Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Cheiro de casa limpinha. Aaaah, que coisa mágica! Com certeza, uma mulher habilidosa havia passado por ali. Que Deus e os anjos abençoassem dona Adelaide, apesar de toda a confusão que ela o fez passar naquela manhã. Ainda estava de moletom quando se jogou no sofá. Dali mesmo podia sentir o cheiro de comida fresca. Não é a vida que todo homem pediu a Deus? Bom, nem sempre. Poncho era irrefutavelmente inquieto e tão workaholic quanto um ser humano poderia ser. Por isso, mal se permitiu alguns segundos de mente descansada e já puxou o computador para a mesinha de centro (caríssima). Com a destreza de um hacker, digitava códigos de áreas restritas para iniciar sua busca. Na caixa de pesquisa, digitou calmamente, absorvendo cada letra na tela: Lucas Veronelli.

Os primeiros resultados já eram chocantes. Inúmeras manchetes falavam sobre o terrível acidente do arquiteto. Alfonso decidiu deixar essas para depois: primeiro, precisava conhecer o sujeito para então tirar suas conclusões sobre o marido de Anahí. Então, rapidamente, passou para outras seções da pesquisa. Lucas era bom no que fazia: encontrara pelo menos 20 matérias sobre os prêmios que o jovem talento havia conseguido. Poncho revirou os olhos. Viu várias fotos do rapaz, e aquilo sim instigou-lhe certa reprovação: o falecido marido de Anahí era um homem de presença. E era extremamente novo – talvez a mesma idade que ele. Entendia porque a ex namorada havia se apaixonado pelo rapaz: ele tinha uma expressão amigável, o que também irritou Alfonso. E era o pai de Laura, aquela menina encantadora. Ponto para ele, embora não pudesse mais competir. 

Depois, o empresário passou para as notícias sobre a morte dele. Foi um acidente terrível. Conforme Anahí tinha lhe relatado, chovia forte naquela noite. O motorista do caminhão fugiu ao perceber o que havia feito, mas as câmeras da rodovia identificaram a placa e ele foi preso algumas horas depois. A esposa do falecido não compareceu ao julgamento, e os representantes da família Veronelli apenas exigiriam que a indenização fosse colocada na conta da filha do casal. O carro de Lucas havia ficado irreconhecível e foi encontrado ladeira a baixo. O corpo do arquiteto havia sofrido várias fraturas, e a morte foi instantânea. Tiveram que lacrar o caixão. Lucas estava voltando de uma reunião muito importante, onde havia fechado um contrato milionário. O representante do empreendimento prestou condolências à família, que devolveu o adiantamento que o arquiteto havia recebido para fazer a obra, mesmo contra à vontade do contratante que realmente estava sentido pelo o que aconteceu.

Anahí não queria um real. Ela era honrada daquela maneira, ele se lembrava bem. Era dinheiro de Lucas, não dela. Havia aceitado o dinheiro da indenização porque achava que Laura tinha o direito. Poncho fuçou até encontrar a seguradora de vida de Lucas, e descobriu que ele também havia deixado bastante dinheiro no nome de Anahí e Laura. Mais uma vez, a parte de Anahí estava intocada e de Laura também, por ela ainda ser criança. Anahí não aparecia em nenhuma foto que falasse sobre a morte do marido.

Depois de horas indo e vindo em diferentes sites, Poncho colocou o computador para o lado e suspirou profundamente. Lucas parecia ter sido um homem bom, íntegro e querido por muita gente. Procurando por textos de A.V, ele encontrou um único texto que fazia referência à morte do falecido no blog pessoal de Anahí. O texto era dolorosamente bem escrito, e a maneira como Anahí falava da parte de si que havia perdido o deixou um pouco enciumado. Porque Lucas tivera o amor e o carinho dela, e ele havia perdido isso. Anahí contava no texto o quanto se agarrava a um pequeno serzinho para continuar, e Poncho começou a se sentir mal. Não é uma questão de quem ganha e quem perde; pessoas não são prêmios. Anahí falava isso no texto:

“(...) Acontece que, na vida, nos apegamos às pessoas como partes essenciais de nossa vida. Umas vão e deixam buracos enormes em nosso coração. Então, outras chegam e sem se importarem com o fato de termos sido furados dezenas de vezes, nos remendam e deixam tudo em perfeito estado mais uma vez. De repente é a vez da vida de mostrar quem manda, e aquilo que você mais ama é arrancado de você para sempre. Você fica sangrando e sangrando sem parar, e acha que a dor nunca vai te deixar, porque provavelmente não vai. Esse é o nosso problema: as pessoas tem prazo de validade, mas não deveriam ter. Porque, quando a sua vida só faz sentido porque encontrou alguém que te amasse de verdade, você perde o controle sobre qualquer coisa. Você sofre. Mas pessoas não são nossas. A dor é. Os sentimentos é que ficam, e esses não morrem nunca.”