Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Alfonso, anos depois, horas mais tarde – Estados Unidos

Alfonso virava de um lado para o outro na cama, insone e definitivamente desperto. A mente trabalhava a mil; pensamentos se confundiam, se fundiam... estava preocupado e ainda visivelmente perturbado pelos efeitos do álcool – whisky? Bateu os olhos no relógio ao lado da cama: 4:30 AM. O lado esquerdo da cama ainda estava quente: há pouco, dispensara a mulher que o fizera companhia naquela noite – diabo, não conseguia se lembrar do nome da garota. Sentiu-se um pouco culpado por isso: não costumava ser de sua personalidade usar as mulheres daquela maneira, por mais que não sentisse absolutamente nada pela mulher em questão.

Ele levantou da cama, derrotado em suas tentativas de por fim dormir. Estava com a cabeça cheia, estressado, e uma porção gigantesca de problemas com a recém criada H Company o atolavam cada vez mais. E, para pior, tinha aquilo. Aquele maldito encantamento por Anahí Portilla que não o deixava pensar direito, agir como um ser provido de massa cinzenta. Metade dos problemas daquela fatídica noite não teriam acontecido, se ele não possuísse aquela mania irritante e corrosiva de procurá-la em tudo. Aquela mulher – e como era mesmo o nome? – tinha um perfume parecido com o de Anahí, ele poderia ter jurado, depois de algumas doses de álcool. O sorriso, talvez... Bom, talvez ele apenas quisesse enxergar Anahí naquela pobre moça, que nem mesmo se tivesse sido parida por uma divindade, chegaria aos pés de Anahí Giovanna.

O inferno havia começado quando recebera, de sua mãe, algumas encomendas de coisas que ainda estavam no Brasil. Caixas com fotos, cartas, disquetes – sim, disquetes – e o álbum de formatura, além de roupas e outras coisas que, ao contrário das anteriores, não o faziam se sentir tão mal por ter deixado tudo para trás. É claro que não estava de todo arrependido, embora certas decisões ainda pesassem em sua consciência. Estava estudando muito, trabalhando como um louco, e o futuro de sua empresa de tecnologia parecida muito promissor. Em pouco tempo, ficaria milionário, se tudo desse certo. Poderia voltar ao Brasil e expandir suas redes. Melhorar a qualidade dos serviços; realizar grande parte de seus sonhos. Quem sabe, reencontrá-la.

Aquela idéia vinha pairando por sua mente desde que fora embora, para ser sincero. Talvez, quando voltasse ao Brasil (ele não sabia exatamente quando isso aconteceria), Anahí já não o odiasse tanto assim. O que não era tão provável, já que a lembrança mais vívida que Poncho tinha daquela época era de Anahí possessa, ferida e sentindo-se traída quando ele admitiu que tinha que deixá-la. Inconvenientemente, outros problemas caminhavam com eles, como o fato de Poncho sempre ter tido muitas mulheres em seu pé e Anahí estar mais uma vez convencida, naquela ocasião, de que ele havia traído-a de fato. Isso nunca aconteceu.

Mas Anahí nunca deixava por menos, cedia muito pouco, era um diabo teimoso e orgulhoso. Também era linda o suficiente para estar muito bem acompanhada; encantadora o suficiente para ter conhecido alguém que soubesse valorizar isso, agora. Não que ele não soubesse... mas era um garoto estúpido, talvez ambicioso demais, talvez impulsivo demais. O que afinal de contas todos esperavam que ele fizesse? Pelos seus cálculos, ninguém estava reclamando do fato de ele ganhar um dinheiro considerável agora! E não perdê-la havia sido doloroso para mais ninguém  além dele. Foi a coisa mais difícil que havia feito. Já fazia alguns anos, mas por mais que tentasse, a imagem de Anahí em sua frente parecia ser perpétua. Agora fazia o tipo valentão, o tipo “sou-rico-inteligente-e-bonito”, mas não poderia negar aquilo a si mesmo.

Poncho sentiu a cabeça doer fortemente quando deu os primeiros passos em direção ao banheiro. Ah, que ótimo! Praguejou. Tinha mais algumas horas de sono até uma reunião importante com alguns programadores americanos. Sentiu-se satisfeito por ao menos lembrar-se disso, pois seu estômago estava revirado e cabeça igualmente. Maldito whisky! Alfonso sentiu-se brutalmente nauseado, e quando inclinou-se para vomitar, os olhos focaram-se em uma das fotos de Anahí que vieram com a encomenda da mãe. Ela estava sorrindo por trás dos óculos de grau, com os cabelos grudados na testa um pouco soada. Era um dia de sol.

- Puta que pariu!... – e, gemendo, Poncho vomitou.