Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

SEGUNDA FASE

CAPITULO 6

1 ANO DEPOIS

O frágil corpo convulsionava na cama, soado e esgotado. Anahí tentava de todas as formas abrir os olhos, despertar daquele pesadelo, mas as imagens que se sobrepunham em sua mente, uma após a outra, sufocavam-na. Ouvia Lucas gritar, podia jurar que via um carro capotar diversas vezes em sua frente. Mas o carro nunca estava vazio: via Laura lá dentro, e a sensação era apavorante. Via Lucas, já inerte, ensangüentado, e queria gritar para salvar o marido. Mas não conseguia, suas pernas não a obedeciam, sua voz teimava em ficar presa na garganta, agonizante. E então, da mesma maneira que o pesadelo veio, ele se foi como fumaça tóxica. Anahí foi despertada por uma voz infantil, que chorava no cômodo ao lado.

Ela se levantou da cama num salto, completamente atordoada, ainda assustada e chocada com o que vira em seu sonho, e correu em direção ao quarto de Laura. As portas dos quartos e banheiros não ficavam mais fechadas, devido aos constantes pesadelos da filha, e isso facilitou sua saída. Num piscar de olhos, estava prostrada ao lado da cama da pequena (agora prestes a completar cinco aninhos intensos).

- Laurinha? – Any chamou, assustada ao ver a filha debatendo-se e lágrimas cobrindo seu rosto angelical. – Filha? Amor, acorda... – abraçou-a. – Está tudo bem... Acorde... Mamãe está aqui.

Aos poucos, Laura abriu os olhos, já inundados de lágrimas. Sentiu-se reconfortada, finalmente, pois os braços da mãe a apertavam como se formassem uma barreira contra o mal. Desesperada, escondeu-se no pescoço da protetora, que tentava acalmá-la. A respiração de Laura aos poucos voltava a ficar regulada, e Anahí achou que fosse igualmente desabar. Ver a filha naquela situação, tão exposta e frágil, tão abalada e pequena, machucava-lhe de tantas maneiras...

- Está tudo bem, meu amor. A mamãe está aqui. – Any sussurrou.

- Mamãe, o pa-pai... – ela engasgou e voltou a falar. – O papai não vai mais voltar?

Anahí não sabia mais o que fazer. Não sabia mais como falar. Fora um golpe cruel da vida, perder o marido daquela maneira tão trágica: ela achou que não fosse conseguir se reerguer e que viveria num estado eterno de dor. Num minuto, tinha tudo e no outro, apenas lembranças e escombros. Mas tinha encontrado motivos para tentar se reerguer: Laura. A menina precisava dela, agora mais do que nunca. Ela não podia deixá-la, como a própria família havia sugerido (“seu marido morreu, deixe essa criança e volte pra casa”); mas brigou contra tudo e todos. Ora essa, Laura era sua filha! E cuidaria dela... Por mais difícil que aquilo fosse: elas sempre estariam juntas.

- Bebê... – Any começou. Sentia-se mal. – Lembra que a mamãe falou que o papai agora é um anjo, lá no céu? – Laura assentiu, fungando. – Ele... ele mora lá no céu, agora. E quem mora no céu não pode vir nos visitar.

- Por que, mamãe? O papai morreu, eu sei... – aquilo doeu em Anahí. Gostaria de poder colocar a filha numa redoma, onde ninguém falasse sobre “morte” perto dela. – Mas por que? Ele não gostava mais da gente?

- Laura, seu pai nos amava. Com toda a vida dele. – beijou o topo da cabeça da filha. – Mas Deus achou que seu pai já havia cumprido a missão dele na terra. E foi a hora de ele ir ficar lá em cima, olhando por mim e por você. O papai cuida da gente, sabia?

- É? – Any confirmou com a cabeça. – Mas eu queria ele aqui, me abraçando e me beijando. Eu juro, mamãe. – ela pareceu séria. – Eu nunca mais pediria brinquedos caros para ele, se ele voltasse...

Any não conseguiu repreender o sorriso terno que nasceu em seus lábios. Laura estava encolhida em seus braços, as ondas do cabelo batendo no queixo, a franjinha grudada na testa devido ao suor, as bochechas coradas, os olhos claros e suplicantes.

- Seu pai te daria o mundo, se você pedisse, meu amor... Mas me escute: agora ele está dentro do nosso coração. Você lembra o que a mamãe disse? – a pequena assentiu mais uma vez, triste. – Você sempre pode pensar nele com muito carinho e muito amor. E, quando você quiser dar um abraço, peça a mim. Você gosta de me abraçar? – em resposta, Laura apertou Anahí ainda mais, como se não quisesse perdê-la também. Any riu baixinho. – Pode me abraçar sempre que quiser. A mim, a tia Mai, a tia Dulce, ao tio Koko... Todo mundo. Não vamos deixar você.

- Eu sinto saudade dele, mamãe.

- Eu também sinto, querida. Mas ele não quer nos ver tristes, certo? – Laura concordou. – Você quer que a mamãe durma com você hoje?

- Sim...

Anahí acomodou-se na mini cama de Laura, e aconchegando a filha em seus braços, cantou para que ela dormisse. Aos poucos, os olhinhos da pequena fecharam-se, ainda úmidos pelas lágrimas de agora há pouco. Anahí abraçou-a fortemente, sofrendo junto, querendo arrancar de dentro da filha a dor que ali habitava. Seria uma longa noite.