Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Para Anahí, a semana não havia passado tão melhor. Ouvir de Dulce coisas que a machucavam e aguentar Maite olhando-a como se fosse um bichinho indefeso não foram coisas que ela engoliu muito fácil. Any tinha verdadeiro horror a que dissessem o que é que ela deveria ou não fazer com a própria vida. Desde pequena fora assim – fora assim inclusive quando os pais julgaram-a por escolher ficar com Laura, e quando ela os renegou, repudiando a ideia de largar a filha simplesmente porque não era a mãe biológica dela. Naquela ocasião tivera tanta força! Estava aos trapos, simplesmente perdida por ter perdido Lucas e ainda havia tomado uma decisão que reverbaria por toda a sua vida: seria mãe.

E agora... bem, agora ela quase não se reconhecia. Chegou a sentir raiva de si mesma. Sentada na frente do computador, Anahí batucava os dedos no teclado com violência, passando os olhos, faminta, pelas páginas na Internet. Trabalhar como louca era uma forma se de punir por não conseguir colocar a própria vida nos eixos. A verdade é que ela estava com raiva! Por tantos motivos diferentes que não conseguia sequer colocar os pensamentos no lugar. É claro que Alfonso Herrera era um desses motivos. Ela achava que estava conseguindo evoluir em algum aspecto, tendo somente Laura como guia, mas ele chegou de repente e dissolveu todas as certezas que aos trancos e barrancos ela reuniu naquele último ano.

Poncho mexia com ela, e isso era tão irrefutável, que ela queria afundar-se de vergonha num buraco negro e profundo para sempre. Lembranças adolescentes causavam-lhe formigamentos estranhos, e isso não fazia o menor sentido. Alfonso só havia voltado para estragar tudo, como sempre. Já tinha problemas o suficiente com Laura, embora, é claro, Anahí tivesse percebido que a filha apresentava sinais de melhora em suas oscilações de humor. Estava mais empenhada na escola, a professora Fernanda dissera, e isso tirou uma tonelada das costas de Anahí. Estava falhando como mulher, como ser humano, deixando-se levar daquela maneira pelo luto (e no fundo sabia perfeitamente disso), mas jamais se permitiria falhar como mãe.

Por falar nela, Laura estava dormindo como um anjo. Brincara durante a noite de colorir, junto com Any, e antes das dez horas já estava capotada. Anahí lamentou um pouco: gostava tanto de passar momentos assim com a filha, em que Laura ria e gargalhava, avivadamente. Momentos como este no último ano eram tão raros... Infelizmente, Any teve que deixar a filha dormir, e agora mergulhava-se em trabalho madrugada a dentro. Naquela noite, um aperto estranho no peito a deixou angustiada por algum tempo, mas Anahí acabou esquecendo-se dele ao encarar o mais novo trabalho.

Investigar Manuel Velasco. Um suposto político corrupto que estava esbanjando gastos em campanhas políticas maquiadas – e fora de época – e envolvido em escândalos contra o meio ambiente, além de denúncias graves de que Manuel pode estar ligado à tráfico de drogas e prostituição. O estômago de Any revirava aos pesquisar mais a respeito dele. Conhecia Velasco pessoalmente, ele já havia dado em cima dela em algumas festas, a fim de ganhar uma atenção especial e privilegiada da mídia. É claro que ela nunca lhe deu atenção, mas talvez agora fosse o momento de escutar o que ele tinha a dizer. Provavelmente era um homem perigoso, Anahí concluiu, receosa, ao lembrar-se de que a única protetora de Laura. Mas algo dentro dela gritou de satisfação ao perceber que já estava envolvida com toda história. Lembrou-se, de repente, da paixão com que Poncho falava da H.C e aquilo a fez se recordar do quanto ela própria amava o que fazia. E o quanto havia trocado às mil vidas que podia viver e mudar através de suas palavras e denúncias, por uma vida só, pacata e cheia de medos.

Respirando fundo, Anahí começou a digitar algo no computador. Queria que Laura sentisse orgulho da mãe um dia.

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