Fanfic: A seleção (Adaptada) | Tema: Vondy

— Que é exatamente como eu faria — ele disse, fingindo seriedade.

Comecei a rir baixinho, mas logo parei porque só aumentava a dor.

— Mas não acho que você precise adivinhar meus sentimentos… — continuou Christopher.

— Bom — eu disse, e foi ficando cada vez mais difícil respirar —, você nunca falou de fato, em voz alta.

Christopher abriu a boca para argumentar, mas se calou. Seus olhos se cravaram no teto enquanto ele repassava mentalmente nossa história, à procura do momento em que tinha declarado seu amor por mim.

No abrigo, ele havia insinuado isso de diversas maneiras. Tinha deixado transparecer em dezenas de gestos românticos ou entre as palavras que dizia… mas falar de fato ele nunca tinha feito. Eu lembraria e teria um motivo para nunca mais questionar seus sentimentos. Também teria sido um ótimo motivo para eu dizer como me sentia em relação a ele também.

— Senhorita? — A voz de Vick entrou pela porta e um segundo depois ela mesma apareceu, preocupada.

Christopher se afastou, soltando minha mão para abrir espaço para ela.

Vick se concentrou na ferida, que tocou com cuidado para verificar a gravidade da situação.

— Você precisa de pontos. Não sei se temos algo para anestesiá-la completamente — ela avaliou.

— Tudo bem. Apenas faça o melhor que puder — eu disse. Só a presença dela já me acalmava.

Ela concordou com a cabeça e pediu:

— Alguém traga água fervente. A bolsa de primeiros socorros deve ter antisséptico, mas quero água também.

— Eu pego — disse Annie, que estava ao pé da porta com o rosto contorcido de preocupação.

— Annie — murmurei, voltando a chorar baixinho.

Só então juntei os pontos daquela história de sra. Woodard. Claro que Annie e Poncho não poderiam continuar com o sobrenome Herrera. Estavam escondidos bem debaixo do nariz do rei.

— Já volto, Dulce. Aguente firme. — Ela saiu apressada, mas era um alívio saber que a teria por perto.

Vick logo absorveu o choque da presença de Annie, sem perder o equilíbrio. Observei quando ela tirou agulha e linha da caixa. Era um consolo saber que ela havia costurado quase todas as minhas roupas. Meu braço não seria um problema.

Incrivelmente rápida, Annie voltou com uma jarra de água fervente, uma pilha de toalhas e uma garrafa com um líquido amarelado. Colocou a jarra e as toalhas sobre a cômoda, abriu a garrafa e se aproximou de mim.

— É para a dor — disse.

Ela ergueu minha cabeça para que eu pudesse beber.

O líquido da garrafa desceu queimando e tossi algumas vezes depois de engolir. Annie insistiu para que eu tomasse maisum gole. Bebi, odiando cada gota.

— Estou tão feliz por você estar aqui — sussurrei.

— Sempre estarei ao seu lado, Dulce. Você sabe disso — falou, com um sorriso. Pela primeira vez, ela parecia mais velha do que eu, calma e segura de si. — Que diabos vocês estavam fazendo?

— Parecia uma boa ideia — respondi com uma careta.

— Dulce, sua cabeça está cheia de más ideias. Ótimas intenções, péssimas ideias — ela comentou, compreensiva.

Obviamente ela tinha razão. Eu já devia ser mais esperta a essa altura. No entanto, o fato de ela estar ali, mesmo que para dizer como eu era idiota, deixava tudo menos horrível.

— Essas paredes abafam bem o som? — Vick perguntou.

— Muito bem — Pedro respondeu. — Não escuto muita coisa neste canto do palácio.

— Ótimo — ela disse. — Pois bem, todos para o corredor. Senhorita Annie, preciso de mais espaço, mas você pode ficar.

Annie assentiu.

— Não vou atrapalhar, Vick.

Avery saiu primeiro, seguido de perto por Pedro; Christopher foi o último. Seu olhar era o mesmo de quando contei ter passado fome: triste por saber, mas arrasado por não poder fazer nada a respeito.

A porta se fechou, e Vick começou a trabalhar imediatamente. Já tinha preparado tudo de que precisaria e estendeu a mão para Annie, pedindo a garrafa.

— Tome um gole — ordenou, levantando minha cabeça.

Várias vezes tirei a boca do gargalo e engasguei, mas consegui tomar uma boa parte do líquido. Pelo menos o que Vick considerou suficiente.