Fanfic: Still Into You. | Tema: AyA

Anahí sorriu e encarou as prateleiras, e, com o canto do olho, percebeu que o pai de Laura também sorria envergonhado. Por sorte, Maite era pediatra: em suas conversas com a amiga, ela falara diversas vezes sobre alimentação de crianças e tudo o mais. Sabia que, naquele tamanho, o recomendado é que a criança continue sendo amamentada pela mãe, mas entendia que no dia-a-dia corrido, não se tinha tempo para mais nada. Fez uma nota mental a si mesma: se um dia fosse mãe, amamentaria seu filho o máximo que conseguisse, custe o que custasse. Anahí analisou a marca sugerida pelo pai da criança mais uma vez e pensou ter reconhecido um tipo de leite em pó de transição. Pegou na mão. 

- Eu tenho quase certeza de que é esse. – entregou para ele.

- Olha, muito obrigado! Você salvou nossas vidas! – O homem sorriu abertamente. Anahí apreciou seu sorriso. – Eu sou Lucas Veronelli.

- Anahí Portilla. – deram-se as mãos. – Você tem uma filha linda. Meus parabéns.

- Prazer, Anahí. E obrigado novamente... – o celular dele tocou. - Com licença, desculpe.

Any sorriu. Já havia feito a sua boa ação da noite! Pensou em virar as costas e seguir seu caminho, mas a pequena Laura estava sorrindo e gargalhando para ela. Anahí sentiu uma enorme vontade de brincar com a criança, tomá-la nos braços, fazê-la gargalhar mais. Encantada, permaneceu ali, observando a garotinha bater palmas animadamente. Parecia estar contente pelo pai finalmente ter encontrado o seu jantar!

- Oi, Dulce. – pausa. – Sim, eu acho que é esse leite mesmo. – pausa. – Hm, não, eu tive a ajuda de um anjo para encontrar. Na verdade, eu já estava levando o errado. – Lucas sorriu para Anahí, que sorriu timidamente e voltou brincar com Laura. – Valeu, irmã. Laura está bem agasalhada, não se preocupe, Dulce! Já estamos indo. Tchau.

Anahí o encarou e achou graça na forma como ele pareceu desesperado para enfatizar a palavra “irmã”. Na verdade, também estava começando a ficar interessada naquele homem. Não sabia bem o porquê... talvez a maneira como ele segurava a filha dos braços, como se a própria vida dependesse daquilo, de protegê-la daquela maneira. Aquilo reconfortou o coração de gelo de Anahí. E, cá para nós, Lucas Veronelli não era qualquer um.

- Era a minha irmã. Tia Dulce está preocupada com a nossa demora, Laurinha. – ele cheirou os cabelos da filha. – Você não pode mesmo falar algo, filha? Que tal agradecer Anahí por tê-la salvado da fome? – Lucas gemeu. – Ela nunca vai falar.

Any achou graça.

- Vai, sim. Espere e verá. Quantos anos ela tem?

- 1 aninho recém completado.

- Ah, ela é muito novinha, ainda! E é muito esperta, também. Reconhece que estamos falando dela. – Any sorriu. – Você e sua esposa devem se sentir muito orgulhosos...

- Eu realmente me sinto muito orgulhoso! E não sou casado. A mãe de Laura, ela... – Lucas franziu o cenho, sem saber como contar que, na verdade, a mãe de Laura não queria saber de sua existência.

- Oh, eu sinto muito. – não deixou que ele continuasse.

- Não sinta. É mais complicado do que você imagina, acredite... – um pequeno silencio reinou entre eles.

- Bom, então eu vou indo... – Any esboçou um sorriso sincero. Sem que pudesse se dar conta, aproximou-se da bebê e Laura segurou-lhe o dedo indicador com força e ternura. A pequena gargalhou. O coração de Any, em resposta, bateu em solavancos. Sentiu-se feliz com aquele gesto da pequenina. Lucas observava a cena com certo encantamento no olhar. – Foi um prazer te ajudar, Laurinha. 

E então, sem que ninguém esperasse, Laura balbuciou:

- Auinha... – e gargalhou novamente.

Lucas arregalou os olhos. Anahí ficara boquiaberta.

- Ela sempre diz isso? – Any perguntou, quando Laura soltou seu dedo.

- Não. É a primeira vez. – ele respondeu. – Eu acho que ela quis dizer... “Laurinha”. – orgulhoso, Lucas depositou um beijo no rosto da filha. – E eu que jurava que a sua primeira palavra ia ser “papai”! – ainda sorrindo, Laura escondeu-se no pescoço do pai, encabulada. – Anahí, você conseguiu essa façanha! Estou muito tempo tentando fazê-la formar algo mais concreto que “dádádá”.

- Não... eu acho que não! – não conseguiu conter o sorriso. – Vocês devem chamá-la muito de “Laurinha” em casa, então a voz de uma estranha dizendo pode tê-la despertado. – Anahí fez uma nota mental para que perguntasse sobre isso para Maite, mais tarde.

- Mas de qualquer forma, você foi o incentivo.  – Lucas olhou-a intensamente. Anahí sentiu as bochechas queimarem mais. – Toma, aqui está meu cartão. – Anahí olhou-o, curiosa, mas no fundo gostou muito daquele gesto. Laura puxou os óculos do pai, que pacientemente os recolocou. – Estou te devendo muitas coisas agora. Pode cobrá-las quando quiser... Será um prazer.

Após uns segundos de hesitação, Anahí pegou o cartão. Há quanto tempo não saia com alguém? Aquilo era definitivamente uma cantada! Podia enxergar nos olhos dele, e, sem hipocrisia, aquele homem despertara uma afeição e certo desejo dentro dela. E, além do mais, o bebê tinha encantado-a. Se ele não era casado, qual era realmente o problema?

- Pode deixar. – ela sorriu sem pudor, olhando para o relógio de pulso. – Oh, Deus, estou atrasada!

- Estou atrasando você para um encontro ou algo assim?

- Não! – fez questão de responder. – É só que vim comprar algo para jantar com a minha melhor amiga em casa.

- E você está de carro?

- Não, vim a pé...

- Então é um ótimo momento para eu devolver um favor. Vamos comprar sua comida e eu e Laurinha te levamos para casa. – ele olhou para a filha. – O que acha, filha? – a menina sorriu.

- Não! Por favor, eu não quero incomodar!

- Não será incômodo algum. Está um frio horripilante lá fora. Andando, você nem vai chegar lá: vai congelar no meio da rua.

Any ponderou. O que perderia? É claro que ele ainda podia ser um psicopata, mas não acreditava que fosse. Seu coração dizia que não era. Na verdade, algo dentro de si já crescia por Lucas: uma admiração enorme, uma afeição pelo pai que ele aparentava ser, pelo homem lindo e inteligente que era (no cartão de visitas, dizia Lucas Veronelli: arquiteto). Resolveu arriscar. Há quanto tempo não arriscava?

- Ok. Eu aceito.

Lucas sorriu, ajeitando Laura no colo. Os três começaram a andar em direção a sessão de sopas. Any achou graça: quem os visse daquela maneira, poderia jurar que eram uma família, pois os olhos de Laura tinham quase a mesma tonalidade dos olhos dela. O resto dos traços da menina eram idênticos aos do pai, embora os olhos de Lucas estivessem mais para castanho em brasas do que para verde. Sentia-se leve entre aqueles dois... O saldo do dia não tinha sido nada mal, afinal de contas. Rindo de algum comentário engraçado que Lucas havia feito, Anahí descobriu que Maite poderia esperar um pouquinho.