Fanfic: O início de tudo... | Tema: William Bonner Fátima Bernardes

Sábado, março de 1989. Deitado no sofá, William assiste a um telejornal comendo uma lasanha. Pela televisão, ele a vê e imediatamente pensa: “- Putz... que moça linda!”.

***

                Terça-feira, maio de 1989. Festa de confraternização da empresa, muitos e muitos jornalistas renomados circulando pelo salão. Era a primeira vez que William pisava em uma festa da empresa após se tornar âncora de um telejornal com visibilidade nacional. Havia recebido a notícia da substituição há dois dias antes e ainda estava um pouco atordoado com todo esse turbilhão. A mudança definitiva para o Rio de Janeiro, havia passado o dia anterior todo olhando flats para morar e não sabia exatamente como seria a vida a partir de agora. Novas amizades, um novo desafio profissional, novos lugares para frequentar, mas ele sentia que estava preparado e não se permitiu sentir medo. Mas uma visão interrompeu seus devaneios... Era ela! Fátima entrou no salão deslumbrante, um vestido amarelo de renda com um decote nas costas, o cabelo preso em um coque frouxo e um batom vermelho sangue. William ficou hipnotizado. Ele já havia visto-a pessoalmente algumas poucas vezes, na redação falando ao telefone ou entrando correndo para entregar seu material, sempre estivera linda, mas naquele momento ele sentiu que algo tinha mudado. De longe, ele a observava. Ela conversava, sorria e gesticulava muito cumprimentando os colegas. Ela tinha um magnetismo muito forte sobre ele, que ele próprio não entendia. Mal podia acreditar que aquela mulher seria sua colega de trabalho a partir de agora. Como seria conviver com ela diariamente? Os dois se dariam bem, seriam amigos? Como disfarçar essa atração que ele sentia por ela? William seguiu Fátima com os olhos e a viu sentar em uma mesa, que tinha várias cadeiras ainda vazias. Foi aí que ele teve a ideia de tentar uma aproximação. Não estava de todo errado, afinal de contas, teriam que se conhecer em algum momento. Fátima ainda não sabia que será William que ocupará a bancada ao lado dela.

                William respirou fundo e caminhou até a mesa dela. Ele também era um rapaz muito atraente, apesar de não se considerar assim. Percebia algumas investidas de colegas de trabalho, notava que as mulheres tinham um interesse diferente por ele quando interagiam com ele, mas fingia que não notava. Ele era muito brincalhão, apesar de ser tímido quando se tratava de relacionamentos. Mas nunca, em nenhuma circunstância, havia se envolvido com uma colega de trabalho. Não tinha nada contra, mas nunca se sentiu atraído por ninguém do seu ciclo de relações profissionais. Preferia manter uma relação harmoniosa com todos, para que nada pessoal atrapalhasse sua carreira. No íntimo, William sabia que dessa vez havia algo diferente. Mas preferia não pensar nisso. Não agora.

                Suavemente, William tocou o ombro dela, que estava sentada de costas pra ele. Ela interrompeu o que estava falando e olhou pra trás.

                - Com licença... Atrapalho? – disse William, abrindo um sorriso discreto em seguida.

Fátima se levantou e se voltou pra ele.

                - Olá! Claro que não! Muito prazer, sou a Fátima. – e sorriu pra ele, o que fez com que ele se desmanchasse por dentro.

                - Prazer! Sou o William, a gente já se viu algumas vezes, mas nunca fomos apresentados.

                - É verdade! Senta aqui com a gente, fica a vontade!

E ele cuidadosamente, puxou a cadeira e se sentou ao lado dela. Foi uma sensação estranha, aquele magnetismo cada vez mais forte. Ele conseguia sentir o cheiro dela. Era delicioso, bem suave e cítrico. Observava discretamente cada detalhe do rosto e do corpo dela. Tinha alguns fiapos do cabelo soltos do coque, caindo por cima de sua orelha. Eram levemente ondulados e negros, como seus olhos. Ela era linda em cada detalhe. O vestido era justo e privilegiava suas curvas. William não pôde deixar de reparar nas coxas torneadas que ela tinha. Por um momento teve que dispersar seu pensamento, antes que ela percebesse o quanto ele a analisava. Mas de repente ele viu. Ela era dourada, abaulada e fina. Brilhava mais que o normal aos olhos dele. Estava no dedo anelar da mão esquerda. William quase não conseguia acreditar. Ela era casada. Um misto de decepção e raiva tomou seus pensamentos, mas ele conteve. Poderia ser apenas um anel. Ou será que não? Onde estaria o marido dela agora, que não estava ao lado da esposa em uma festa corporativa? Que espécie de idiota ele era pra deixar uma mulher daquela sozinha? William disfarçou seu olhar para a aliança e sorriu quando os olhares dos dois se cruzaram. Decidiu não mencionar absolutamente nada, nem fazer rodeios para tentar descobrir. Deixaria que ela contasse, caso ela quisesse. Mas no  fundo torcia pra que ela não dissesse nada, não assim, não naquela noite.

                Inicialmente, Fátima tentou introduzi-lo no assunto que ela conversava com os outros integrantes da mesa. Mas com o passar do tempo, sem que percebessem, já estavam conversando um com o outro apenas e, pouco a pouco, as pessoas iam se levantando sem que eles notassem. Conversavam sobre diversos assuntos, se divertiam muito um com o outro, a sensação que tinham era que se conheciam há séculos. William teve o cuidado de não comentar nada a respeito da entrada dele para a equipe do JG, não quis atropelar os chefes, que provavelmente contariam a ela em breve. Ele contou coisas de sua vida em São Paulo, que morava sozinho e em todos os domingos vinha para o Rio a trabalho. Soube que ela havia crescido no subúrbio, foi bailarina e se formou na UFRJ. Ela era encantadora. William sentia uma frio na barriga cada vez que ela tocava no braço dele antes de soltar uma gargalhada. Os olhos dele brilhavam ao olhar pro sorriso dela. A cada minuto da conversa deles, ele sentia que ela era a mulher mais incrível do mundo. Nunca sentira aquilo por ninguém antes e, muito provavelmente, não sentiria depois porque ele queria estar perto dela pra sempre.  Reprimiu seus pensamentos no mesmo instante, pensaria nisso depois. Por dentro, agradecia ela não ter mencionado o marido. Não queria estragar aquela noite ao lado dela, ouvindo suas histórias e olhando pro seu sorriso. Naquele momento, isso o fazia completo.

                Madrugada adentro, as pessoas já estavam levemente bêbadas, dançavam, cantavam e se divertiam muito. A pista de dança já estava lotada, as luzes na penumbra e William e Fátima permaneciam sentados exatamente na mesma posição conversando há horas. Já estavam tendo que gritar pra ouvir um ao outro, devido ao volume da música no salão. Foi quando ela tomou a iniciativa.

                - Você gosta de dançar? – perguntou Fátima com os olhos faiscando de vontade de se jogar na pista de dança.

                - Ah... Eu danço muito mal, daquele tipo que pisa e estraçalha seu pé! – e soltou uma gargalhada.

                - Não, mas não tem problema, eu te ensino! Vem! – ela puxou William em direção a pista de dança.

Juntos, eles dançavam de maneira discreta, mas muito divertida. William, todo sem jeito, tentava seguir o ritmo da música, mas sem muito sucesso. E Fátima se remexia em sincronia com a melodia, o que deixava William ainda mais encantado. Enquanto dançava, ela girava e se virava de costas pra ele, o que permitia a ele olhar pro corpo dela respeitosamente sem que ela e as outras pessoas percebessem. Era escultural e aquele vestido decotado a deixava ainda mais sensual sem perder a elegância. William começou a desejar muito que ela fosse sua. Mas, mais uma vez, reprimiu seus pensamentos e voltou a focar na dança.

A festa acabou. Fátima                 e William ainda conversavam alegremente, agora em pés ao lado da pista de dança.

- Acho que tá na hora, né? – diz Fátima sorrindo.

- É... Já são 4 da manhã, putz! – William coloca a mão na testa, perplexo em como as horas voaram naquela noite. – Você quer carona?

- Nâo, obrigada! Eu estou de carro...

- Mas você vai sozinha a essa hora?

- Não, tem uma amiga de carona comigo, inclusive nem sei cadê ela! – ela corre o olho por todo o salão. - Ah, tá ali, achei!

- Hum... Então tá certo! Acompanho vocês até o carro então, vamos?

Fátima acena chamando a amiga e saem os três do salão, despedindo dos poucos colegas que ainda restaram. William vai até o carro de Fátima e eles vão relembrando o quanto tinha sido boa a festa. Chegando até o carro, Fátima destrava e para ao lado da porta do motorista.

                - Bom... Então uma boa noite pra você, muito obrigada por ter vindo até aqui comigo. Foi um prazer conhecer você!

                - Imagina, não foi nada! O prazer foi todo meu, bom descanso pra você e vá com cuidado, heim?

                - Pode deixar! Até mais! – ela se despede dando um beijo formal no rosto dele, o que faz com uma descarga elétrica percorra todo o corpo de William.

                - Até!

E sozinho, ele caminha até o próprio carro, na cabeça um turbilhão de pensamentos girando a todo vapor e ele sem conseguir raciocinar,  dirige pra casa meio confuso. Já em casa, William tira a roupa e se deita. Como ele foi permitir que isso acontecesse? Porque ninguém nunca avisou que ela era casada? – “Mas se eu nunca perguntei a ninguém sobre ela, como as pessoas iriam adivinhar?” Muito cansado, William adormece. E naquela noite, apenas um sonho tomou conta do sono dele.