Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

CAPITULO 14 

Depois de correr mais duas horas pelo Ibirapuera, a fim de tentar relaxar e pensar com mais clareza, Alfonso finalmente se convenceu de que era hora de parar. Não havia mais energia para ser extravasada e agora estava pesando as informações sem qualquer nexo. Não voltou imediatamente para casa – simplesmente pegou o carro e saiu zanzando por São Paulo, desta evitando pensar em coisas que envolvessem Anahí e sua filha. Pensou em sua mãe e em como apareceria de repente na frente dela: “olá, mamãe, eu voltei”. O pai provavelmente ainda estava ranzinza com ele, ressentido pela sua partida, e Oscar, o irmão mais novo, tentaria amenizar a situação com alguma graça.

Poncho não convidou os pais para a festa de lançamento da H. Company porque não queria que eles fossem alvos da imprensa e dos perigos que a fama trazia. Os pais não eram as pessoas mais glamuorosas do mundo, e tampouco se importavam com dinheiro. Quiçá com sua segurança e com a remota possibilidade de terem seguranças particulares! Para eles, estavam sempre seguros na vidinha que levavam, com os mesmos vizinhos há mais de 30 anos e os mesmos empregos. Não queria tirar a paz de ninguém – a dele próprio já estava bem comprometida. Por isso, avisou superficialmente à família que em breve retornaria ao país e que agora sua ajuda (monetária, obviamente) seria mais constante. Pôde ouvir os gritos de Armando Herrera de longe.

Não se pode agradar gregos e troianos, Alfonso pensava nisso enquanto tamborilava os dedos freneticamente no volante. A maioria das pessoas do passado com quem já se encontrou pareceu, no mínimo, insatisfeita ao vê-lo. E dane-se quem ele era para o resto do mundo, não é mesmo? Não se pode ganhar todas... Ok, bem... ele pode.  E não ia descansar enquanto não lograsse êxito.

Quando achou que já tinha dado tempo o suficiente para que dona Adelaide colocasse seu apartamento a baixo, fez o retorno em direção ao bairro Jardins. Se bem se lembrava, precisava fazer alguns telefonemas, digitar um nome em especial na lista de pesquisa restrita da Google e queria descobrir tudo para ontem. Não ia ficar no zero a zero, nem se movimentar às cegas, naquele jogo que havia começado sem a permissão de ninguém especificamente e com a aprovação de todos os lados envolvidos. Se desafiá-lo daquela forma, olhando-o com tamanha perícia, dizendo que infelizmente não podia ficar e virando as costas sem qualquer pudor não era dar carta branca para que os jogos começassem, ele sentia muito que tivesse interpretado assim.

Agora, ia até o final.

**

A noitinha já avançava naquele momento e Laura estava praticamente desmaiada de cansaço. Assim que chegaram do parque, Anahí evitou olhar para Maite com receio de ter que dar explicações que ela não queria dar. Por sorte, Mai recebeu um chamado urgente de uma mãe desesperada e teve que sair correndo, mas não antes de deixar claro que a memória estava em condições espetaculares e que não ia esquecer do ocorrido. Anahí resmungou e, sem querer ser malvada (tinha uma filha e entendia essas situações em que a criança não está bem), torceu para que a consulta fosse relativamente demorada. Maite poderia fazer um check-up geral na criança, quem sabe? Assim, ela teria a desculpa perfeita para não querer receber ninguém altas horas da noite em casa.

Laura acordou pouco tempo depois, e elas fizeram a lição de casa juntas. Ficaram o tempo todo grudadas – era uma forma de Anahí ocupar a cabeça, e nenhuma das duas se sentir sozinha. Antes do acidente, nunca havia reparado no quanto aquela casa era grande demais para elas duas, e no quanto estava vazia agora. Especialmente à noite, quando a cidade ao redor era menos ruidosa. Era solitário, então sempre que podiam, elas falavam alto e faziam bagunça. Às vezes, Any conseguia disfarçar a própria tristeza e embalar Laura nas suas loucuras – noite do pijama, noite das garotas, noite do chocolate quente -, mas também havia vezes em que santo nenhum tirava a filha de seu mundinho.

Hoje, no entanto, o soninho do fim de tarde parecia ter revigorado Laura. Acordou com as energias renovadas e, “sem tempo” nem para tirar as pantufas, correu para o balcão da cozinha com as suas tintas e cadernos, desenhando e pintando enquanto a mãe cozinhava. Any sempre se impressionava com o talento de Laura para desenho (mesmo que ela tivesse apenas quatro aninhos). As ilustrações já passavam de pauzinhos com bolas (representantes de rostos) sorridentes há tempos! Não pintava nada fora das dimensões e tinha uma imaginação realmente instigante. Ultimamente, os quadros de Laura eram pintados com cores mais escuras, e Any não pôde deixar de sorrir ao notar que a menina só havia trago tintas de cores alegres para a bancada.

- Hmmm, o que você está desenhando, Laurinha? – Anahí perguntou, esticando o pescoço para olhar.

- A prô Fernanda pediu para eu desenhar o que acontece de legal nos meus dias. – Laura respondeu, rabiscando algo. – Ela disse que, como é uma ativi... atividade, isso... que eu gosto de fazer, que é bom para mim. – com a lingüinha de fora, ela se concentrava em mais um passo do desenho. – E você, mamãe, o que está fazendo?

Anahí franziu as sobrancelhas.

- Comida. Algo leve, já que você se entupiu de besteira hoje. – Any riu. – Posso ver o que está desenhando? – e se sentou junto a filha.

- Claro, mamãe! – deu espaço para que Anahí visse sua obra-prima.

No desenho, Laura havia feito (de forma um pouco perfeccionista demais para uma criança de quatro anos...) o parque. Aparentemente, tinha desenhado a ela mesma, Anahí (por causa da adulta e dos cabelos longos), Maite com um cachorro quente nas mãos e... um homem. Any arregalou o olhos.

- Quem é esse, filha?

- O seu amigo, mamãe. O... – ela ficou pensativa. – como é mesmo o nome dele?

- O Poncho...? – a voz de Anahí falhou um tom.

- Sim, ele mesmo!

- Você achou legal conhecê-lo?

- Achei! Ele parece legal... Me achou corajosa! – ela sorriu de orelha a orelha.

Anahí mordeu os lábios. Ah, que ótimo, era tudo o que ela precisava! 

- Você gostou do dia de hoje, bebê? – Any perguntou, amarrando os cabelos de Laura para trás, a fim de evitar que se lambuzasse de tinta. – Se divertiu?

- Sim, mamãe. – Laura assentiu e sorriu, animada. – Foi muito legal. Obrigada por ter me levado.

O coração de Anahí derreteu em amor. Como Laura conseguia?! Deus, era tão linda, tão encantadora... e grata a ela por simplesmente fazer o seu papel como mãe! Quem não se sentiria nas nuvens tendo-a como filha? Amanda, ela fez uma careta involuntária, provavelmente não sabia o que havia perdido. E Anahí não se cansava de agradecer por isso.  Apesar de toda a situação controversa e mais confusa do que nunca.

- De nada, meu amor. – beijou-lhe o rosto e levantou para terminar a comida. – Podemos fazer mais vezes.

Laura concordou e depois parou, observando o desenho. Franziu o cenho.

- Mamãe, você acha que eu devo fazer o Poncho mais alto? Ele me pareceu tão grande!

Anahí gemeu e virou-se de costas para Laura, dando uma resposta vaga. O que aquele homem tinha para encantar todas as mulheres que ela conhecia? (Inclusive sua própria filha!).