Fanfics Brasil - Capítulo Único. Coração Negro

Fanfic: Coração Negro | Tema: Darfick


Capítulo: Capítulo Único.

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A neve caia lentamente sob o corpo dela. Sua cabeleira negra estava completamente branca. Ela suspirou de olhos fechados. Tão fria. Tão agradável. Permitiu que um sorriso brotasse em seus lábios pálidos. Abriu lentamente seus olhos incrivelmente verdes, passando a observar o céu negro. Os flocos caiam em sua face, beijando-a de um modo gélido que ela adorava.


 


Abaixou o olhar para o caminho a sua frente. Voltou a andar sem rumo. Na verdade, ela não sabia para onde ia, mas seus pés sabiam. Quando caiu em si, viu-se na porta da casa de seu irmão mais velho. A antiga casa, na realidade. Seu coração apertou-se e seu corpo tremeu. Lembrou-se do modo que ele morrera. Quão inútil ela fora aquela noite, não podendo fazer nada para salvá-lo de si mesma. Trincou os dentes e gritou. Como pode deixá-lo morrer em seu lugar?


 


–X-


 


A noite estava fria, era início de inverno. Contudo, não era um inverno normal como os outros que já passara. Ela estava com uma sede de sangue incontrolável. Precisava matar alguém, necessitava de sentir o líquido vermelho escorrer por suas mãos para, então, levá-las até a boca e sentir o gosto dele. O que havia acontecido com ela? Nunca sentira-se desse modo, nunca quis ser como todos os outros membros de sua família. Não queria ser uma assassina.


 


Ela levantou-se de sua cama quando ouviu uma batida na porta. Sabia que era a empregada que estava lá para chamá-la para o jantar. Caminhou até a grande porta de madeira com detalhes femininos feito a ouro e abriu-a. Fixou seu olhar na empregada e percebeu que aquilo a fez arfar. Estava com medo dela? Margarette nunca tivera medo dela.


 


A garota sorriu. Não um sorriso meigo, mas um sorriso psicótico. Levou a mão direita até o ombro esquerdo de Margarette, empurrando-a para o lado. Caminhou, então, até a sala de jantar. Encontrou seus pais sentados lado a lado e seus irmãos espalhados pela mesa. Seu lugar, entre Luke e Lyanna, estava aguardando-a – o lugar onde antes seu irmão mais velho, Demon, sentava-se. Contudo, ela continuou a deslocar-se, lançando um olhar para seu pai. Ele sorriu de um modo perverso e voltou à atenção para o grande pedaço de carne em seu prato. Carne humana.


 


Assim que encontrou-se em frente a porta que lhe dava acesso às ruas da cidade que morava, abriu-a e sentiu o vento álgido atingir-lhe o rosto. Seus longos cabelos negros voaram atrás de si, como uma capa negra. Avançou lentamente em direção ao centro da cidade, já calculando onde atacaria e como fugiria logo depois. Passou em frente à casa de Demon, observando-a com o canto dos olhos.


 


Subitamente parou. Sua mente entrou em conflito ao lembrar-se de seu irmão. Ele era como ela, ou costumava ser. Diferente do resto da família. Não gostava de matar, não usava as habilidades que tinha para isso. Ela iria usar suas próprias para fazer o mal, coisa que seu irmão sempre dizia para não fazer. Rangeu os dentes e fechou as mãos com força.


 


– Me perdoe... Eu não sou diferente deles... Eu não sou como você... – sussurrou e voltou a caminhar.


 


Chegou ao centro da cidade. Véspera de Natal. A maioria das pessoas compravam os presentes naquele momento. Ela sorriu. Seria fácil arrastar alguém para algum beco e depois dar o bote. Seus olhos varreram a calçada oposta, procurando por alguma presa fácil. Fixou-os, então, em uma garota que não deveria ser mais velha que ela. Sentiu, ao longe, as batidas do coração dela. Estava calma e isso era bom.


 


Atravessou a rua, mal notando os carros que passavam. Quando um homem buzinou, ela deu-lhe um olhar mortal, fazendo-o suar frio. Aproximou-se lentamente da moça. Os cabelos loiros dela estavam cuidadosamente arrumados em uma trança longa e grossa. Rapidamente, ela colocou sua mão direita no rosto da loira, tapando o nariz e a boca, impedindo-a de respirar. Ela se assustou e tentou escapar dos braços da assassina, contudo, após receber um golpe na nuca desfaleceu nos braços dela.


 


Arrastou-a para um beco escuro próximo ao local que estavam. Os ratos fugiam enquanto puxava a loira até o final, jogando-a contra a parede de um modo rude. Sorriu de modo psicótico, igual ao seu pai. Abriu bem ambas as mãos e semicerrou os olhos ao sentir uma pontada de dor quando suas unhas começaram a crescer e a ficar pontiagudas. Os olhos dela tornaram-se vermelhos escarlates.


 


Percebeu que a garota estava acordando novamente e sorriu. Seria bom ver a dor nos olhos dela enquanto torturava-a antes de matá-la. Assim que a loira viu a outra, arregalou os olhos e gritou. A assassina flexionou os joelhos e saltou em direção à sua vítima. Contudo, seu tórax foi de encontro com algo duro. Seus olhos vermelhos esbugalharam-se e sua respiração parou. Então, foi arremessada para trás e pode ver quem a impedira.


 


Ela hesitou e então rangeu os dentes. O homem a sua frente a fitava de um modo de desaprovação. Suas sobrancelhas estavam franzidas e seus lábios eram uma única fina contorcida para o lado. O coração dela vacilou. Odiava quando ele a fitava daquele modo.


 


 


– O que pensa que está fazendo, Allyria? – questionou ele, recuando dois passos a fim de ficar mais perto da garota loira. O olhar assustado estava fixo atrás de Allyria. Queria encontrar um modo de sair o mais rápido dali.


 


 


– Saia daqui Demon. – disse a garota entre dentes. Sua mente estava completamente negra e seu coração corrompido. Queria matar aquela garota e seria aquilo que iria fazer. Avançou um passo e segurou o braço de seu irmão assim que ele o jogou para frente a fim de dar-lhe outro empurrão. Um sorriso brotou nos lábios dela enquanto arremessava-o para trás. Avançou contra a moça, segurando-a pelo pescoço. Virou-se velozmente e encarou o irmão. – Mais um passo e ela morre.


 


Demon observou-a seriamente, balançou a cabeça de modo negativo e estendeu a mão. Teria que tentar uma última vez, afinal, ela era a única pessoa que realmente amava em sua família. Contudo, ao ver o brilho que os olhos dela exibiam, fechou a mão fortemente e mordeu o lábio.


 


– Eu vou te impedir, custe o que custar, Allyria. – disse ele, inclinando um pouco o corpo para frente.


 


Allyria perdeu o interesse na garota loira. Simplesmente torceu o pescoço dela com força e, ao ouvir o som de ossos quebrando-se, sorriu. Demon fitou-a, incrédulo. Gritou e correu em direção a ela, com as garras já a mostra. Ela esperou. Sabia que era mais forte, contudo, por ser menor, tinha mais chances de escapulir e revidar.


 


Ele a atacou com força e Allyria simplesmente moveu o corpo para o lado, desviando do ataque. Demon havia se distanciado da família há muito tempo, apesar de forte não tinha técnica. Já Allyria era obrigada a treinar todos os dias, mantendo consigo todas as técnicas que seu pai ensinara.


 


– Desista irmão e eu deixarei você viver. – disse ela, fitando-lhe nos olhos. Aquilo apenas o fez atacar mais uma vez e, novamente, ela desviou do ataque. Suspirou e sentiu suas mãos agirem sozinhas. Agarrou-lhe o pescoço e o joelho subiu, golpeando o estômago de Demon.


 


Demon arfou e tentou se afastar, contudo, as garras de Allyria perfuraram-lhe o peito. Ele cuspiu sangue enquanto ela arrancava o coração de seu irmão. Afastou-se dele e sorriu. Assassina. Nascera assim e assim morreria.


 


– Adeus irmãozinho. – disse, jogando o órgão pulsante do irmão no chão.


 


 


–X-


 


Ao lembra-se daquilo, gritou. Um grito repleto de ódio e angústia. Caiu de joelhos na neve e começou a chorar. O que houve comigo naquele dia? Perguntava-se e não conseguia obter uma resposta. Por que ela se comportara daquele modo? Como chegou ao ponto de matar seu próprio irmão?


 


Mesmo seus pais e irmãos a parabenizando por aquilo, seu peito doía. Levantou-se vagarosamente, as lágrimas congelando em sua face. Colocou a mão sob o peito, bem onde seu coração negro batia e respirou fundo. Fechou os olhos e fez com que um único dedo ficasse com a unha comprida e fina. Prendeu a respira e fincou-a em sua pele, penetrando-a até encontrar o coração. Agonia. Era isso que sentia agora. Porém, sorriu. Merecia aquilo. Suas pernas bambearam e ela caiu. Segundos depois a neve tornara-se vermelha.


 


 


Eu sei que não vou ao mesmo lugar que meu irmão está. Eu sei que minha alma irá sofrer. Mas é esse o meu destino. É esse o meu castigo. E estou satisfeita com isso. Quem sabe... Quem sabe algum dia eu possa me reencontrar com Demon e pedir-lhe perdão? Quem sabe...



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Autor(a): VihTurbiani

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Comentários do Capítulo:

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  • vitoria_turbiani Postado em 30/06/2014 - 17:50:37

    Ceeh, eu procurei escrever algo que fosse um tanto quanto forte. No caso, escolhi uma família de assassinos frios e sem emoção. Por mais que ela gostasse do irmão e tentasse controlar seus instintos como assassina, no final acabou por matá-lo por ter entrado no seu caminho ao tentar assassinar a garota. Isso retrata algo que se passa na vida real: às vezes, por mais que gostemos de uma pessoa, erramos e acabando fazendo algo que não gostaríamos de fazer. Algo que não teria mais volta ou conserto. E foi isso que aconteceu. Ela o matou e nunca mais o terá de volta. E ela sabia, sim, o que estava fazendo. Mas mesmo assim fez. E no final, se puniu.

  • ceeh Postado em 29/06/2014 - 13:41:48

    Aiin, não entendi se ela realmente gostava do irmão porque o matou? Não tem explicação por mais forte que seja, ela tinha consciência do que fazia.


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