Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Então, sorrindo abertamente, Poncho se virou. Primeiro passou os olhos pela organizadora de eventos, e só então os pousou na mulher ao lado dela. Christian Chavéz estava do outro lado do salão e instantaneamente acompanhou o olhar de Poncho, vendo-o empalidecer. O moreno, por sua vez, sentiu a garganta secar. A principio, achou que estivesse vendo demais, mas permitiu-se analisar aquele rosto com mais cuidado. De fato congelou, as mãos grudadas à garrafa de Heineken como se vida dependesse do gesto. Ela foi a primeira a falar.

- Alfonso Herrera? – munida de uma coragem que deve ter vindo do além. – Então, eis o nosso CEO! – a voz, no entanto, saiu num meio fio que Anahí achou patético.

- Olá. Esse sou eu... E você...– ela não notou o enorme esforço que ele fez para que a voz saísse clara e alta. Sorrindo, estendeu a mão para que ela apertasse.

- Anahí Portilla. – esqueceu completamente do codinome. – Essa sou eu.

Os segundos seguintes pareceram eternos, a medida em que os dois se encaravam, com sorrisos bobos e involuntários no rosto. Apesar disso, ambos os corações batiam desesperadamente no peito, como se estivessem prestes a arrebentar a caixa torácica e sair dali. Alfonso, entretanto, estava visivelmente abalado. Nunca imaginou que iria revê-la daquela maneira. Quando pensava sobre isso, a situação era diferente; ele estaria com um plano arquitetado, estaria no controle. Nunca imaginou que ela simplesmente surgisse assim.

- Você realmente ficou rico com os computadores, hein? – ela tentou dissipar a tensão, sorrindo nervosamente. Ok, tinha sido uma retórica patética.

- E você realmente se tornou uma jornalista renomada. – ele retribuiu o sorriso; todos os músculos de seu corpo estavam rígidos. – Não me lembro de ter visto o seu nome na lista, Any...

- Assino com codinomes. E eu também não imaginei que você fosse o dono de... tudo isso aqui. – ela olhou ao redor, admirada, e também por querer evitar ao máximo contato visual. – Apesar de que agora não é tão impossível assim... H Company... Herrera...

Ele assentiu, abobalhado. Anahí estava linda, para dizer o mínimo. Uma deusa, para ser sincero com as próprias impressões. Os olhos, mais azuis do que se lembrava. O cabelo já não era louro, mas de um castanho sexy, mais longo e ondulado, emoldurando o rosto de traços delicados. Ela estava muito diferente, embora pudesse reconhecê-la em qualquer lugar do mundo. Mas estava madura (é lógico que está, Alfonso, sua anta, quantos anos se passaram? Dez?), mais mulher, um olhar determinado. Mais cheia de si do que antes, embora ela sempre tivesse sido confiante.

- Eu disse que conseguiria. – Alfonso disse. Os olhos de Anahí escureceram.

- Eu me lembro. – ela sorriu friamente. Alfonso conhecia aquele sorriso; não era nada amistoso. – “Não posso deixar que nada me atrapalhe e me prenda aqui”. Acho que foi mais ou menos isso que você disse, não? – arqueou a sobrancelha. Ela continuava irônica.

- Deve ter sido. Minha memória é seletiva, você sabe. – Alfonso respondeu a altura. – Também me lembro de você dizendo que nada te tiraria daqui. Nem mesmo... eu.

- Tivemos nossos motivos, não? – ela agiu com indiferença, mas por dentro estava remoendo-se. Não queria cutucar aquelas lembranças. – Isso aqui é incrível, Poncho. Eu pesquisei sobre os feitos da empresa e os projetos, e fiquei impressionada com a responsabilidade social, principalmente. – Any sorriu, realmente orgulhosa. – É claro que não consegui saber nada sobre o dono disso tudo...

Ele riu. Estava nervoso. Mantinham uma certa distancia um do outro, mas nem por isso conseguia ignorar as batidas arrebatadoras de seu coração. Ela tinha jogado na cara dele o que aconteceu: o abandono, a maneira como ele optou pela carreira, a maneira como ela se recusou a acompanhá-lo.

-  Queria que fosse uma surpresa para todos, ver um cara jovem a frente disso. Brasileiro. – ele coçou o cabelo. – Já era uma forma de impactar o conservadorismo. Mas, Any, e você... – Poncho definitivamente não queria falar de trabalho. Não ali, com ela olhando atentamente seus olhos.

- Podemos começar a entrevista, Poncho? – rapidamente, tirou o gravador da bolsa. Ele respirou fundo: isso também não havia mudado. Ela não queria conversar. Estava incomodada com algo, e ele sabia. Ninguém a conhecia melhor do que ele, e no fundo, sentiu-se satisfeito por ainda ser capaz de perceber os sinais sutis que ela emanava. Anahí colocou uma mecha de cabelo castanho atrás da orelha, o que ele achou adorável.

- É claro... – deu-se por vencido.