Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

BRASIL

Desde a adolescência, Alfonso era apaixonado por desafios e coisas perigosas. A corda bamba entre o êxito e o fracasso não lhe colocava medo, e sim o impulsionava. Não era muito diferente quando o assunto era a própria vida: depois de rico, ele desenvolvera uma certa paixão por motos e adrenalina. Por sentir o vento estilhaçando o rosto, lutando contra os perigos, o coração batendo rápido. E era disso que Alfonso precisava agora: correr muito rápido, tanto que não desse tempo de os pensamentos poluírem sua mente.

Um sorriso sádico dançou em seu rosto, quando ele colocou o capacete.  O motor rangeu com ferocidade uma, duas, três vezes, até que Poncho finalmente arrancou. A moto, uma das mais modernas (e caras, é claro) da atualidade realmente alcançava velocidades impressionantes! Poncho estava adorando ter novamente a sensação do vento batendo no rosto, da liberdade que era a impressão de estar voando. A boca ainda tinha gosto de whisky, mas ele pouco estava se importando... Acelerou mais uma vez. A noite já avançava consideravelmente, de forma que as ruas estavam mais escuras e vazias. E frias. Haviam apenas algumas prostitutas e alguns bares abertos. Quanto às multas, que elas fossem às favas!

Alfonso atravessou um farol vermelho em alta velocidade, e uma gargalhada gostosa escapou de sua garganta. Podia ver o rosto de espanto e desaprovação de Anahí em sua mente, olhando para ele com horror – os efeitos do álcool já se faziam notar. Em contrapartida, o sorriso dele se alargou: isso, isso mesmo! Queria que ela ficasse irritada com ele. Queria que ela soubesse que ele ainda comandava as próprias ações, que ela não o afetava... Muito pelo contrário! Poncho virou em uma curva acentuada, a perna quase tocando o asfalto, os pneus deixando marcas nas avenidas por onde passava voando. São Paulo era linda à noite, cheia de luzes embaçadas – talvez seus olhos estivessem igualmente embaçados.

Ainda havia Laura. Aquela menina linda, com os olhos azuis tão cintilantes quanto os da mãe, o corpo pequeno se moldando nos braços de Anahí como se tivesse sido planejado. Aquela imagem mexia com Poncho de tantas formas diferentes: uma imensa alegria e um ciúme que antes parecia justificável. Mil coisas passavam por sua cabeça enquanto ela acelerava sem pudor. Por que todos (ou ao menos todos os que ele tentava agradar) haviam-no recebido com tanta raiva? Será que depois de anos a fio, em um esforço quase sobre-humano, para conseguir erguer do zero aquela que era a empresa do momento, não tinham servido para nada? Será que ninguém mais via a grandiosidade disso?

Então, sem que ele percebesse, um outro carro atravessou a Paulista em velocidade pouco menor que a dele. O coração de Poncho deu vários solavancos e automaticamente as imagens do acidente do marido de Anahí vieram-lhe a mente, assustando-o. Ambos frearam, mas para isso Poncho se deslocou alguns metros fora do percurso, e sua moto poderosíssima se chocou numa pancada forte com um poste. Ele foi lançado para o lado da moto, desacordado, e filetes de sangue escorriam pelo supercílio.