Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Aquela semana estava sendo interminável. Interminável, caótica e simplesmente odiosa, na visão de Poncho. As coisas estavam dando errado umas atrás das outras, como num looping eterno, desde que desligara o telefone com Anahí, após ouvir um não humilhante.  Depois disso, não a procurou mais – diretamente -, mas no terceiro dia da semana saiu o artigo dela sobre sua empresa. Era um artigo gigante, muito bem escrito, bem humorado, detalhado e coerente sobre as impressões dela a respeito da H. Company. É claro, havia uma parte em que se falava dele, mas era tão impessoal que dava pra sentir raiva. Adjetivos como competente, inovador, inteligente e irreverente dançavam o tempo todo pelo texto, enquanto que ele esperava qualquer manifestação que lhe desse uma dica, um alerta.

 Alfonso passou os dedos pelos cabelos negros (que já precisavam de aparo) e finalmente permitiu que um suspiro de cansaço passasse pelos lábios. As olheiras estavam acentuadas e a gravata já havia tomado um rumo fazia tempo. Com a empresa, tudo caminhava às mil maravilhas – até por isso ele havia trabalhado como um louco, mas as consequências foram pouco mais desastrosas do que deveriam. Poncho já tinha sido grosso com meio mundo e gritado com a outra metade. A insatisfação pulsava em suas veias, e para piorar, Perla o encarava  como se debochasse dele. Ao que parecia, o que corria pelos corredores da empresa era que Alfonso tinha ficado irritado daquela maneira depois de um misterioso telefonema.

 Poucas pessoas haviam de fato visto as fotos dos jornais, mas entre aquelas que viram, a conexão entre as fotos, o telefonema e o mau humor estava clara. E Alfonso não foi muito condescendente com quem lhe fazia qualquer pergunta relacionada àquilo. Primeiro porque não era da conta de ninguém, e segundo porque realmente o estressava que Anahí mais uma vez estivesse interferindo tanto na vida dele.

 No final da tarde, Christian adentrou sua sala com o maior sorriso que ele já tinha visto o sócio esboçar. Chris estava viajando naqueles últimos dias, mas é claro que ficava sabendo de todo o reboliço dentro da empresa, do comportamento estranho de Alfonso depois de segunda-feira de manhã, e também é óbvio que ele sabia o porquê – ou podia imaginar com detalhes. É claro, ele tinha grande parcela na culpa pelo encontro de Anahí e Alfonso e até então ainda não sabia como o encontro havia sido de fato, no que havia resultado. Mas a resposta estava bem a frente dele: um Alfonso irritado, grosso, impaciente, que (pelo o que ele podia notar pelo vidro), olhava insistentemente para o telefone como se estivesse cogitando uma ideia. 

- Boa tarde, rei do mundo! – Chris disse, com um deboche evidente na voz. – Sentiu minha falta?

- Nem notei sua ausência, Christian, me desculpe. Estava ocupado demais trabalhando. – Poncho estava lendo alguns documentos (ou se esforçando para se concentrar na leitura) e nem sequer levantou os olhos.

Chris revirou os olhos, mas o sorrisinho continuava intacto nos lábios. Como era divertido ver Alfonso daquele jeito!

- Trabalhando e enxotando todos seus funcionários, pelo o que eu pude notar. – sem ser convidado, ele sentou na cadeira à frente da mesa de Poncho. – E aquela nossa política de tratar os colaboradores como eles merecem? Você só tem um mês de Brasil, amigo, vá com calma. Precisa ganhar a confiança do mercado primeiro pra depois colocar as garras de fora.

- Christian, <i>vá se foder</i>, por favor? Obrigado. – Alfonso respondeu, com a cara fechada.  O amigo, por sua vez, gargalhou. Poncho complementou: - Tá vendo? Ninguém pode dizer que eu não sou ao menos <i>educado</i> com os meus colaboradores.

- Não sou seu colaborador, sou seu sócio, por mais que doa no seu coraçãozinho aceitar. Tudo bem, você é majoritário, blá blá blá...

- Christian, o que você quer? – Poncho parou de ler os papéis a que estava concentrado e encarou o amigo, que aumentou ainda mais o sorriso.

- Como foi com Anahí?

Poncho estreitou os olhos e algo muito parecido com raiva nasceu em seu peito. Por causa do divertimento que transbordava pela expressão de Chris, como se estivesse caçoando dele, e porque o esforço que fazia para não lembrar havia sido em vão.

- Você teve algo a ver com as fotos, Christian?

- Que? Que fotos? Uau, já vazaram fotos?!

Poncho bufou. Jogou os papéis em cima da mesa e esfregou os olhos, cansado. Pela primeira vez, Christian assumiu uma posição mais séria.

- Ok, agora é sério. Que fotos? Sei que você não conseguiu falar com ela no dia da festa, mas a sua cara de puto com a vida não me deixa outra alternativa a não ser acreditar que esbarrou com ela de novo...

- E esbarrei. – Poncho respondeu. – No Ibirapuera, domingo. Foi algo totalmente aleatório. Por acaso mesmo... Encontrei Anahí e... a filha.

Christian arregalou os olhos, tamanho foi seu espanto. Tinha ouvido direito?