[Anahi narrando]
Eu estava na sacada com Poncho, enquanto preparavam o jantar, sentada em um banco de madeira que era onde eu sempre ficava quando queria respirar ar puro e esquecer os problemas. Eu gostava do silencio e de observar o que acontecia na rua vazia de minha casa, contemplando o verde do jardim, a lua quando a mesma dava as caras, porém era agosto, pleno verão e lá estava ela.
- Anahi, vai ficar calada? Isso esta me agoniando! - Poncho disse.
Eu queria muito ter algo útil a dizer, mas agora que Poncho estava ali ao meu lado, o fato ocorrido hoje mais cedo sobre Kevin, estava rondando minha cabeça como não esteve durante toda a tarde. Será que eu precisava falar disso com Poncho? Certamente não. Ele sequer demonstrou simpatia por meu ex, e isso daria um motivo para ele rir da minha cara e dizer que sou uma tola. Mas não, Poncho não era assim, e eu estava maluca , me corroendo para falar disso pra ele, justo com ele, como se tivesse escondendo um crime e isso me enlouquecia por dentro.
- Poncho.
- Oi.
- Aconteceu uma coisa hoje. - eu disse me virando pra ele.
- O que houve? - Ele me olhou seriamente, com uma expressão franzida e eu me senti feliz, porque apesar do semblante de preocupação, eu me senti confortável com o fato dele se importar comigo, mesmo que eu ainda nem tivesse dito sequer uma palavra.
- Hoje quando me ligou, eu estava na internet e ... Sabe, Kevin estava online. - disse um pouco baixo a ultima parte.
- O QUE? - Seus olhos se tornaram mais escuros, transparecendo um olhar de apavoramento que eu desconhecia. - Você...tipo, v-vocês conversaram? - ele gaguejou a ultima frase e eu fiquei confusa com essa reação de Poncho.
- Não! Não cheguei a conversar com ele embora tenha me chamado.
- Han? Meu Deus Anahi? Agora que me conta essas coisas? O que esse idiota fazia online? Lá eles tem acesso a esse tipo de coisa?
- Hey, calma! Que maluquice é essa Poncho? Por que está assim? - o olhei seria. Ele parecia de novo o mesmo Poncho que estava no refeitório mais cedo e eu me assustei.- Além do mais, não grite, você prometeu não fazer mais isso.
- Mas...- ele suspirou, mas era como se estivesse bufando pra ser sincera e balançou a cabeça em sinal de negação. - Me desculpa Annie, mas ele te fez sofrer! Como tem coragem de te procurar? Eu não entendo isso! - levou sua mão em seus cabelos bagunçando-os levemente e mesmo tensa, eu admito que foi sexy tal cena. "Foco Anahi" -Por que você não o respondeu?
- Meu celular tocou com você ligando e eu fui atender, então deixei quieto. - Por que eu estava dando explicações? E por que eu fui inventar de tocar no assunto com Alfonso?
- Anahi, preciso te perguntar, mas por favor, como seu amigo, quero que seja sincera ok? - eu assenti. O que ele queria? - Você o ama? Quer dizer, ainda, o ama?
A pergunta me pegou de surpresa e eu me vi sem saber o que responder, então fiquei uns segundos em silencio, tentando responder isso para mim mesma, mas resolvi ser sincera.
- Não sei Poncho, de verdade. Com ele lá e eu aqui, a palavra "amor" me parece um tanto quanto relativa sabe? Achava que era amor quando estávamos perto um do outro porque ele era meu tudo, mas longe, sem a convivência não tive tempo de pensar direito se é amor. Sei que fiquei um bom tempo aqui, sofrendo, mas acho que era o sofrimento da perda, sofri com o fato da ida, no entanto, o fato dele não estar aqui, não me causa felicidade, não serei hipócrita, mas também não muda minha vida entende? Eu estou bem e acho que estou até mais do que no começo do ano. - ele me olhava serio, como se tentasse me analisar, porém eu só conseguia ouvir sua respiração desuniforme de vez em quando tomando minha atenção. - Acho que mesmo que eu tenha relutado em aceitar, o que havia entre eu e Kevin acabou. - Não sei se disse a ultima frase para Poncho ou mais para mim mesma, mas disse com firmeza, e pela primeira vez, não senti vontade alguma de me esconder, chorar ou algo do tipo com tal afirmação.
Poncho me olhava intrigado, ainda confuso.
- Acabou? De verdade?
- Sim, creio que sim. - dei de ombros.
- Hm...Sabe, não acompanhei o que houve entre vocês, graças a Deus - HAN? O olhei confusa e um tanto surpresa. O que ele queria dizer com isso? - Quer dizer, não sei se conseguiria te ver sofrendo porque sou seu amigo e me importo, mas acho que algumas coisas acontecem porque realmente tem que acontecer, não porque o fulano quis, ou simplesmente foi uma escolha ...nossa, não sei nem o que estou falando - ele riu entrelaçando suas próprias mãos - mas o que quero dizer é que tudo tem um motivo e acho que seu namoro não é diferente, pois sempre tem algo melhor para acontecer em nossas vidas Anahi. Olha pra mim! - apaontou para si mesmo - Eu era um rebelde sem causa e odiei sair de Nova York, mas não me lembro de ter me sentido tão completo, tão "no lugar certo" como estou agora. Sinto que aqui é o meu lugar e isso foi melhor pra mim. Então, acho que você deve esquecer o passado e seguir adiante, porque coisas maravilhosas vão acontecer e você terá alguém melhor, uma vida melhor, como sempre sonhou.
Eu fiquei sem palavras. Alfonso não era de fazer grandes falas, ou de dar concelhos a ninguém, essa era eu! Sua função era fazer uma piada sarcástica ou ter uma atitude drástica para ajudar os amigos.
- Hm, Alfonso dando uma de psicologo? - eu ri - Gostei de ver - ele revirou os olhos em desacordo com minha brincadeira- Mas agora é sério, eu entendi o que quis dizer e está certo em tudo.
- Pois é. Você merece ser feliz linda - ele disse tocando levemente meu queixo e eu sorri nervosa.
- É, quem sabe, eu não me apaixono, caso, tenho filhos,essas coisas e blablablá - ele ri e eu também - e então isso tudo vai ser só uma pagina da história né.
- Exato! - ele sorriu e eu fico em silencio. E se... E se fosse Poncho? E se eu me apaixonasse por ele , como seria? Será que eu seria correspondida, ou seria apenas mais uma pessoa em sua vida? E se por um acaso, ele dissesse que sente o mesmo, mas logo depois tivesse que voltar para Nova York? "Chega Anahi! Pare de pensar besteiras!" Disse a mim mesma. - Mas sobre se apaixonar, você precisa saber de uma coisa Anahi.
- O que? - Não sei como explicar, mas meu corpo teve uma reação a sua ultima fala. Sabe quando se tem em mente uma noção do que a pessoa te diria em meio a uma conversa? Algo ascendeu como se eu tivesse na expectativa de uma resposta a altura para o que a sensação de nervoso pedia. Mas de repente a porta de abre.
- Anahi? - Dolores sai e me vê na varanda.
- Oi Dolores.
- A dona Tisha disse para vocês entrarem, pois já vão servir o jantar.
- E o meu pai? Ele não chegou! - eu indaguei. Será que meu pai começaria de novo com essa maluquice de chegar tarde todo dia?
- Ele disse que teve uns problemas, com o sócio dele, o... Armando e está na empresa ainda.
- Meu pai esta lá ainda? Nossa- Poncho disse e se levantou, estendendo a mão para mim. -Vem Annie, vamos entrar.