Fanfic: The Dark Presence | Tema: sobrenatural, Alan Wake, Silent Hill
Prólogo
- Eles estão chegando perto. Anda logo! – vociferou Dario, enquanto corria infatigavelmente em direção à mata profunda.
Robert, que já caminhava em ritmo lento e receoso, parou por um momento, hesitante. Contemplou a densa floresta que se encontrava à sua frente, nebulosa, macabra e taciturna, com uma aparência evidente de quem não queria ser incomodada. Então deu apenas um passo adiante, numa tentativa desesperada de clarear a mente do companheiro.
- Cara, você não está entendendo – respondeu ele, com a voz tensa – A gente não devia estar aqui. Não viu as grades e os avisos? Não ouviu o que as pessoas falam desse lugar?
Dario, um homem alto, corpulento e levemente calvo, que carregava um saco repleto de joias preciosas, diminuiu sua velocidade e se virou para trás, encarando o parceiro de assalto.
- E onde você acha que deveríamos estar? No banco de trás do carro da polícia, algemados, a caminho de um presídio, como provavelmente está Isaac? Pelo amor de Deus, Robert, não são essas superstições ridículas que vão me levar à cadeia. Vamos, não temos mais tempo!
- Mas... – começou Robert, antes que as palavras se desvanecessem em sua boca e o amigo lhe virasse as costas outra vez. Mas está tudo acontecendo conforme aquela página, pensou ele. Tudo. O clima, os disparos, a polícia, as pessoas da joalheria; tudo está acontecendo de acordo com aquela maldita página...
E então, para sua angústia, Robert reparou que até as suas próprias falas e pensamentos haviam, de alguma forma, sido previstos na página. Era uma noite gélida, sombria e agourenta, quando a escuridão finalmente despertou e ascendeu das profundezas do inferno, lembrou-se de ter lido. Olhou para cima, confirmando, no clima da noite, todas as características descritas. Recordava-se perfeitamente não só do parágrafo inicial do manuscrito, como também de todo o resto. De todo o resto... De toda a desgraça que se aproximava.
Sem alternativas, vencido pela obstinação de Dario, Robert pôs-se a correr novamente, tentando alcançar seu comparsa. Quem sabe tudo aquilo não fosse apenas algum devaneio estapafúrdio de sua cabeça? Podia estar apenas ficando louco; afinal, somente um tolo acreditaria em páginas que vaticinam o futuro; ou nas histórias que os fazendeiros espalhavam sobre o que acontecia naquela mata... Tudo loucura. Não vale a pena abrir mão da minha liberdade por meras superstições e coincidências como essas. É só mato, disse a si mesmo - palavras vazias em busca de coragem.
Foi então que ele adentrou a floresta.
Todos os pensamentos positivos que Robert forçara para dentro de sua cabeça se esvaíram num piscar de olhos assim que a densa neblina envolveu o seu corpo. Ali, como em nenhum outro lugar, podia-se afirmar que a bruma era ubíqua e eternamente jacente, de uma forma capaz de gelar a espinha de qualquer intruso. Com árvores grossas, altas e afastadas, a floresta contava com quilômetros de extensão, e, em seu solo, as largas raízes eram tão onipresentes quanto a névoa, dispostas como perigosas serpentes à espreita de suas presas.
Até mesmo o vento inspirava pânico naquele lugar, uivando melancolicamente enquanto se chocava com a vegetação. Com o farfalhar das folhas que se desprendiam das árvores, o sopro do vento compunha uma música nada jovial, um espetáculo sonoro que insinuava maus presságios e vindouras tragédias, preenchendo leve e furtivamente o lúgubre silêncio predominante na área. A respiração de Robert, naquela soturna calmaria, estava clamante, demonstrando toda a sua instabilidade psicológica do momento.
- Vamos, cara! Não vou te esperar o dia todo – a voz de Dario interrompeu a dolorosa acomodação de Robert ao novo ambiente, ecoando. O amigo estava alguns metros à sua frente, parado, observando o território com uma ansiedade aparente. Estava claro que não pretendia procrastinar muito a sua estadia por ali. Quanto mais cedo saíssem, melhor, portanto Robert o alcançou tão rápido quanto pôde. Assim que parou ao lado do comparsa, sacou a sua pistola e a recarregou, tremendo, com nítida inquietude.
- Com medo do bicho-papão? – brincou Dario ao vê-lo, dando uma curta e estridente risada em seguida. – Não, mas você está certo. Eles podem ter entrado aqui conosco, se não forem tão medrosos quanto você. Melhor estar preparado.
Não é com policiais que eu estou preocupado. Por maior que fosse a sua vontade de falar, essas palavras não saíram da boca de Robert. Dario era um homem teimoso e jamais cederia, nem mesmo às claras evidências provindas daquela página. Robert a havia encontrado em seu quarto numa noite, e, desde então, nunca mais se esquecera das palavras ali contidas.
Era notavelmente parte de um livro de terror; havia ricas descrições e uma narrativa totalmente linear e bem escrita, embora nada disso chamasse a atenção como os personagens e o contexto da história. Essa era a questão mais assustadora: os protagonistas eram justamente Robert e Dario, e a cena retratada era, em todos os detalhes, a mesma que eles vivenciavam naquele exato momento.
Apesar de apenas uma página do manuscrito ter sido disposta na cama de Robert e da história estar certamente incompleta, ele não hesitou em mostrar tudo a Dario no dia seguinte. Ambos, àquela altura, encararam aquilo como uma espécie de brincadeira, e, mais tarde, acabaram jogando o papel no lixo. Na noite seguinte, para sua surpresa, Robert encontrou novamente a mesma página sobre sua cama, incólume. Perplexo, desfez-se dela outra vez, não muito incomodado, apenas analisando tudo como se fosse a mesma brincadeira de antes. Entretanto, o manuscrito se manteve sempre regressando, como se estivesse predestinado a permanecer em sua posse. Desde então, Robert tem apresentado estranhos e sombrios pesadelos todas as noites, sempre abordando os mesmos acontecimentos apresentados na história da misteriosa folha, de cuja companhia não conseguia livrar-se de forma alguma.
Dario logo retomou a sua abrupta caminhada em direção à tensão da névoa. Embora estivesse claramente esforçando-se para parecer tranquilo, seu desassossego era tão intenso quanto o de Robert. Não pela página, não pelos boatos populares e nem pelos policiais, mas sim pela própria localidade. As cercas que envolviam a floresta eram como uma delimitação, uma faixa de transição entre o seguro e o desconhecido, característica predominante a partir dali, diante da qual todos os homens sempre tremiam.
Alguns minutos haviam se passado enquanto a dupla caminhava, à deriva e em silêncio, por entre as árvores, quando um estrondo cortou a angustiante quietude: um disparo.
Robert e Dario se entreolharam, estupefatos. O som de mais dois tiros subsequentes pôde ser ouvido logo depois, seguido por um grito masculino, agudo e cheio de desespero. Oh não, pensou Robert. A página. Está acontecendo... A neblina, de repente, começou a ficar negra e a movimentar-se de forma ininterrupta para todos os lados, como se estivesse viva.
- Mas o que... – começou Dario, antes que outro grito irrompesse da floresta.
Toda a calmaria morrera em questão de segundos.
Os dois assaltantes não hesitaram e se puseram a correr imediatamente, sem nenhum destino específico. O movimento constante da bruma erradicava qualquer noção geográfica que algum deles poderia apresentar, fazendo com que ninguém mais soubesse o caminho de onde haviam vindo. A única alternativa era correr em linha reta.
Eles correram, correram e correram, enquanto estranhos ruídos se manifestavam em volta, vindos de todas as direções. Robert não se atrevia a olhar para os lados, tampouco para trás. Prosseguia retilineamente, guiado pelo medo, com o coração prestes a explodir. Após algum tempo, não sabia se Dario ainda o acompanhava na fuga, mas esperava com todas as suas forças que sim. Ele permaneceu na mesma ação durante o que pareceu uma eternidade, até que seus músculos estivessem queimando por dentro, provavelmente a quilômetros da área em que conversara com Dario pela última vez.
Foi aí que ele se chocou com algo. Alguma coisa que simplesmente se materializou diante de si; algo como uma silhueta intrinsecamente negra, que desapareceu no mesmo instante do impacto, derrubando o assaltante de bruços no chão.
Sua pistola caiu poucos metros à frente. Robert havia até mesmo se esquecido de que a segurava, tamanha a sua insignificância diante daquilo que estava acontecendo. Sentia uma enorme pressão ao seu redor, como se estivesse sendo observado por centenas de olhos ao mesmo tempo. Rastejou durante alguns instantes, apanhou a pistola e enfim levantou-se, olhando com cautela o ambiente.
Dario havia desaparecido. À sua volta, no meio da névoa, distinguiu uma dezena de sombras, paradas, cercando-o e encarando-o. E não eram apenas silhuetas; eram sombras concretas, como homens inteiramente engolidos por escuridão. A imagem de seus corpos distorcia-se num movimento contínuo, deixando claro que as trevas, neles, estavam vivas. Seus rostos estavam completamente indiscerníveis devido à penumbra que os envolvia, mas era evidente que todos os odiosos olhos estavam voltados para Robert naquele momento. Nas árvores, percebeu ele, centenas de corvos jaziam, inquietos, certamente apenas à espera de seu banquete. Não sabia de onde haviam vindo.
- Não, por favor... – balbuciou ele, já tonto de desespero. Sabia o que se sucederia, mesmo sem ler o final da história – Pelo amor de Deus, não...
Fios de massa negra, subitamente, surgiram vindos de todas as direções, flutuando dos espaços entre cada uma das criaturas, e começaram a concentrar-se no meio do círculo, logo diante de Robert, algo como uma escuridão líquida, que, lentamente, foi tomando forma e materializando um corpo. Mais um corpo idêntico ao de todos os outros seres que flanqueavam o agora tão frágil assaltante: treva pura e maciça no formato de um homem.
Em alguns instantes, a criatura humanoide estava pronta, frente a Robert, com um machado, também escuridão recém-materializada, em sua mão direita. É agora, pensou ele. Essa parte já não estava na página. É isso que vai definir o que se segue. Lentamente, ergueu o braço que segurava a sua pistola, direcionando-a a seu inimigo, com uma coragem cuja existência ele nem conhecia.
Ninguém mais se moveu. Era como se todos o aguardassem, julgando suas ações. Ele manteve a arma firme durante mais alguns segundos, o medo dissolvendo-o por dentro, e, finalmente, disparou.
O tiro atravessou a sombra.
Robert percebeu que estava perdido assim que viu o projétil transpassando o corpo da criatura, uma cena semelhante ao que aconteceria caso ele disparasse contra a água. O ser demoníaco, incólume e impassível, aproximou-se lenta e silenciosamente, como se nem tivesse reparado no que acabara de acontecer, e esfregou com suavidade a ponta afiada do machado no rosto de Robert, que havia se petrificado de terror. A lâmina, embora fosse pura escuridão, era realmente maciça... E fria. Mais fria do que qualquer coisa em que ele já tivesse encostado durante toda a sua vida. Seu corpo inteiro estremeceu. A mão da sombra logo se ergueu enquanto ela abria os braços, contemplando seus companheiros demoníacos em volta deles, numa espécie de ritual silencioso.
Robert, no auge de seu desespero, virou-se, pensando em correr por entre os seres, mas desistiu do ato antes mesmo de fazê-lo. Então, todas as centenas de corvos, repentinamente, alçaram voo dos galhos das grossas árvores, misturando-se no céu sombrio e crocitando ferozmente, num som capaz de ensurdecer qualquer indivíduo. Robert observou-os um pouco, desnorteado pelo intenso barulho que enchia seus ouvidos e extremamente confuso com tudo aquilo, e recuou, perguntando-se por que faziam aquilo e por que ele ainda não estava morto. Quando voltou novamente a cabeça em direção à criatura do meio do círculo, a única coisa que viu foi a ponta do machado negro prestes a investir contra o seu rosto.
E então, com a macabra música dos corvos no ar, Robert gritou em surdina.
Autor(a): lucasbirkin
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