Fanfic: As Vestes do Amor - AyA (Adaptada) - FINALIZADA | Tema: AyA

Ela já sabia, antes mesmo de se virar.
O rubor repentino no rosto e o arrepio que correu pela espinha disseram a Annie Portilla que a pessoa que acabara de entrar na loja da Casa Bacelli, em Milão, não era uma das freqüentadoras habituais. Numa atmosfera que subitamente parecia superaquecida, o instinto de Annie gritou que a pessoa não era, de forma alguma, uma de suas clientes, chegando apressada cinco minutos antes da hora de fechar.
Aquela presença aguçou seus sentidos de tal forma que até o clique da porta acolchoada sendo fechada foi registrado como algo significativo.
Lutando contra sensações intensas, piscou para afugentar o cansaço causado pelo trabalho excessivo durante esta semana de apresentação de sua coleção, e se virou para a direita, o sorriso de boas-vindas estampado no rosto... Apenas para se descobrir bestificada por aquele homem.
Annie sentiu uma corrente elétrica correr por todo seu corpo. O homem era uma parede de poder e autoridade. Gola do suéter preto enrolada no pescoço, calça jeans de corte perfeito, botas pretas. Até seus cabelos reluziam sob as luzes que desciam do teto.
Mas foram seus olhos que a capturaram. Negros e insondáveis como o céu da meia-noite, com um brilho que ia e vinha como uma estrela cadente.
Era possível sentir as próprias pupilas dilatarem? Sim, se o que ela acabara de sentir pudesse servir como indício. E considerando as alturas às quais fora transportada tão subitamente nos últimos segundos, talvez ela não devesse se sentir surpresa.
O homem não disse nada enquanto caminhava até Annie, sem jamais desviar os olhos de seu rosto e afastando qualquer suspeita de que poderia estar ali por mero acaso.
Ele viera vê-la.
Annie estremeceu, lamentando ter dado folga a Carla, a assistente da loja. Este não era um bom momento para estar sozinha. Ela engoliu em seco enquanto o estranho devorava a distância que os separava.
— Buona será — disse o homem, a voz profunda contendo tantas influências que ela não conseguiu identificar o sotaque. — Ou prefere que eu fale em inglês?
Annie sentiu seus olhos estreitarem. Então ele sabia que ela não era italiana.
O que mais ele sabia sobre ela? E por quê?
— Obrigada. Inglês será ótimo. — Ao aceitar a oferta de comunicação em sua língua materna, a voz de Annie soou muito mais firme do que ela estava se sentindo. Depois de quatro anos trabalhando aqui, longe de sua terra natal, a Austrália, Annie
era fluente em italiano. Contudo, na presença deste homem, ela não confiava em sua capacidade de falar sua segunda língua. — Em que posso lhe ser útil?
— Creio que você é Anahi Portilla. A estilista?
Ela ainda não conseguia identificar seu sotaque. Tinha toques de inglês britânico, inglês norte-americano e ainda outras procedências. Ele não era italiano, disso Annie tinha certeza absoluta, ainda que suas feições morenas pudessem fazê-lo passar por alguém de um dos países do Mediterrâneo.
Contudo, era alto demais, com ombros muito largos.
E estava muito, muito próximo.
O calor emanava dele em ondas. Ela enrubesceu e sentiu sua boca ficar seca. Finalmente fez que sim com a cabeça, incapaz de formar as palavras.
— Suspeitei disso — prosseguiu o estranho. — Disseram-me que você era muito bonita. É claro que até agora eu não fazia idéia do quanto.
Ela piscou lentamente enquanto sentia alguma coisa vibrar em seu íntimo. Como algumas palavras podiam afetá-la tanto assim?
Estava acostumada aos elogios e à atenção que recebia dos homens da região. Eles certamente faziam jus à sua reputação de apreciadores da forma feminina. Mas os comentários sempre eram tecidos com educação e bom humor.
As palavras deste homem ressoavam em um nível inteiramente diferente. Talvez isso tivesse alguma relação com a forma como seus olhos continuavam escrutinando o rosto de Annie, como se quisessem beber cada detalhe.
E ela ainda não tinha a menor noção de quem ele era.

Se tiver leitoras amanhã eu posto mais.