— Quem era? — Peter perguntou.
Meu corpo todo retinia. Levei um momento para responder.
—Euge arrombou a escola com o Elliot e o Jules. Eles querem que eu os encontre. Acho que o Elliot vai machucar euge se eu não for. — Olhei para o Peter. — Acho que ele vai machucá-la se eu for.
Ele dobrou seus braços, franzindo.
— Elliot?
— Semana passada na biblioteca eu encontrei um artigo que dizia que ele foi interrogado numa investigação de assassinato em sua antiga escola, Kinghorn Prep. Ele entrou no laboratório de informática e me viu lendo-o. Desde aquela noite, sinto uma vibe ruim dele. Uma vibe muito ruim. Acho até que ele arrombou o meu quarto para roubar o artigo.
— Algo mais que eu deva saber?
— A garota que foi assassinada era namorada do Elliot. Ela foi enforcada em uma árvore. Bem agora no telefone ele disse, ‘Se você não vier, tem uma árvore na área comum com o nome da euge nela.’
— Eu já vi o Elliot. Ele parece arrogante e um pouco agressivo, mas não me parece com um assassino. — Ele mergulhou sua mão em meu bolso dianteiro e extraiu as chaves do Jipe. — Eu dirigirei até lá e checarei as coisas. Não demoro.
— Acho que deveríamos chamar a polícia.
Ele balançou sua cabeça.
— Vai mandar a Vee para o reformatório por destruição de propriedade e por invasão. Mais uma coisa. Jules. Quem é esse cara?
— Amigo do Elliot. Ele estava na arcada na noite em que te vimos.
Seu franzido aprofundou-se.
— Se houvesse outro cara, eu me lembraria.
Ele abriu a porta e eu o segui para fora. Um zelador usando uma calça preta e uma camiseta vermelha-acastanhada do trabalho varria pipoca no saguão. Ele olhou duas vezes ao ver Peter saindo do banheiro feminino. Eu o reconheci da escola. Brandt Christensen. Tínhamos aula de inglês juntos. Semestre passado eu tinha ajudado-o a escrever um artigo.
— Elliot está me esperando, não você, — eu disse ao Peter. — Se eu não aparecer, sabe lá o que vai acontecer com a euge. Esse é um risco que não vou tomar.
— Se eu te deixar vir, você escutará as minhas instruções e vai segui-las cuidadosamente?
— Sim.
— Se eu te disser para pular?
— Eu pulo.
— Se eu te disser para ficar no carro?
— Ficarei no carro. — Era quase tudo verdade.
No estacionamento do cinema, Peter apontou sua chave de segurança para o Jipe, e os faróis piscaram. De repente ele parou abruptamente e xingou baixinho.
— Qual o problema? — eu disse.
— Pneus.
Deixei meu olhar cair e, certamente, ambos os pneus no lado do motorista estavam murchos.
— Não acredito! — eu disse.
— Passei por cima de dois pregos? — Peter se agachou no pneu dianteiro, correndo sua mão pela circunferência. — Chave de fenda. Esse foi um ataque intencional.
Por um momento pensei que talvez esse fosse outro truque mental. Talvez Peter tivesse suas razões para não querer que eu fosse para a escola. Seus sentimentos por euge não eram secretos, afinal. Mas algo estava faltando.
Eu não conseguia sentir o Peter em lugar algum dentro da minha cabeça. Se ele estava alterando os meus pensamentos, ele tinha encontrado uma maneira nova de fazê-lo, porque pelo que eu sei, o que eu estava vendo era real.
— Quem faria isso?
Ele ficou totalmente de pé.
— A lista é longa.
— Está tentando me dizer que tem um monte de inimigos?
— Eu chateei algumas pessoas. Um monte de gente faz apostas que não podem vencer. Então eles me culpam por sair com seus carros, ou mais.
Peter deu um passo até um coupé, abriu a porta do lado do motorista, e sentou atrás do volante. Esticando-se sob ele, sua mão desapareceu.
— O que está fazendo? — perguntei, ficando de pé na porta aberta. Era um desperdício de oxigênio já que eu estava bem ciente do que ele estava fazendo.
— Procurando pela chave reserva.
A mão do Peter reapareceu, segurando dois fios azuis. Com alguma habilidade, ele removeu as pontas dos fios e os uniu. O motor ligou, e Peter olhou para mim.
— Cinto de segurança.
— Não vou roubar um carro.
Ele deu de ombros.
— Precisamos dele agora. Eles não.
— É roubo. É errado.
Peter não parecia nem um pouquinho incomodado. De fato, ele parecia um tanto relaxado demais no assento do motorista. Essa não é a primeira vez que ele faz isso, pensei.
— Primeira regra do roubo de carros, — ele disse sorrindo. — Tente não ficar na cena do crime mais que o necessário.
— Espere um minuto, — eu disse, levantando um dedo.
Corri de volta para o cinema. No caminho para dentro, as portas de vidro refletiram o estacionamento atrás de mim, e eu vi Peter sair do coupé.
— Oi, Brandt, — eu disse para o garoto ainda empurrando pipoca para uma pá de lixo com cabo alto.
Brandt olhou para mim, mas sua atenção foi rapidamente atraída para cima do meu ombro. Escutei as portas do cinema se abrirem e senti Peter se mover para trás de mim. Sua chegada não fora tão diferente de uma nuvem eclipsando o sol, repentinamente obscurecendo a paisagem, dedurando uma tempestade.
— Como vai? — Brandt disse duvidosamente.
— Estou tendo problemas com o carro, — eu disse, mordendo meu lábio e testando uma cara simpática. — Sei que estou te colocando numa posição delicada, mas já que te ajudei com aquele artigo sobre Shakespeare semestre passado...
— Você quer meu carro emprestado.
— Na verdade... sim.
— É uma porcaria. Não é nenhum Jipe Commander. — Ele olhou diretamente para Peter como se estivesse se desculpando.
— Corre? — perguntei.
— Se por correr você quer saber se as rodas giram, é, corre. Mas não está disponível para empréstimo.
Peter abriu sua carteira e deu-lhe o que parecia ser três notas novinhas de cem dólares. Controlando a minha surpresa, decidi que a melhor coisa a se fazer era continuar nessa brincadeira.
— Mudei de ideia, — Brandt disse, os olhos arregalados, embolsando o dinheiro. Ele pescou em seus bolsos e entregou clandestinamente a Patch um par de chaves.
— Qual a marca e cor? — Petter perguntou, pegando as chaves.
— Difícil dizer. Parte Volkswagen, parte Chevette. Costumava ser azul. Isso foi antes de ser corroído para laranja. Enche o tanque antes de devolvê-lo? — Brandt disse, soando como se tivesse seus dedos cruzados em suas costas, forçando sua sorte.
Peter descartou outros vinte.
— Só em caso de esquecermos, — ele disse, enfiando-o no bolso dianteiro do uniforme de Brandt.
Do lado de fora, eu disse ao Peter:
— Eu podia tê-lo convencido a me dar suas chaves. Eu só precisava de um pouco mais de tempo. E, a propósito, por que você limpa mesas no Borderline se é rico?
— Não sou. Ganhei o dinheiro em um jogo de sinuca há algumas noites. — Ele empurrou a chave de Brandt na fechadura e abriu a porta do lado do passageiro para mim. — O banco está oficialmente fechado.
Peter dirigiu pela cidade em ruas escuras e silenciosas. Não levou muito tempo para chegar na escola. Ele parou o carro de Brandt no lado leste do prédio e desligou o motor. O campus era coberto de florestas, os galhos eram retorcidos e sombrios e não seguravam nada além de uma bruma úmida.
Atrás deles pairava a escola Coldwater.
A parte original do prédio fora construída no fim do século dezenove, e após o pôr-do-sol parecia muito com uma catedral.
Cinza e agourenta. Muito escura. Muito abandonada.
— Acabei de ter um mau pressentimento, — eu disse, olhando os vazios pretos que a escola tinha de janela.
— Fique no carro e fora de vista, — Peter me disse, me passando as chaves. — Se alguém sair do prédio, se mande.
Ele saiu. Estava usando uma camiseta preta justa de gola redonda, calça Levi escura, e botas. Com seu cabelo preto e pele escura, era difícil distingui-lo dos fundos. Ele cruzou a rua e, em questão de instantes, se uniu completamente à noite.
Continua......
lehlaliter:TO POSTANDO amiga ,mais apareça quando puder ,vou entrar de ferias e vou conseguir postar mais
lari0912:Bom vou tentar nao sei se vou conseguir pela falta de comentarios