Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Poncho poderia sorrir com a lembrança, mas estava tão atormentado que não conseguiu. Mantinha seus olhos presos aos dela, imaginando o quanto ela deveria ter sofrido. Será que quando o acidente aconteceu, ela já tinha superado aquele medo? Ele se lembrava bem do quão apavorada ela ficava em dias de chuva. Costumava irritá-la de propósito, caçoar de seu medo bobo, embora nunca a tenha deixado sozinha. Imaginou o quanto deve ter sido doloroso para ela ter perdido o marido naquelas circunstâncias. Um marido que ela provavelmente amava, já que tivera uma filha com ele. Alfonso pigarreou, sentindo-se contrariado com as próprias conclusões.

- Eu sinto muito... – ele disse, vendo-a assentir. – O seu codinome... é A.V? – ela balançou a cabeça, confirmando. Estava tensa. – O que significa?

- Anahí... Veronelli. Era meu nome de casada. – Poncho engoliu em seco. Anahí Herrera soava melhor... É o que eles diziam dez anos antes. – Ele se chamava Lucas.

- Não sei o que dizer.

- Não precisa dizer nada.

Os dois permaneceram em silêncio. Any continuava abraçada ao próprio corpo, olhando Laura brincar, mas a mente estava longe. Vez ou outra olhava de esguelha para Poncho, tentando decifrar os pensamentos dele. Confessar tudo aquilo para Alfonso não tinha sido a melhor das experiências. Quando pensava sobre isso, se algum dia voltaria a vê-lo, ela se imaginava firme. Imaginava que não sentiria nenhum tipo de incômodo, para ela seria tranqüilo olhar nos olhos de Alfonso e dizer que sim, sim, havia seguido em frente. Mas, Deus, não foi fácil! Achou que por pouco a voz não sairia. Aquilo era como perceber que o que tiveram ficara anulado para sempre.

Alfonso, por sua vez, guardou aquele nome na cabeça: Lucas Veronelli. A memória seletiva com certeza sabia o que era importante guardar. Poncho mirou Laura brincando mais a frente, acompanhando Anahí, mas seus pensamentos voavam, queria lhe perguntar tantas coisas, queria saber de tudo. O que, afinal, havia acontecido em tantos anos de distância? Será que as mágoas continuavam de pé? Será que ela ainda sentia ódio dele? Poncho se lembrava bem de uma das centenas de vezes em que eles ficaram sem se falar. Quando questionava se ela ainda o odiava, a resposta era geralmente cortante como faca afiada: <i>”ódio é um sentimento forte demais para nutrir por você”. </i> As palavras dela... Como podiam machucá-lo!

- Poncho... – Anahí chamou, hesitante.

- Sim, Any?

- Estou orgulhosa de você. Sempre soube que você chegaria longe. – ela sorriu. Um daqueles sorrisos sinceros, amáveis, que ela dava com o coração. Ele se lembrava muito bem deles... – Parabéns.

Ele a encarou intensamente. Não esperava qualquer reação dela nesse sentido. O instinto que teve a seguir foi o de abraçá-la e sentir o cheiro dos cabelos castanhos, mas é claro que se deteve. Esforçou-se muito para não  tomar-lhe pela cintura naquele momento. Provavelmente Anahí não entendia o alívio que ele sentia ao ouvir aquilo... Poderia não ter conexão alguma, mas era como se, aprovando o que ele fez, o império que construiu, ela não o odiasse tanto assim. E, é claro, a maneira sincera com que ela o olhou e sentiu, inocentemente colocando uma mexa do cabelo para trás, observando-o com aqueles enormes olhos azuis. Não era só encantador. Era enlouquecedor! Porque de alguma forma a Anahí de 16 anos estava ali novamente, aquela contradição em forma de pessoa, uma vez fazendo-o delirar apenas com um sorriso e outra vez deixando possesso com a teimosa, a língua afiada, aquela indiferença cortante e tão bem fingida que quase o fazia odiá-la.

- Obrigado, Any. – ele respondeu, sincero. – Soube que você também é muito boa no que faz... Isso também não é nenhuma surpresa pra mim. Você sempre escreveu muito bem. – ele sorriu. – A melhor.

- Espere só até sair a minha coluna sobre a H Company. – ela piscou, brincalhona. – Talvez você mude de idéia.

- Mais um motivo para eu continuar te bajulando. Estou nas suas mãos agora. – ele também brincou.

- Você está zombando? Olha que eu realmente afundar seu barco. Sou conhecida por ter argumentos coerentes e pela influência que exerço sobre o seu público-alvo!

- Longe de mim! – Poncho colocou as mãos à frente do corpo, como se estivesse se defendendo de acusações injustas.

E estavam se divertindo.  Rindo. Por um momento, a tensão anterior parecia ter se dissipado. Anahí e Alfonso estavam tão absortos em seus gestos, observando a maneira como ambos sorriam, que mal perceberam Maite se aproximar, sorrateira. A morena estreitou os olhos para a cena que via à distância, visivelmente confusa. Mirou Laura brincando mais a frente e estranho o fato de Anahí, A Paranóica, não estar com os olhos grudados na menina, controlando cada macaquice que a filha fazia. A médica segurava uma lata de refrigerante (aquela coisa entupida de corantes e substâncias corrosivas) e um cachorro quente recém prensado nas mãos - por pouco não deixou ambos caírem.

A princípio, Mai não reconheceu quem era o bonitão que conversava tão animadamente com Any. Começou a caminhar mais devagar, a fim de tentar fazer-se lembrar quem, afinal de contas, era aquele homem em um moletom surrado, mas que tinha a postura de um rei e que conversava de forma tão íntima com Anahí. Porque, sinceramente, Maite não podia acreditar naquilo que seus olhos viam! Devia fazer anos que Anahí não deixava que um homem se aproximasse dela daquela maneira. A morena chegou a cogitar a hipótese de a melhor amiga estar armada com um spray de pimenta ou coisa parecida ali, pronta para atacar aquele homem que a encarava como se quisesse engoli-la com o olhar. Mas não... A amiga estava...  à vontade...?

Maite se aproximou sem ser percebida. Laura a enxergou de longe, e acenou para a médica, que retribuiu animadamente, mostrando-lhe o refrigerante e o cachorro quente. À medida que se aproximava, Mai conseguiu distinguir melhor o homem. Os traços... o queixo reto, o nariz generoso; pode até vislumbrar a cor dos olhos do rapaz. Então ela ficou boquiaberta, mal podendo acreditar, quase sem fala. Delirava, ou aquele que conversava com Anahí de maneira tão amistosa era... Poncho?! O ex namorado de Anahí... há pelo menos 10 anos atrás? Mas ele não estava ficando podre de rico em algum lugar nos Estados Unidos (de onde ela havia rezado tanto para que ele não saísse nunca mais?). Quando se deu conta, já estava ao lado dos dois, que finalmente perceberam a sua presença.

- Olá! Nossa, estava uma fila gigante lá no tio do cachorro quente! – Maite parou ao lado de Anahí, sorrindo para a amiga, com a mão na cintura. Apesar da pose, Any notou que algo estava errado. Arregalou os olhos com a repentina aparição da morena. – Por sinal, só trouxe o da Laura, se quiser vá buscar. – virou-se teatralmente de frente para Poncho, que a olhava tão espantado quanto Anahí. – Hey! Está rolando um reencontro do colégio aqui e eu não fui convidada? – então, ela esboçou seu melhor e mais cortante sorriso.