Fanfic: As Vestes do Amor - AyA (Adaptada) - FINALIZADA | Tema: AyA

Pelo menos vinte minutos se passaram até que um deles abrisse a boca para voltar a falar. A estrada tinha quase desaparecido sob as dunas em movimento. Annie sentia-se cada vez menos confortável no assento do Range Rover, porque os solavancos estavam ficando mais fortes. Além disso, estava entediada com o progresso inconstante do veículo pelas dunas.
Pegou sua garrafa de água e tomou um gole.
— Falta muito?
— Daqui a pouco vamos parar.
— Estamos chegando?
— Espere — aconselhou-a Alfonso, um inesperado sorriso no rosto. —Acho que vai gostar disso.
Ela não demorou muito para descobrir o que ele queria dizer. Chegaram a uma área relativamente plana, não mais que um espaço entre dunas e dominado por um antigo e atarracado prédio de tijolos de lama. Era literalmente o fim da estrada, e ela não conseguia imaginar por que haveria de gostar disso.
Os veículos estacionaram lado a lado à sombra do prédio. Os homens começaram a descarregar os mantimentos.
— Você talvez queira aproveitar a oportunidade para se refrescar — sugeriu Alfonso. Ele se curvou para pegar alguma coisa atrás do banco da frente. — Tome,
você pode querer vestir isso. Irá protegê-la do sol e da areia.
Ele lhe deu um embrulho.
— Por que vou precisar disto agora? — indagou Annie.
— Nossa jornada não terminou.
— Como assim?
Ele olhou para alguma coisa atrás dela.
— Veja com os seus próprios olhos.
Um balido alto disse a Annie o que ela veria antes mesmo que se virasse.
— Camelos! — exclamou.
O homem que puxava os primeiros camelos, rosto enrugado por anos de exposição ao sol do deserto, abriu um sorriso largo, revelando apenas três dentes em sua boca.
Annie acariciou o focinho do primeiro camelo. O animal a fitou brevemente com olhos serenos protegidos por cílios muito compridos, e então levantou a cabeça para soar outro balido alto.
— Você não estava brincando — disse Alfonso, aparecendo ao seu lado. Ele repousou uma das mãos na cintura de Annie enquanto usava a outra para acariciar o pescoço do camelo. — Está mesmo acostumada com camelos. A maioria das pessoas tem medo deles.
— A má reputação dos camelos é exagerada — disse Annie, tentando ignorar a pressão da mão de Alfonso. Ele mal a estava tocando, mas todos seus sentidos pareciam focar nesse ponto de contato. Ela precisou se esforçar para se manter concentrada no que estava dizendo. — Mas eu aprendi que, depois que você os conhece por algum tempo, fica claro que sua reputação é injusta — acrescentou, lábios já perdendo umidade para as condições áridas.
— É mesmo? — retrucou Alfonso. — E você acha que essa observação possa ter paralelo na espécie humana? Acha que há pessoas que também gozam de reputações injustas?
Ele só podia estar brincando. Ela se calou por um instante, fitando-o cuidadosamente e se perguntando se algum dia ele removeria a mão.
— Suas ações até agora não contribuem muito para uma boa reputação, sheik Alfonso.
— E elas me deixam além de qualquer perdão?
— Quando comparado a camelos, você quer dizer? — Ela comentou sua arrogância com um meio sorriso e se moveu de lado, afastando-se de seu alcance. —Apenas digamos que você está começando bem por baixo.
Alfonso jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada grave e melodiosa. Ela gostava do som de seu riso; gostava do efeito que ele surtia em suas feições. Os músculos de seu rosto relaxavam, suavizando os ângulos de suas feições. Ela gostava de vê-lo assim, quando parecia menos autocrático, mais humano.
Se as coisas fossem diferentes...
O camelo baliu em seu ouvido, despertando-a de seus devaneios. Como poderia se permitir sonhar com esse homem? Um homem que praticamente a seqüestrara para seu reino no deserto com a intenção de tomá-la como esposa. Ela não podia ser permitir gostar dele.
Então por que aceitara acompanhá-lo até aqui? Depois de amanhã isso seria mais um problema. Ela estaria longe daqui. Bem longe.
Annie sentiu o olhar de Alfonso repousar nela, quente e ansioso, e ela deliberadamente o evitou, preferindo concentrar-se nos camelos. Ela precisava de uma distração. Precisava pensar em alguma coisa segura. Camelos eram perfeitos para isso.