Fanfic: As Vestes do Amor - AyA (Adaptada) - FINALIZADA | Tema: AyA

Ele atravessou o quarto, pegou as folhas no chão e correu os olhos por suas linhas.
— Você me trouxe para cá para satisfazer seu desejo por vingança.
— Não foi assim — retrucou Alfonso, embora ele soubesse que tinha sido, ao menos no começo.
— Mesmo? Então como foi? Você vai ter coragem de me dizer que esbarrou em mim por acidente, sem saber da minha conexão com Rodrigo?
Diante do silêncio de Alfonso, Annie prosseguiu:
— Como eu fui estúpida! — exclamou, jogando a cabeça para trás. — Não consigo acreditar que levei todo esse tempo para descobrir. Você planejou tudo isso desde o começo. O fato de eu ser estilista foi muito conveniente para você. Isso facilitou muito para me trazer até aqui. Tudo que precisou fazer foi pagar bem a Gianfranco,
que ficou muito feliz em me empurrar para você. E depois que conseguiu me trazer para cá, você não tinha a menor intenção de deixar que eu fosse embora.
— Não! — exclamou. — Embora seja verdade que eu tinha contas a acertar com Rodrigo.
— E me roubar dele fazia parte desse acerto.
— Por que ele deveria tê-la? Ele não a merece. Sim, no começo, tudo que eu queria era vingança. Mas isso foi antes de conhecer você. Então eu soube que ele não a merecia. Que você merecia coisa melhor.
— E essa coisa melhor era você? Eu acreditei em você. Fiquei do seu lado contra Rodrigo quando ele me implorou para não vir a Jebbai. Eu senti pena da sua "noiva", doente demais para fazer parte dos preparativos de seu próprio casamento. E você estava me usando o tempo todo. Estava me usando para se vingar dele.
— Talvez tenha sido assim no começo — admitiu Alfonso. — Mas não foi assim o tempo todo. Eu queria vingança, é verdade, mas depois que a conheci, soube que você não era apenas uma posse de Rodrigo que eu precisava ter. Eu queria você pela mulher que você é. Precisava tê-la, corpo e alma.
Ela cruzou os braços, a expressão em seu rosto espelhando sua linguagem corporal, que gritava descrença.
— Conte-me sobre Helene. O que Helene tinha de tão especial para você não suportar que outro homem a possuía?
Ele rangeu os dentes. Ele esperara por essa pergunta, mas isso não facilitava respondê-la.
— Ela era jovem e bonita. Estudante universitária. Muito inteligente. Nossos pais apoiavam o casamento. Teria cimentado relações entre um imenso conglomerado de petróleo e uma nação produtora. Teria sido uma união muito produtiva.
— Você a amava?
Mais uma pergunta muito difícil. Tudo acontecera há muito tempo. Na época, ele julgara que sim, mas agora, conhecendo Anahi e a forma como ela fazia que ele se sentisse... Talvez ele tivesse apenas gostado da idéia de estar apaixonado.
— Eu não tinha nem vinte anos — disse, dando de ombros.
— Isso não responde à minha pergunta.
— Então, não — disse com um suspiro. — Eu não a amava, mas eu a queria. Poderia ter sido um bom casamento, seria bom tanto para nossas famílias quanto para nossos interesses. Mas não aconteceu.
— Porque Rodrigo chegou primeiro.
— Rodrigo interferiu numa coisa que não era da sua conta. Ele não deveria ter se envolvido. E por causa do que ele me custou, eu jurei que tomaria alguma coisa dele, para fazer com que sofresse uma perda que fosse ao menos uma fração da que eu tive. Para fazer com que entendesse o dano que ele havia me causado. Para fazer ele pagar por esse dano.
— Ele a salvou! Ele fez algo que só um amigo verdadeiro teria feito. Ele resgatou
uma garota aterrorizada de um casamento que ela não queria, e de um homem que arruinaria sua vida. Você não consegue ver o heroísmo de Rodrigo? Você o perseguiu durante anos, anos, apenas porque ele tomou uma coisa que você queria. — Ela fez uma pausa, rosto corado, olhos arregalados. — Não acha que é hora de superar isso?
Alfonso respirou fundo, tentando manter sua ira sob controle.
— Acha que tudo isso diz respeito apenas a Helene?
— Não. Eu acho que isso diz respeito também ao seu orgulho. Ele foi ferido quando você descobriu que Rodrigo foi mais esperto e rápido que você. Tenho certeza de que você jamais perdoaria Rodrigo por isso.
Ele golpeou o punho contra o tampo da mesa, derrubando objetos e espalhando canetas. A dor subiu por seu braço, mas ela não se comparava ao ódio que sentia. Ao ódio puro por alguém que lhe custara algo precioso demais.
— É aí que você se engana. Eu poderia ter perdoado Rodrigo por me ter tomado Helene. Eu poderia até viver com o fato de que ele se mostrou mais esperto do que eu, se você acha que esse foi um fator. Mas eu jamais perdoarei Rodrigo pelo que ele fez aos meus pais.
— Seus pais? — perguntou Annie, testa franzida, cabeça inclinada para o lado. — Do que você está falando?
— No dia em que eles deveriam estar no meu casamento, no exato dia em que eles deveriam estar celebrando minha união com Helene em Londres... nesse mesmo dia, eles estavam numa montanha suíça, e foram pegos pela avalanche que o matou.