Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

CAPITULO 9

No tempo que se seguiu, Anahí não falou de nada além de trabalho, embora estivesse se esforçando para não fugir do foco. Ela perguntou coisas sobre a empresa, como ele havia começado, quando foi que ganhou investidores e caiu nas graças do Google (é claro, não deixaria nada passar. Cutucá-lo era uma forma de dizer o quanto ainda a aborrecia o que aconteceu há anos atrás). Ele respondeu tudo calmo, mas olhava nervosamente para ela. Alfonso tinha que confessar: estava um pouco decepcionado consigo mesmo, por simplesmente não ter calado-lhe a boca ainda e dito tudo o que queria dizer. E por estar parecendo um adolescente. Tinha consciência de que talvez não fosse o momento, mas não ia perdê-la de vista mais uma vez. Enquanto Anahí anotava coisas rapidamente numa caderneta, ele a fitava demoradamente.

- Então, como foi pra você largar tudo o que tinha no Brasil, como família e amigos, para ir aos Estados Unidos? Tranqüilo? Não se arrepende? – Anahí disse, afiada, venenosa, fitando Alfonso nos olhos e o desafiando. Ele ficou surpreso com a pergunta, mas aquilo era a cara dela: dizer o que estava sentindo. Ela queria afetá-lo de alguma maneira, e para isso agia mesmo com infantilidade, quando queria. Poncho chegou a sorrir.

- É claro que foi difícil, mas todos confiaram no meu sonho. – ele disse. Anahí também torcera muito por ele. – E acho que meus amigos e minha família estão orgulhosos do que eu conquistei. – ela queria interrompê-lo, dizer que também estava orgulhosa, mas que diabos, ele a machucara! Mas Anahí refreou-se: aquilo era trabalho. – Eu sofri especialmente porque tinha uma namorada, na época, pela qual era apaixonado. – ela cerrou os olhos, mas Poncho não se intimidou. – Infelizmente, não pudemos ficar juntos, mas acho que não me arrependo de ter trabalhado duro para estar aqui hoje. Antes de ser o dono da HC, eu já fui um estudante nerd nos EUA que se sustentou durante muito tempo consertando computadores dos ricos, que achavam estar me fazendo um favor. – Any abriu a boca, mas ele a deteve. – Tem gente que passa por coisa pior.

- Eu sei que sim. Não quis desvalorizar a sua luta, só...

- Mas, se quer saber, Anahí, a coisa mais difícil que fiz foi deixar as pessoas que amava aqui. Eu preferiria passar por todas as dificuldades que passei novamente, ao invés de ter que agüentar ver mágoa e ódio nos olhos das pessoas. – ele a fitava diretamente nos olhos. – Eu nunca vou esquecer a maneira como olhou pra mim... Você estava...

- Destroçada. – ela cortou, fria. – Não estamos falando de nós, Herrera. E, caso seja do seu interesse, eu nunca quis burlar os seus sonhos. Sabia que você chegaria longe e não ia te impedir.

- Eu sei. Percebi pela maneira como você negou me acompanhar veemente.

- Eu tinha meus próprios sonhos! – a voz dela se alterou por um instante, mas ela recuou ao perceber alguns olhares inquisitivos em direção aos dois. – E você tinha acabado de me trair.

Poncho fechou a cara. Quantas vezes teria que dizer? Ele não havia traído-a! Ok, já fizera isso antes, e ela o perdoou. Depois daquele episodio, ele nunca mais repetiu esse erro. Só que Anahí não acreditava. Agora tinha certeza de que ela jamais acreditaria. Seus olhos ainda emanavam rancor. Ele sabia que as coisas estavam começando a ficar perigosas entre eles, ali. Anahí tinha o pavio curto, e ele não era exatamente um gentleman.

- Eu não... – Poncho ia começar, mas foi interrompido.

- Não viemos aqui para falar disso. – ela murmurou, repentinamente dando-se conta do papelão que estava fazendo. Tentou sorrir sincera: - Bom, eu acho que é isso... Tem uma moça ali querendo me comer com os olhos. Acho que meu tempo acabou. Obrigada pela entrevista, Poncho. Eu...

- Não, espera, Any! – ele pegou na mão dela. O olhar dos dois automaticamente pousou sobre suas mãos mais uma vez unidas. – Nós... precisamos conversar.

- Precisamos? – ela ergueu as sobrancelhas, teimosa.

- Como amigos. É claro. – ele respondeu, sem soltar as mãos dela. Os ânimos se acalmaram. – Eu acho que nós temos muita coisa para por em dia. Você já viu onde meus sonhos malucos me levaram, eu quero saber de você.

Os músculos do ombro de Anahí relaxaram um pouco. O toque das mãos de Alfonso era familiar e aconchegante, quase como fora anos atrás. Deveria atender ao pedido dele? Será que ele tinha algum direito de saber sobre a sua vida? Definitivamente, não tinha direito algum, mas ela... Sentia-se bem com ele. Apesar do incômodo de terem conversado sobre o mundo das cifras e depois ter protagonizado aquela discussãozinha ridícula, conversar com ele era sempre leve. Anahí lembrou de como eles gostavam de passar horas conversando sobre amenidades, ou polêmicas, na época em que namoravam. Ficou um pouco surpresa por mesmo depois de tanto tempo, a conversa ainda fluir daquela maneira (quase) desprendida de constrangimentos.

- Eu tenho algumas outras entrevistas para dar, mas isso não vai demorar. – ele garantiu, fazendo questão de manter contato visual. O verde fundindo-se ao azul profundo. – Você pode curtir a festa e nós nos vemos daqui a pouco. O que você me diz?

- Eu não posso demorar, Poncho.

Por uma fração de segundos, Alfonso perguntou-se por que diabos ela não poderia demorar. Franziu o cenho. Um namorado, talvez?

- Você tem algum compromisso? Com alguém em especial?

Ele foi direto. Como costumava ser. Algumas coisas nunca mudam, afinal.

- Simplesmente não posso demorar. – Poncho sentiu algo em seu peito rugir. Uma pontinha de ciúmes. Estava sendo dispensado? Mas, ora, o que o fez pensar que não seria? Era Anahí, afinal. Ele poderia controlar a HC inteira, completamente sozinho, mas não podia lidar tão facilmente com Anahí Portilla. – Mas ainda está cedo – ela olhou no relógio, considerando. - Acho que posso te esperar... Um pouco.

Poncho abriu um enorme sorriso. O que quer que estivesse esperando-a, poderia aguardar um pouco para que ela atendesse ao pedido dele.  Seria sua chance. Talvez pudessem conversar de verdade, sem trocar farpas (tudo bem, isso era pedir demais). Mas Poncho não tinha como negar o bem que estar com ela estava lhe proporcionando. Por um segundo, ficou bravo consigo mesmo: o que ela tinha para fazê-lo sentir como se nada tivesse mudado, quando sabia que nada mais era igual? Ele próprio havia mudado. Mas as sensações que Anahí lhe proporcionava no passado... Pareciam intactas.

- Tudo bem. Eu prometo não demorar. – A vontade de Alfonso era se aproximar, despedir-se dela decentemente, dizer “até logo” no pé do ouvido. Antigamente, essas coisas costumavam mexer com Anahí, e ele estava... ansioso... para saber se ainda tinha esse poder sobre ela. Se ela ainda podia sentir o corpo tremular ao tocá-lo, mas era pedir demais, até mesmo para o ego inabalável de Alfonso Herrera.

Anahí não confiou. Por experiência própria, não era bom acreditar nas promessas dele.