Fanfic: O início de tudo... | Tema: William Bonner Fátima Bernardes
Madrugada de 29 de março de 1997. O relógio na mesa de cabeceira marcava 2:40 da manhã. O silêncio reinava absoluto. Apenas alguns ruídos distantes das buzinas dos carros na rua interrompiam o vácuo. Através do vidro da janela, uma fina fresta de luz invadia o quarto.
Fátima estava deitada de lado na cama. Ao seu lado esquerdo, um criado-mudo acomodava um despertador e um porta retrato. Havia nele uma foto dela e do marido em uma viagem para Paris. Felizes e sorridentes, se abraçavam frente ao cenário da Torre Eiffel. Imóvel, ela fechou os olhos tentando se concentrar nas lembranças da viagem e espantar aquele pensamento que a perturbava, repleto de tensão e ansiedade. Respirou fundo. Cuidadosamente, girou o pescoço até que conseguisse visualizá-lo nas suas costas. William estava deitado de barriga pra cima, com o braço esquerdo levantado apoiando a cabeça. Estava com os olhos abertos, pensativo, assim como ela. Fátima questionou-o, curiosa:
- Não dormiu ainda? O que está pensando?
William girou o rosto em direção a ela e passou os dedos levemente por suas costas.
- Na mesma coisa que você. – disse ele, em um tom carinhoso, porém, tenso.
Fátima girou o corpo todo, se virando para ele. Levemente, jogou a própria perna em cima da perna de William, acariciando-lhe os pelos das canelas com o pé. Ficaram se olhando por alguns segundos.
- Já parou para pensar que amanhã nossa vida pode mudar? Mudar MUITO? Dar uma guinada, assim, de 360 graus? – ela diz, baixinho.
William esfrega os olhos e respira fundo.
- Sim. Nunca mais seremos os mesmos. – ela concorda com a cabeça, em silêncio. – Será que estamos acompanhados? – ele olha para a barriga de Fátima, que sorri e desvia o olhar para o mesmo local. Ela passa a mão por toda a extensão de sua barriga, por cima do pijama estampado.
- Será? – ela sussurra.
William gira, ficando frente a frente com Fátima. Deita-se no travesseiro dela e a envolve com os braços e pernas, ficando aninhado nela. Ela se reclina pra cima dele e o abraça também. Permanecem ali, na mesma posição por alguns minutos, até adormecerem.
***
O sábado amanhece ensolarado. No dia seguinte, seria domingo de Páscoa. William acordou ainda um pouco aflito, mas procurou disfarçar e parecer calmo. Fátima, por sua vez, amanheceu animada e otimista, mas se esforçou para não pensar muito naquilo. Tinha que trabalhar logo após o almoço, deixaria o marido em casa e tentaria ao máximo se desvencilhar de suas preocupações pessoais. Tomou banho e caminhou enrolada na toalha até o closet para se vestir. Nua em frente ao espelho, olhou para si mesma. Os cabelos curtos na altura da nuca, estavam molhados e penteados para trás. Fátima passou a mão no rosto, deslizando até o pescoço. O tempo correu a seu favor. Aos 35 anos, era uma mulher linda e ainda muito jovem. Lembrou-se de quando conheceu William, há oito anos atrás. Sentia-se muito mais madura e experiente, uma outra mulher. Sentia-se mais bonita também. Mas a leveza, a doçura e a garra permaneciam exatamente iguais. Garra essa que não deixaria que ela se abatesse, caso seus planos não dessem certo. Mais uma vez.
Acariciou a barriga. A vontade latente de ser mãe a invadiu fortemente há três anos atrás. Nunca conseguiu se imaginar no futuro sem filhos com William. Era como se a única coisa que faltasse em sua vida era isso. Tinha um marido incrível e estavam apaixonados mais do que nunca. Profissionalmente, galgava cada degrau com muita competência e ética. Ao lado de William, conquistou pouco a pouco a estabilidade financeira, que os permitiam uma vida confortável. O resultado do Beta HCG sairia naquela tarde. Depois de um longo histórico de tentativas fracassadas de engravidar, se submeteram a um processo de fertilização e, pela segunda vez, aguardavam um resultado positivo. Apesar do otimismo que sempre carregavam em si mesmos, era difícil lidar com a dor da dúvida e da espera. Mas olhando para a própria barriga naquela manhã, Fátima fechou os olhos e agradeceu. Agradeceu por estar tendo a chance de ao menos tentar e rezou para que acontecesse o que fosse melhor para ela e para William. Ligeiramente emocionada, abriu os olhos e respirou fundo. O grito da cozinheira anunciando que o almoço estava pronto a arrancou de seus devaneios. Vestiu uma calça preta de alfaiataria e uma blusa de linho amarela. Calçou sapatos de saltos baixos, penteou os cabelos pra trás e desceu. Encontrou William de bermudas e uma camiseta branca larga e surrada. Ele estava na sala trocando os canais da TV aleatoriamente. Desceram e almoçaram juntos.
O almoço foi um pouco mais silencioso do que o convencional. Com medo de se atrasar, Fátima comeu rapidamente, deu um beijo no marido e correu para a redação. Seria aquele típico dia em que as horas não passam. Agoniado, William procurou com o que se ocupar naquela tarde, mas foi em vão. Aguardava a ligação do médico por volta de 17 horas. Tentou dormir, procurou um filme que o agradasse, insistiu em uma leitura interessante, mas nada do que fazia dispersava sua ansiedade. Não aguardava apenas por um resultado positivo de uma gravidez. Aguardava pela realização de um sonho. Construir uma família com a mulher que amava era um plano que ele acalentava há anos e com o passar do tempo, a vontade aumentava e se tornava ainda mais desesperadora a hipótese de que talvez não fosse possível. Ele tentava com todas as suas forças não depositar toda essa expectativa em Fátima, sabia que para ela era ainda mais frustrante do que para ele. Amava a esposa com todo o seu coração, era cruel vê-la sofrendo silenciosamente com a dúvida de uma possível incapacidade de gerar filhos. Mas admirava a força que ela tinha de absorver pontos positivos até de uma situação difícil como essa. Mantiveram um certo segredo, até para a família. Não queriam enfrentar a desgastante missão de prestar satisfações a todos, caso as tentativas fossem frustradas. Mas naquela tarde, William sentiu vontade de ter para quem ligar para desabafar e fazer com que o tempo passasse mais rápido.
No caminho para o trabalho, Fátima dirigiu chorando. Não conseguia discernir exatamente o motivo, mas deixou que as lágrimas escorressem. Era como um desabafo, uma válvula de escape. No carro, tocava Candle in the Wind, do Elton John. Parada no estacionamento da redação, enxugou as lágrimas, esfregou os olhos para tentar disfarçar o inchaço e seguiu em frente. Concentrada no trabalho, conseguir tornar o passar do tempo menos penoso. Vez ou outra, olhava no relógio. Em qualquer momento livre, ligava rapidamente para William, sem nenhuma novidade.
Por volta de 17:30, o telefone do apartamento triplex do casal toca. William está na cozinha devorando uma barra inteira de chocolates quando ouve a chamada. Corre alucinadamente em direção ao telefone, se debruçando na mesa e arrancando o telefone do gancho de supetão.
- Alô? – Atende um pouco ofegante.
- Alô, William? – ele reconhece a voz do médico e imediatamente, seu coração dispara e ele é tomado por uma sutil tremedeira.
- Oi, doutor, sou eu, pode falar!
- Eu estou aqui no laboratório, acabei de abrir o exame... – William fecha os olhos e prende a respiração, se preparando para a resposta. – Tenho duas notícias para você, uma boa e uma ruim, qual você quer ouvir primeiro?
- A ruim. – William imagina imediatamente que o médico diria que o resultado deu negativo, mas que em três meses poderiam tentar novamente.
- Você se lembra quando me disse que quando a Fátima engravidasse, você teria que mandar colocar uma grade na escada do apartamento de vocês? – William se anima e sente o coração saltitando dentro de seu peito.
- Sim, me lembro.
- Então, a má notícia é que você vai ter que colocar a grade...
William coloca as mãos tampando o rosto. Mal consegue segurar o telefone, tremendo.
- Eu não acredito, doutor...
- Deu certo! Ela está grávida. Parabéns, papai! Ao longo da semana, minha secretária liga pra vocês para agendar a primeira ultra, eu não estou com a minha agenda aqui... Certo?
- Certo, obrigado doutor!
Deitado no sofá, as lágrimas desciam frenéticas pelo rosto de William. Ele desliga o telefone soluçando. Estava sozinho em casa, então nem precisou chorar silenciosamente. Enterrou o rosto nas mãos, transbordando de emoção. Não conseguia acreditar que aquilo era verdade! Poucas vezes na vida sentiu uma sensação parecida, uma delas foi quando viu Fátima parada na porta de seu flat, anos atrás, noticiando que havia se separado do ex marido e estava livre pra ficar com ele. Pensava um milhão de coisas ao mesmo tempo, não conseguia se concentrar em nada e tentava raciocinar em como daria a notícia a ela. Fátima só chegaria em casa por volta de dez da noite, não era justo deixá-la na expectativa tantas horas. Tomou um copo de água na cozinha para tentar se acalmar. Olhou para a sala daquele apartamento imenso. Em breve, teria uma criança correndo por toda a casa. Como será o filho? Será parecido com ele ou com ela? Será uma menina ou um menino? Como será seu temperamento, será uma criança feliz? Era mágico sonhar com cada detalhe dessa nova vida que estava a caminho, fruto do amor dele e de Fátima. Será a criança mais amada do mundo.
William discou lentamente os números do celular de Fátima. Ainda tremendo, tentou permanecer calmo e estabilizado. Mas no fundo, estava gritando de alegria.
Fátima, quando viu o telefone tocando, se desvencilhou da pilha de papéis que prendiam sua atenção. Sentiu o coração disparar, sabia que aquela ligação representava alguma notícia. Fechou os olhos e atendeu, muito tensa:
- Alô, amor? – William, ao ouvir a voz dela, sentiu-se inundado por lágrimas, mesmo com todas as tentativas contrárias.
- Oi, meu bem... Tá ocupada? – Ele sentiu sua voz vacilar.
- Não, pode falar! Ai... O que foi?
- O médico ligou aqui... - Fátima estremeceu.
- E aí? O que ele disse? Ai, William... – ele a interrompeu de rompante.
- Amor... deu certo! Nós conseguimos! – Ele desistiu de engolir o choro.
- O QUE? Eu to grávida? – Fátima se recostou na parede e debulhou em lágrimas.
- Sim... Amor, nosso filho... Eu tô tão feliz, eu tô anestesiado, eu... eu te amo tanto...
Os dois choravam, um em cada lado do telefone, emocionados, felizes, surpresos e extasiados.
Depois de tanto tempo, era difícil acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Nunca deixaram de acreditar que, em algum momento, conseguiriam ter um filho, mas era uma sensação maravilhosa saber que agora era realidade. Fátima deslizou as mãos pela barriga, como se quisesse sentir a presença daquela criança que mal existia, mas ela já amava tanto... Era o dia mais feliz de sua vida!
***
Em ritmo acelerado, Fátima desceu do carro. Com a bolsa pendurada na mão esquerda, aguardou o elevador ansiosa. Subiu até o apartamento e ao destrancar a porta, ficou surpresa com o que viu. A casa estava toda na penumbra. Algumas velas acesas sustentadas por candelabros iluminavam o caminho até a escada. Fátima ouviu uma música de longe. Conseguiu reconhecer que era Always, do Bon Jovi, a música do primeiro beijo deles. Sorriu, mordendo na boca, comovida com as lembranças. Fazia tantos anos, mas parecia que tinha sido ontem. Olhou para o chão e se emocionou profundamente. Sapatinhos de bebê salpicados a guiavam até onde, provavelmente, William estava, aguardando-a. - “Não acredito que ele ainda saiu para comprar sapatinhos depois que me ligou!”, pensou. Seguiu, recolhendo os pequenos calçados, todos muito delicados e unissex. Serviriam para o bebê, independente de qual sexo ele tivesse. As lágrimas brotaram nos olhos dela e ela persistiu subindo a escadaria do apartamento, “seguindo as pistas”. Ao chegar no mezanino do andar superior, viu que haviam sapatinhos na escada caracol, que subia para o terraço do apartamento. Jogou a bolsa no sofá e continuou subindo com as mãos desocupadas. Se arrepiou com a cena que viu.
O terraço era de um tamanho mediano, tinha uma piscina no canto esquerdo, perto do parapeito de vidro. De dentro dela, era possível avistar uma grande parcela da Barra da Tijuca. A vista era linda. No lado direito, uma área gourmet, com churrasqueira e um balcão de mármore Travertino, muito bonita e moderna. Toda a extensão da cobertura possuía velas, que criavam uma atmosfera romântica e afrodisíaca. William estava sentado em um dos banquinhos do balcão. Lindo como sempre, segurava uma taça de vinho na mão, olhava sorrindo para ela e mordendo na boca. Fátima parou na porta de acesso ao terraço, boquiaberta. Olhou ao redor, viu que no lugar de um sapatinho, o último indicador de qual a direção ela deveria seguir era uma caixa vermelha toda estampada. Agachou e abriu a caixa. Era uma blusa branca, muito feminina, escrito de verde água na altura do peito: “Para a mamãe mais linda do mundo!”. Os olhos de Fátima ficaram marejados, até que uma lágrima escorreu rosto abaixo, ela correu e se pendurou ao redor do pescoço de William, que correspondeu ao abraço.
- Que surpresa linda, eu amo tanto você! Hoje é o dia mais feliz da minha vida! – Ela sorriu pra ele, com os olhos brilhando.
- Da minha também. Obrigado por esse presente que você está me dando, todos os melhores momentos da minha vida estão associados a você! Eu te amo, meu bem, te amo muito!
Se beijaram ardentemente. William abandonou a taça de vinho em cima do balcão, esquecendo-se completamente dela. Aos beijos com Fátima, ele deslizou as mãos em suas costas, suspendendo sua blusa amarela. Beijou-lhe o pescoço, fazendo com que ela se arrepiasse. Levantou seus braços e puxou a blusa por cima, deixando-a de sutiã. Acariciou as costas dela, descendo até a altura do cós da calça. Trespassou a mão até a barriga de Fátima, desabotoando sua calça e deixando que ela caísse sozinha até os pés dela. Se deliciou com a visão da esposa só de lingerie. Ela ficava mais linda a cada dia e ano que se passava. William se sentia muito mais atraído pelo corpo dela do que da primeira vez. Conquistaram ao longo dos anos uma liberdade e uma intimidade no sexo que os permitiam inovar sempre, para que nunca caíssem numa rotina, como de fato nunca caíram. Cada vez que faziam amor, era como se fosse a primeira e a última. Completamente entregues, se jogaram no sofá da área de lazer. William arrancou a própria camiseta. Simultaneamente, Fátima deitada no meio das pernas dele, desabotoava a calça jeans que ele usava, firmando os dedos no cós, descendo-a até os joelhos de William e deixando-o de cueca. Admirou a cueca que ele usava. Ela mesma tinha presenteado-o no dia dos namorados passado com essa cueca preta. Era linda, bem justa e demarcava as curvas do bumbum e das coxas de William. Fátima mordeu na boca levemente, sorrindo de lado e provocando o marido. Ele se reclinou pra cima dela, abriu os fechos de seu sutiã e lambou seus seios. Desceu até a barriga dela e beijou em diversos pontos, carinhosamente. Com os dois dedos polegares, puxou a calcinha de Fátima, jogando-a para longe. Fizeram amor como nunca antes, sentindo o gosto de uma responsabilidade que jamais mensuraram. Sabiam que, a partir de agora, iniciavam uma caminhada muito distinta daquela antiga vida, de um casal livre e despretensioso como eram. Mas era deliciosa a sensação de seus últimos nove meses sozinhos naquele apartamento imenso, podendo desfrutar apenas da companhia um do outro e, em breve, do único filho dos dois, tão desejado e já tão querido. Mas, o que não sabiam, era que ainda viriam muitas surpresas pela frente.
Autor(a): bonemerlove
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 7
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vfsv Postado em 18/08/2014 - 00:38:13
Vai escrever mais ou agora foi o fim???? Já pensou em escrever uma fic dos tempos atuais, presente, com as idades e ocupações atuais de cada um? ;)
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vfsv Postado em 09/08/2014 - 23:37:20
Mais capitulos , please!
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vfsv Postado em 05/08/2014 - 18:37:20
Perfeitoooooo
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vfsv Postado em 04/08/2014 - 00:26:37
Muito perfeita essa fic! Que talento, menina! Devia escrever um livro. Continua por favor!!!!!!!!!!!!!!!
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neucj Postado em 03/08/2014 - 22:54:06
Quero o próximo cap logo,ta muito boa.
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vanessatocha Postado em 20/07/2014 - 22:14:05
Amando a fic. vc escreve tão bem... Aguardando os próximos capítulos!
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mibonner Postado em 16/07/2014 - 16:19:35
Parabéns sua fic é ótima.Anciosa para ler os próximos capítulos .