Fanfic: As Vestes do Amor - AyA (Adaptada) - FINALIZADA | Tema: AyA

O terreno ficou mais pedregoso. Cascalhos tomaram o lugar da areia e ela percebeu que eles estavam subindo, gradualmente no começo, até alcançarem a escarpa e iniciarem a subida até a trilha antiga. Agora elas podiam ver por que eles não haviam vindo de carro. A trilha estreita mal era larga o bastante para um homem, quanto mais para um camelo. Um veículo não tinha a menor esperança de passar por ali.
Abaixo deles as areias do deserto se espalhavam como um cobertor dourado, quentes e sedutoras à luz do final do dia. Era uma visão belíssima, e Annie já estava sentindo sua vida enriquecida pela experiência.
Os movimentos do camelo ficaram menos ritmados, mais imprevisiveis à medida que eles subiam. Em algum lugar perto do topo da escarpa, uma pedra escorregou de lado sobre o cascalho solto, fazendo o camelo cambalear; Annie foi empurrada para longe do colo de Alfonso e quase caiu, mas seus braços fortes a seguraram, puxando-a de volta para pertinho dele.
Ela se aninhou no peito de Alfonso enquanto esperava sua respiração acalmar, o coração ainda batendo forte. Mas foi outro ritmo que chamou sua atenção. Por fora ele parecia plácido, calmo. Mas ela sentiu que por dentro seu coração estava acelerado.
Será que ele também havia se assustado?
— Não tenha medo — sussurrou Alfonso enquanto ela se segurava ao seu braço. — Eu jamais deixaria você cair. Jamais deixaria você se machucar.
Por algum motivo, ela sabia que o que ele dissera era verdade.
— Estou bem — garantiu Annie, achando que ele afrouxaria seus braços pelo menos um pouquinho. Contudo, os braços de Alfonso continuaram a envolvê-la como correntes de ferro, mesmo depois que eles haviam alcançado o cume e estavam finalmente se aproximando do agrupamento de tendas que compunha o acampamento.
Ela mal podia esperar a hora de descer. A poeira de um dia de viagem havia se acumulado sobre sua pele e ela tinha certeza de que o fedor do camelo estava fazendo o mesmo. Mas agora ela não teria de esperar por mais muito tempo.
Crianças de cabelos negros correram até eles, sorrindo e rindo, túnicas compridas adejando em torno de suas canelas e pés. Bodes levantaram as cabeças para conferir a mais recente distração antes de perderem o interesse.
Um jovem mais alto veio em direção aos camelos. Tinha olhos alertas e inteligentes e um sorriso genuíno estampado no rosto. Ele acariciou o focinho do camelo que eles estavam montando, comandando-o a sentar. Annie sentiu-se ser empurrada para a frente quando o camelo se ajoelhou, mas os braços fortes de Alfonso não a deixaram cair. Quando o camelo estava no chão, Alfonso afrouxou seus braços para que ela se soltasse e descesse para o solo antes que ele também desmontasse.
— Majeed — disse Alfonso, abraçando o rapaz.
— Bom dia, sheik Alfonso — respondeu formalmente Majeed num inglês com forte sotaque. — Trouxe meu novo professor?
— Claro, Majeed. Eu não prometi?
Momentos depois ela notou o jovem se afastar com um dos homens que haviam viajado em seu grupo. Ela quis perguntar a Alfonso sobre o professor — ela presumira que todos os homens que tinham vindo com eles eram guardas —, mas estava cercada pelas crianças, que seguravam suas mãos e falavam sem parar.
— Você talvez queira se lavar agora — ele sugeriu a ela, cofiando os cabelos das crianças enquanto a conduzia em direção ao acampamento. — Trarão a sua mala. Eu lhe mostrarei a sua tenda.
Ele se virou para as crianças e disse alguma coisa em sua língua. Todas imediatamente se espalharam e correram para suas tendas.
— O que disse a elas?
— Mandei contarem a suas mães que o médico já vai começar a atendê-las.
— Um médico veio conosco? Achei que aqueles homens eram guardas.
— Tínhamos um guarda conosco, é verdade. Mas meu povo não precisa muito de guardas. Eles precisam de ajuda se quiserem manter seu estilo de vida pelo máximo de tempo possível. Precisam de atendimento médico e vacinas. Às cidades ficam longe demais para viajarem até elas em busca desses luxos.
— Foi por isso que trouxe o professor?
— Exatamente. O rapaz, Majeed, é brilhante. Ele já superou o nível de seu professor anterior. Ele precisa de novos desafios e aprender novas habilidades.
— Ele não poderia ir à escola em Hebra? Aqui em Jebbai vocês não têm internatos?
— Claro. Mas então como ele poderia ajudar sua família? Ele irá para a universidade, quando for a hora, e quando seus irmãos estiverem mais velhos. Mas seu pai precisa dele agora, e desta forma ele pode estudar e ao mesmo tempo ajudar a família.
— Entendo — disse ela, embora não entendesse. Sim, o que ele dissera fazia sentido. O que não fazia sentido era este lado completamente diferente de Alfonso. Ela estava acostumada ao lado cruel e autoritário dele, o Alfonso que agira por raiva, sem considerar os sentimentos alheios.