveria estar...preocupada.
-Não me diga que realmente ela ...? Sério Anahi? - disse Alfonso perplexo.
-Não exatamente. Wilde disse meias verdades. É uma história um pouco longa, seus pais fazem até parte dela! - disse tentando se fingir de indiferente.
-Acho que eu tenho tempo o suficiente para ouvir uma longa história.
-Então senta aqui que essa conversa vai ser demorada.
E foi assim que ela contou a Alfonso tudo o que a mãe havia lhe dito. Miguel adormeceu nos braços do pai e ali ficou até que a enfermeira os expulsassem de lá. Como sempre havia sido uma luta para que eles se despedissem do filho, mas as enfermeiras já tinham até se acostumado com os dois. Logo depois de muita resistência eles desceram enquanto Anahi terminava de falar com ele sobre o ocorrido, sobre ela ter decidido não contar nada a Julie, sobre também não ter conseguido olhar na cara do pai, porque ela não sabia o que fazer ou dizer.
Ao chegarem no estacionamento, o motorista não tão bonitão de Anahi já a esperava, e ela lamentou por isso, pois poderia pedir uma carona para Alfonso, mas ainda estavam absortos na conversa.
-Anahi, sabe que se sua mãe contar ao Enrique o que aconteceu, ele pode não entender, pode não acreditar nela sobre aquela noite e achar até que você não é mesmo filha dele. Isso pode destruir sua família! Será que você quer isso mesmo?
-Não! Não! - disse negando. Era isso que a estava impedindo de abrir a boca para seu pai afinal de contas - Eu só não sei o que fazer! Eu não sei como olhar pro meu pai hoje e não lembrar do que descobri, não sei como olhar para a minha mãe! Acho que estou com muita raiva por ela ter sido capaz de aturar ele calada, por ter se envolvido com alguém tão sujo, por não saber de nada e agora, eu tenho medo de que eu seja filha dele! Alfonso, eu não suportaria uma coisa dessas!
-Sem dúvidas, eu te entendo. Mas ela negou não negou? - Anahi assentiu - Dê esse voto de confiança a ela Anahi. Eu duvido que você seja filha daquele filho da mãe.
-Mas eu tenho medo, eu ... Eu não sei. É complicado pensar! Minha mãe não podia ter nos deixado às cegas, olha até onde ele chegou!
-Anahi, coloca uma coisa na sua cabeça, sua mãe foi tão vítima quanto você, quanto o Enrique ou qualquer outra pessoa. Pelo amor de Deus, abre essa mente! Muda! - disse tentando fazê-la sair daquela bolha de pessimismo, de achismos que ela vivia. Aquilo o enlouquecia. Amava Anahi demais e sabia que enquanto ela não abrisse a mente, nunca ia ser complemente feliz.
-Eu ainda não consigo! Eu já disse, não consigo pensar!
Alfonso parou de andar subitamente, colocando as mãos na cintura jogando o paletó para trás.
-Anahi, não precisa me responder, mas se você errasse, se você cometesse um erro grave...como a Tisha, você ia querer o perdão de Miguel não iria? Você não ia querer que ele visse seu lado? - Anahi engoliu em seco - Se coloca no lugar da Tisha e eu te garanto que você vai saber o que fazer.
Sem dizer mais nada, Alfonso se aproxima dela, lhe dando um beijo na testa e saindo em direção ao seu carro, deixando-a parada no meio do estacionamento com muitas coisas a se pensar.