Fanfic: A seleção (Adaptada) | Tema: Vondy

“Você tem consciência, imagino, que teoricamente meu pai deve se aposentar quando eu chegar aos vinte anos — prosseguiu Christopher. — Mas você acha que ele vai deixar de mexer os pauzinhos? Isso não vai acontecer enquanto ele viver. E eu sei que ele é terrível, mas eu não quero que ele morra... Ele é meu pai.”

Fiz um sinal demonstrando que tinha entendido.

— A propósito, ele também influenciou a Seleção, desde o primeiro dia. Se você olhar as remanescentes, fica tudo muito claro.

Christopher começou a contar as meninas nos dedos.

— Natalie é extremamente dócil, o que faz dela a favorita de meu pai, pois segundo ele sou muito voluntarioso. O fato de ele gostar tanto dela faz com que eu tenha que lutar contra o impulso de odiá-la.

“Elise possui aliados na Nova Ásia, mas não sei se serviriam para alguma coisa. Essa guerra... — Christopher pensou em algo e sacudiu a cabeça. Havia algum detalhe sobre a guerra que ele não queria revelar. — E ela é tão... nem sei a palavra para isso. Sabia desde o começo que não queria uma garota que concordasse com tudo o que eu dissesse ou apenas obedecesse. Eu tentava contradizê-la, e então ela cedia. O tempo todo! É irritante. É como se ela não tivesse personalidade.”

Ele estava quase ofegante. Eu não tinha percebido o quanto ela o incomodava. Ele sempre tinha tanta paciência conosco. Por fim, ele olhou para mim.

— Você foi escolha minha. Minha única escolha. Meu pai não ficou entusiasmado, mas até então você ainda não tinha feito nada que o deixasse irritado. Se você ficasse quieta, ele não se importaria que eu a mantivesse. Aliás, ele não veria problemas se eu escolhesse você, desde que você fosse bem-comportada. Ele usou as suas ações recentes para apontar minhas falhas de julgamento e insistir que terá a palavra final a partir de agora.

Christopher balançou a cabeça.

— Mas isso é outra história. As outras, Annie, Kriss e Belind, foram escolhidas por conselheiros. Annie era uma das favoritas, como Kriss. — Ele soltou um suspiro. — Kriss seria uma boa escolha. Gostaria que ela me deixasse ficar mais próximo, pelo menos para descobrir se temos... química. Queria pelo menos ter uma ideia.

“E Belinda. Ela é muito influente, uma celebridade por si só. Fica bem na TV. Parece lógico que alguém quase do meu nível seja minha escolha final. Gosto dela ao menos por sua obstinação. Ela pelo menos tem personalidade. Mas enxergo que ela tende a ser manipuladora e que faz de tudo para tirar o máximo de vantagem dessa situação. Eu sei que, quando me abraça, é a coroa que ela tem no coração.”

Ele fechou os olhos, como se o que estivesse prestes a dizer fosse a pior parte.

— Ela está me usando, por isso não me sinto culpado quando a uso. Não me surpreenderia saber que alguém a encorajou a atirar-se em mim. Posso respeitar os limites de Kriss. E preferiria muito mais estar nos seus braços, mas você mal tem falado comigo...

“Será tão ruim assim que eu deseje quinze minutos sem preocupações na vida? Para me sentir bem? Para fingir um pouquinho que alguém me ama? Você pode me julgar se quiser, mas não posso pedir desculpas por querer algo normal na vida.”

Christopher me olhou no fundo dos olhos. Esperava a minha reprovação e, ao mesmo tempo, tinha esperança de que ela não viesse.

— Eu sei como é.

Pensei em Pedro, me abraçando forte e fazendo promessas. Eu não tinha feito a mesma coisa? Eu quase podia ouvir o cérebro de Christopher  trabalhar a fim de descobrir o quão literais eram minhas palavras. Esse era um segredo que eu não poderia revelar. Mesmo se tudo estivesse perdido para mim, não podia deixar Christopher pensar em mim daquele jeito.

— Você a escolheria? Escolheria Belinda?

Ele veio sentar ao meu lado, movendo-se com cuidado. Eu não conseguia imaginar o quanto suas costas doíam.

— Se fosse obrigado, escolheria Belinda em vez de Elise ou Natalie. Mas isso não vai acontecer a não ser que Kriss decida sair.

— Kriss é uma boa escolha. Será uma princesa muito melhor do que eu jamais seria.

Ele achou graça.

— Ela é menos instigante. Deus sabe o que aconteceria ao país com você à frente.

Eu ri, afinal, ele tinha razão:

— Seria provavelmente a ruína total.

Christopher continuou a sorrir e falou:

— Talvez o país precise ser arruinado.

Permanecemos ali em silêncio por um momento. Fiquei imaginando como seria nosso mundo arruinado. Não poderíamos nos livrar da família real, mas talvez pudéssemos mudar a maneira de fazer certas coisas. Os cargos seriam preenchidos com eleições e não por herança. E as castas... amaria muito vê-las mortas para sempre.

— Você me permite uma coisa?

— O quê?

— Bom, eu dividi muitas coisas com você esta noite que foram difíceis de admitir. Fiquei pensando se você não me responderia uma pergunta.