Fanfics Brasil - Anexo 1 - Parte 3 FINAL - A gravidez O início de tudo...

Fanfic: O início de tudo... | Tema: William Bonner Fátima Bernardes


Capítulo: Anexo 1 - Parte 3 FINAL - A gravidez

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              Os meses seguintes  foram os mais felizes e ansiosos da vida do casal. A família toda já sabia, estavam empenhados montando enxovais, acumulando fraldas e presentes para os pimpolhos. A mãe de Fátima se impôs uma rotina de bordar babadores e toalhinhas iguais para os três, só alternando as cores. Estava radiante pois seria vovó pela primeira vez e em dose tripla. Os sobrinhos de William faziam desenhos e pinturas para presentear para os priminhos. A cada semana, chegava um carregamento de presentes diretamente da França, enviados pela  irmã de Fátima. Todos estavam felizes e envolvidos com a gravidez. Diariamente na redação, chegavam caixas de lembrancinhas enviadas por fãs do casal. Sapatinhos, artigos religiosos e roupinhas eram os mais comuns. O casal reservou um quarto do apartamento para descarregarem todo arsenal de presentes. Quando estava mais bem disposta, Fátima desencaixotava e guardava tudo no quartinho dos bebês. Tudo estava sendo preparado com muito carinho e cuidado.


Por volta de dezoito semanas e meia, descobriram finalmente o sexo do trio. O primeiro que descobriram na ultrassom foi o do garotinho.


                - Esse aqui é um menino! 100% de certeza! Eles estão posicionados em um triângulo invertido, ele está embaixo, muito provavelmente será o primeiro a nascer. Agora os outros dois está mais difícil de visualizar, mas vamos persistir tentando. Mas eles são bem menores que o menino, pela estatura parecem ser duas meninas. Mas ainda vamos confirmar...


E confirmaram, dias depois. William e Fátima sorriram emocionados. Duas meninas e um menino. A escolha dos nomes foi uma tarefa longa e confusa. Fizeram listas e listas de nomes, riscavam eliminando algum nome no qual um dos dois não estivesse plenamente satisfeito. Sinalizavam com um coração os nomes preferidos e argumentavam um com o outro a favor deles. Acabavam se divertindo mais do que definindo qualquer coisa. Por volta de vinte e duas semanas, em meio a escolha dos nomes, um susto: O saco gestacional de uma das meninas estava atrofiado. O risco do aborto de um dos fetos e a cirurgia em caráter de urgência para retirada dele era eminente. Fátima e William ficaram desesperados. As pessoas, numa tentativa de consolá-los, diziam que mesmo que perdessem um, ainda restaria um casal de bebês. Mas nada disso consolava, queriam os três de qualquer maneira. Na consulta, o médico estabeleceu um prazo máximo para que o feto deslanchasse, caso contrário, teria que tomar uma atitude para que ele não prejudicasse os outros dois e não havia nada que Fátima pudesse fazer para ajudar. Era como se tivessem retirado-lhes o chão. A notícia foi um baque imenso para os dois. No caminho de volta pra casa, voltaram em silêncio. Fátima sentada no banco do passageiro, permanecia imóvel, olhando para a rua através do vidro. As lágrimas discretas escorriam rosto abaixo até pingarem do queixo dela. Com o som do carro desligado, William usava os óculos escuros para disfarçar o desconsolo. Não trocaram uma frase sequer, nem precisavam. Ao se olharem, compartilharam exatamente do mesmo sentimento de desespero. O amor que sentiam pelas três crianças já era incondicional. Senti-los se mexendo na barriga de Fátima proporcionou a eles a melhor sensação do mundo. Não suportavam a idéia de se deslocarem até a clínica dentro de uma semana para retirar um dos bebês morto. Era como a dor de uma mãe que apenas aguarda impotente, enquanto um filho luta pela vida.  Ela não quis olhar para William. Sabia que desabaria quando visse o olhar desolado dele. Entrou em casa e foi direto para o banheiro. Deixou a porta encostada apenas e entrou no chuveiro. Deixou que a água quente escorresse pelo corpo nu. Um nó subiu-lhe pela garganta. Tentou engolir, mas foi inútil. Desabou a chorar, de olhos fechados por baixo da ducha. Aos prantos, acariciou a barriga. Conversou baixinho com a filha, que ainda não tinha nome, mas já tinha um lugar devidamente ocupado no coração de Fátima, antes mesmo que ela visse seu rostinho.


                - Não faz isso com a mamãe, filha. A gente precisa tanto de você, por favor... – um soluço a obrigou interromper o pedido.


Deitado na cama da suíte, William olhava para o teto. Ouviu que Fátima  chorando no banheiro e isso o estraçalhava por dentro. Era uma sensação de muita impotência.  Mas refletia muito, caso o pior acontecesse, teriam que ter forças para seguir em frente sem depositar nenhuma carga de trauma sobre os outros dois filhos. Mas no fundo, tinha fé de que sairiam daquela maternidade com três pacotinhos lindos e saudáveis.


                Fátima saiu do chuveiro destruída por dentro. Se enxugou e nem se preocupou com o rosto inchado. Havia se esquecido o que era chorar de tristeza. Há cinco meses só tinha motivos  para chorar de alegria. Atravessou até o closet. Vestiu apenas uma calcinha e voltou para o quarto. Deitou-se ao lado dele na cama, seminua, com os seios de fora. Já estavam um pouco inchados em decorrência da retenção de líquido, mas não tinham ainda nenhum resquício de leite. A barriga já estava enorme, pontuda e arredondada. Era uma grávida linda, muito saudável e em forma. Puxou o edredom e cobriu o corpo todo, inclusive a cabeça. Sentiu a mão de William tocar a mão dela. Soluçou baixinho, com o som do seu choro abafado pelo pano. William a abraçou, acariciando-lhe os seios. Cochichou no ouvido dela, tentando buscar uma força que ele nem possuía:


                - Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo.


Ele se curvou para baixo, por debaixo do edredom, alcançando a barriga dela. Deslizou as mãos ao redor do umbigo de Fátima, passando pelas duas laterais. Beijou a barriga veementemente e com os olhos fechados, chorou em silêncio para ela não perceber. Dormiram os dois, nas mesmas posições, arrasados e apreensivos, mas muito unidos, como estiveram desde então e sempre estariam.


 


 


***


 


                Chegou o dia. Fátima não pregou o olho a noite toda e William muito menos. A semana tinha sido um fardo enorme para os dois. Ela passou a noite toda alisando a própria barriga, angustiada. Por volta de oito da manhã, se locomoveram até a clínica. Detalhes sobre o procedimento só saberiam na hora, após uma bateria de exames. Dependeria de vários fatores. Na pior das hipóteses, se o feto realmente não tivesse atingido a cota estipulada de crescimento naquele determinado período de tempo, teriam que antecipar o parto. Fátima tremia só de pensar em ter seus bebês com menos de sete meses de gestação. Era muito arriscado, ainda eram muito pequeninos e frágeis. Rezou muito no caminho para a clínica para que nada disso fosse necessário e ela prosseguisse com a gravidez de trigêmeos. Era o que mais queria naquele momento.


                Ao chegarem na clínica, foram encaminhados para uma sala de ultrassonografia. Nela já haviam dois profissionais os aguardando. O médico apresentou seu colega ao casal, disse que solicitou a presença dele para que, juntos, analisassem criteriosamente o exame. Ele percebeu claramente que Fátima estava arrasada. Segurou nas mãos dela e, numa tentativa de suavizar a dor que ela com certeza estava sentindo, disse:


                - Tenha fé, eu já tive casos idênticos ao de vocês que deram certo e ficou tudo bem. Vamos torcer! – Fátima sorriu melancolicamente para ele, engolindo o choro.


Deitada na maca, fechou os olhos e não quis olhar para o monitor. William segurou a mão dela muito forte e coçava a cabeça periodicamente. Os dois médicos conversavam e apontavam o dedo para o monitor. Com o exame anterior em mãos, eles faziam comparações. Saíram da sala diversas vezes, o que deixava o casal com os corações aos pulos. Mas na última vez, o médico retornou sozinho, com o semblante tranquilo, que fez Fátima tremer.


                - Tenho uma boa notícia para vocês! Vocês tem uma pequena guerreira a caminho! A bebê reagiu bem, ainda é muito menorzinha que os irmãos, mas agora ela tem condições e espaço para se desenvolver adequadamente em tempo hábil para o fim da gravidez. Claro que o risco sempre existe, mas agora ela já está encaixada em um padrão de normalidade para embriões dessa idade.


Fátima tapou o rosto com as mãos e chorou discretamente, mas dessa vez de alívio e agradecimento. Encostou a cabeça no peito de William e se aninhou a ele, que beijava sua cabeça, muito emocionado. Aproveitaram para ver mais uma vez o trio, as posições que estavam encaixados e ouvirem os coraçõezinhos. Aquela manhã acabou sendo mais uma que entrou para a história dos dias felizes do casal.


 


 


***


 


                Meses se passaram. Faltavam três dias para o parto de Fátima. Ela já estava no ápice de seu sobrepeso e dores nas pernas e nas costas. Evitava descer as escadas do triplex, mobiliou a suíte do casal com uma mesinha de jantar e um frigobar, para que ela nem precisasse descer até a cozinha. A essa altura, já havia se afastado do trabalho para manter-se em repouso. Recebia visitas diárias da mãe, que almoçava com ela e fazia companhia para que ela não se sentisse muito entediada. William saía cedo para o trabalho, mas ligava quase de hora em hora para averiguar como a esposa estava, preocupado com seu bem estar e dos trigêmeos. Vinícius, Laura e Beatriz. Estes eram os nomes deles. Escolheram dias depois do fatídico episódio em que o pesadelo de perder uma das filhas teve fim. Beatriz era o nome que escolheram para ela, devido ao significado de seu nome, “vitoriosa e triunfadora.” O quartinho deles estava totalmente pronto. Era amarelo, com papel de parede de ursinhos. Os berços brancos, muito delicados foram dispostos em diferentes posições do quarto. Do lado direito, um sofá pequeno, que serviria para a mamãe amamentar, quando necessário. Todas as noites, Fátima e William ficavam juntos na cama, conversando sobre diversos assuntos. Eles estavam lendo juntos O que esperar quando se está esperando, um clássico livro para mamães e papais de primeira viagem. Algumas vezes de madrugada, Fátima acordava de repente e percebia a ausência de William na cama. Caminhava pé por pé até o quarto das crianças e o via abrindo as gavetas, olhando e cheirando as roupinhas. Ela ficava emocionada com aquela visão. Mas voltava calada para que ele não percebesse. Deixava-o curtir a gravidez a seu modo, já que ele não podia carregá-los e senti-los dentro dele, como ela podia. Fátima se pegava pensando que eles estavam vivendo a melhor fase do relacionamento deles, até então. William estava mergulhado em uma felicidade que era bonito de se ver, todos os colegas de trabalho comentavam. O único lado ruim era a falta de sexo. A última vez que transaram foi pouco antes de Fátima atingir o 7° mês de gravidez. Quando ele tentou penetrá-la, ela sentiu um grande desconforto e ele parou imediatamente. Nem quiseram tentar novamente, William tinha horror de que alguma coisa que ele fizesse pudesse machucá-la. Mas a vontade era muito forte, principalmente quando se deitavam juntos na cama. Por conta do inchaço, Fátima evitava usar pijamas. Tentou procurar pijamas de gestantes que lhe agradassem, mas todos ficavam um pouco justos na barriga e a deixava encalorada, faziam com que ela dormisse mal. Preferia dormir só de calcinha, era mais cômodo e ela conseguia se remexer melhor na cama. Mas percebia que isso desestabilizava completamente William. Então, passaram a satisfazer os desejos sexuais um do outro de formas alternativas, que eram bem eficazes. Fátima brincava que eram os métodos “quebra-galho”, mas eram deliciosos de qualquer jeito. Quando terminavam de namorar na cama, os dois conversavam com os bebês. William brincava que era pros três ficarem quietinhos agora que a mamãe precisava dormir. Passava a mão, dava beijos, pedia pra eles chutarem para o papai sentir e, quando conseguia, vibrava alegremente. Ajoelhado na cama, ele fazia uma performance de Menino-Passarinho, fazendo uma voz mais grossa e um sotaque,  gesticulando no ritmo da melodia. “Quando estou nos braços teus, sinto o mundo bocejar. Quando estás nos braços meus, sinto a vida descansar. No calor do teu carinho, sou menino-passarinho com vontade de voar...”. Fátima gargalhava, achando lindo. Logo depois, William embaraçou suas pernas nas dela e deitou em seus seios nus, puxando de leve as pontas dos mamilos sensíveis dela, que se arrepiava com cada toque dela.


                - Sabe o que é ser sortudo? – diz ele.


                - Hum? – ela responde, curiosa.


                - É ter quatro mulheres. Uma namorada, uma amante, uma melhor amiga e a mãe dos meus filhos. Todas reunidas em uma mulher só. – levantou a cabeça e olhou sorrindo pra ela, que se desmanchou por dentro e o beijou.


 


***


 


Dia 21 de outubro de 1997. O dia tinha acabado de amanhecer. Na sala, um corre corre indo e vindo da cozinha. A mesa de café abarrotada de pãezinhos, bolos, rosquinhas e jarras de suco. Titias, uma vovó e dois vovôs conversavam todos ao mesmo tempo, agitados e efusivos. No andar de cima a outra vovó, mãe de Fátima, fechava o zíper da malinha da maternidade. Ela olhou ao redor, conferiu se tinha pego tudo que era necessário. Deu uma puxadinha na cortina para deixar o ambiente mais iluminado e saiu do quarto dos bebês. Caminhou até o quarto do casal, que estava com a porta aberta. Fátima estava no espelho do banheiro passando batom nos lábios, enquanto William desligava o ar condicionado e fechava a cortina.


- Vamos? Tá na hora já! – diz dona Eunice.


- Vamos! Pegou tudo, mãe? – responde Fátima.


- Peguei!


Com certa dificuldade, Fátima se locomove até a porta. William vai atrás segurando a bolsa dela com a mão esquerda. Atravessam o corredor até a escada. Ele desce dois degraus na frente da esposa e se vira para trás, para apoiá-la. Todos da sala depois que veem eles se aproximando, se apressam em pegar seus pertences e se encaminharem até a porta. Foram para o hospital em três carros diferentes. O casal foi sozinho no carro de William. Desfrutaram pela última vez da companhia exclusiva um do outro. A partir de então, os filhos tomariam quase a totalidade do tempo deles. Mas estavam felizes por isso. Era o início de uma nova era para os dois. Durante o percurso, foram silenciosos, se falando apenas por toques e olhares. A cada troca de engrenagem do carro, William acariciava a mão da esposa, que retribuía o gesto passando-lhe a mão nas coxas. No carro, tocava Vienna, do Billy Joel. Com uma pitada de nervosismo, Fátima deixou que a música no mais alto volume penetrasse seus pensamentos. “But then if you’re so smart, tell me why are you still so afraid?”.


 


***


 


                William viu o medico atravessar o corredor em direção a sala de espera onde ele estava sentado. Se levantou imediatamente da cadeira e caminhou até ele, ansioso.


                - Desculpa a demora, papai. Eu estava esperando você terminar de preencher a ficha da internação, mas você foi rápido. – deu duas batidinhas nas costas de William. – Pode vir aqui comigo. – e indicou a direção que ele deveria seguir.


No caminho, ele foi explicando a William alguns detalhes sobre o procedimento de anestesia e, posteriormente, o parto propriamente dito. Entraram em uma sala de triagem. William teve a sensação de que era o “camarim” dos médicos e enfermeiros. Vários vestiam a camisola cirúrgica, luvas, máscaras e toucas. Tiraram relógios, guardaram em saquinhos numerados, lavaram as mãos até a altura do punho e vestiram os adereços. Saíram por uma outra porta que dava para um corredor de acesso ao centro cirúrgico, restrito apenas a profissionais e acompanhantes. Ao chegarem no quarto onde seria realizado o parto dos bebês,William viu Fátima deitada em uma maca, coberta com um lençol branco. Estava de touca, com o soro no braço. Na ponta do dedo indicador da mão esquerda, o medidor de pressão arterial estava conectado. Ela estava acordada, então olhou para ele quando entraram na sala. William sentou-se em uma cadeira destinada a ele, ao lado dela. Ela sorriu tranquila para ele, que acariciou sua cabeça por cima da touca.


                - Tá calma? – ele indagou.


                - Mais ou menos e você?


                - Nem um pouco. – riu, mas ela não conseguia ver a boca dele por causa da máscara.


                - Vai dar tudo certo.


                - Lógico que vai! Vai sim. Já deu certo, olha a gente aqui a minutos de conhecermos nossos filhinhos. – passou os dedos pela bochecha dela.


Fátima concordou com a cabeça, emocionada.


                E o parto começa. O técnico faz alguns últimos ajustes nos aparelhos  que mediriam os batimentos cardíacos de Fátima, confere se tudo está funcionando adequadamente. O anestesista entra na sala uniformizado, cumprimenta William e Fátima e se apresenta formalmente. Solicita que ela gire o corpo com cuidado para o lado esquerdo e se encolha, tentando ao máximo abraçar as pernas. Ela obedece enquanto William observa imóvel. Ele aplica a anestesia nas costas dela, por entre as vértebras. Minutos depois, Fátima amolece. Com os olhos entreabertos, ela mexe a cabeça extremamente zonza. É uma visão chocante para William vê-la daquela forma, mas ele já tinha sido avisado de que ela tomaria uma dose cavalar de medicamento anestésico. A tendência era que ela ficasse cada vez menos sóbria, até que provavelmente apagaria por completo. Ele segura a mão dela, entrelaçando os dedos nos dela. As assistentes deslizam um estrutura metálica com rodinhas e uma cortina pendurada com ganchos até a altura dos seios de Fátima, barrando a visão dela e de William do parto. William consegue ver apenas as cabeças da numerosa equipe médica se movimentando. Ouve os médicos solicitando bisturis, pinças e tesouras. Supõe que o parto já se iniciou. Mas acaba tendo certeza que sim quando uma enfermeira empurra um carrinho com panos brancos encharcados de sangue. Ele coça a cabeça, tenso. Olha para Fátima. Ela está desacordada. Não se mexe, está imóvel. Eventualmente, ela dá picos de consciência e abre os olhos, olha ao redor e apaga novamente. Ele encara o monitor e observa os sinais vitais dela, que oscilam, fazendo pequenos “bips”. Ele segura forte na mão de Fátima, apertando-lhe os dedos, com as mãos suadas de nervosismo e levemente trêmulas. Apesar da grande confiança que tinha nos médicos, sentia que sua família estava completamente vulnerável naquele momento. Dispersou seus pensamentos quando viu o médico se aproximando.


                - Papai, vamos começar a tirar os bebês, você quer assistir? – William pulou da cadeira.


                - Quero! – respondeu gaguejando.


Hesitou por um segundo por ter aceitado. Quando soltou a mão de Fátima, ela mexeu a cabeça, balbuciando algo que ele nem entendeu. Acariciou o rosto dela e saiu de fininho. Olhou o aparador ao lado direito. Tinham três cueiros abertos, com o logotipo do hospital estampado, aguardando os bebês. Ao lado deles, três pulseiras numeradas, em todas elas escrito Fátima Gomes Bernardes Bonemer. Ele recostou em uma pilastra e observou, com o estômago embrulhado. Por sorte, não conseguiu ver direito, toda a equipe estava ao redor obstruindo sua visão. Mas via quando os médicos limpavam as luvas cobertas por sangue em toalhas que as assistentes seguravam. Estremeceu quando ouviu de algum membro da equipe: -“É a cabecinha, devagar!”. Passou os dedos pela testa, muito tenso. Sabia que aquele momento era o mais crítico de toda a gravidez. Haviam muitas chances de ocorrerem complicações. Mas seu coração encheu-se de alegria e emoção no minuto seguinte.  Ouviu um chorinho baixo, mas estridente. A enfermeira saiu lá do meio trazendo um bebê nas mãos. Era tão pequenino, pouco maior que os dois palmos da moça. William sentiu seu coração parar. Ele estava todo rajado de sangue, com uma pasta esbranquiçada ao redor de sua cabeça e barriga. Foi colocado na primeira toalha. Ela o limpou, colocou a pulseira em seu minúsculo bracinho e introduziu uma sonda em seu narizinho, puxando-a pela outra narina. Mudo, William respirava fundo, sentia o choro preso na garganta e olhava de longe, aguardando para vê-lo de perto. Ela olhou e acenou para ele, chamando-o. Ele se aproximou devagar, com uma certa cerimônia. A enfermeira se voltou para ele e disse:


                - Esse é o Vinícius!


William fechou os olhos e soltou um soluço. Colocou o dedo polegar na palma da mãozinha de Vinícius. Era tão pequena que o dedo de William a ocupou toda.


                - Oi, meu filho! Sou o papai. – Chorando com a voz embargada, falou baixinho sorrindo para o filho.


No mesmo minuto, ouviu um outro chorinho atrás de si. Olhou para trás e uma segunda enfermeira caminhava em direção a ele com um pacotinho nas mãos. William arregalou os olhos com a rapidez que tudo acontecia e confuso com tanta emoção acumulada. Se afastou até que a enfermeira limpasse o bebê e lhe colocasse a pulseirinha. William sentia as lágrimas escorrendo e inundando a máscara bucal. Aproveitou o intervalo para olhar para Fátima. Ela permanecia estática, na mesma posição que ela a havia deixado. Foi quando ele ouviu a voz da enfermeira:


                - Essa é a Beatriz.


Olhou para o corpinho dela. Era tão frágil, tão pequenina, mas tão guerreira. Lembrou-se da pior semana da vida dele e de Fátima, torcendo para que a filha vingasse. Era muita emoção vê-la ali em sua frente, ainda muito vulnerável, mas viva. Era o que importava. Beijou o rosto dela através da máscara. Tentava conter as lágrimas enxugando-as com o braço, mas era em vão.


                Laura veio logo depois. A mais escandalosa, tinha um choro mais contínuo e mais alto. Era também a mais moreninha e cabeluda. Se parecia muito com William, desde já. Ele olhou para ela e sorriu, transbordando de emoção. Foi interrompido pela enfermeira, que precisava levá-los para o atendimento neonatal. Ele olhou novamente para os três filhos. Eram seus, eram parte dele na mistura da mulher que amava. Era uma felicidade, uma emoção  e um amor que não cabiam nele. Lembrou-se da recorrente frase que tanto ouvira do pai:  -“Um homem só nasce de verdade depois que é pai.” Aquelas palavras de repente fizeram todo sentido. Sentiu que havia renascido ali, naquele momento. Instantaneamente, passou a ver a vida com outros olhos. Viu a sábia frase do pai tomar forma especificamente, na forma de três crianças. Seus três filhos. Seus três pequeninos filhos, que ele ainda mal conhecia, mas já amava mais do que sua própria vida. Em silêncio, agradeceu a Deus por ter lhe dado a sublime missão de cuidá-los, protegê-los e amá-los, com todo seu coração.


Olhou para Fátima. Ela mexia a cabeça e entreabria os olhos. William se desvencilhou dos filhos e foi até ela. Segurou em sua mão, preocupado.. A enfermeira passou por eles empurrando o carrinho onde os três bebês estavam. Parou rapidamente na frente dos papais. Fátima olhou para o carrinho, mas não manifestou nenhum tipo de consciência. Virou a cabeça para o lado contrário e fechou os olhos novamente. William sentiu invadi-lo uma pena imensa dela, que não iria conhecer os filhos naquela hora, não ouviu seus primeiros chorinhos e nem vivenciou aquele momento tão mágico. A enfermeira percebeu o desapontamento dele e tentou consolá-lo.


                - É assim mesmo, papai. O sedativo faz com que elas fiquem zonzas, como ela tomou uma dosagem maior, a tendência é que ela fique ainda mais sonolenta. Mas daqui a pouco ela vai voltando aos pouquinhos, logo ela já tá consciente novamente. Fique tranquilo.


William agradeceu e a viu sair com seus filhos do centro cirúrgico. No mesmo instante, uma assistente se aproximou dele, calmamente.


                - Com licença... Vão iniciar o procedimento de sutura agora, eu vou acompanhar você até o quarto para esperar por ela... – William se levantou da cadeira e concordou com a cabeça. Deu uma última olhada para a esposa e, em seguida, para o aparelho que monitorava seus batimentos. A assistente sorriu, entendendo a preocupação dele.


                - Fique calmo, o pior já passou. Ela já está estabilizada, está tudo sob controle. Daqui cerca de quarenta minutos levaremos ela até o quarto. Vocês contrataram o apartamento duplo, certo? – ela conferiu a ficha que estava na mão.


                - Sim. É o quarto que tem uma sala para visitantes, né?


                - Isso. É bem confortável, vocês vão gostar bastante. Ela deve receber alta depois de amanhã. As acomodações do acompanhante também são ótimas. Você que vai dormir com ela?


                - Eu e a mãe dela, vamos nos revezar. Mas hoje provavelmente eu que vou dormir. – a moça concordou com a cabeça.


Pararam na sala para descarte das vestimentas cirúrgicas. William pegou o saquinho com seu relógio e continuou caminhando com a assistente. Subiram um elevador e atravessaram um enorme corredor até a ala de quartos de pacientes em recuperação. A moça se posicionou em frente a porta, abriu-a e indicou que era ali. William agradeceu a atenção dela e entrou, fechando a porta atrás de si. Era um quarto todo verde-água, uma ante sala com sofázinhos pitorescos e aconchegantes, uma TV, um cesto de revistas e um aparador com café e biscoitinhos. Era muito acolhedora, parecia uma sala de casa mesmo. No fundo, um grande painel com uma porta, que acessava o quarto. Estava aberta e ele pôde ver que também era muito organizado e confortável. Sentados no sofá, os pais de William, as irmãs dele e os pais de Fátima conversavam animadamente. Todos se levantaram e se voltaram curiosos para ele quando o viram entrando no quarto.


                - Filho! E aí? Meu Deus, demorou um bocado, hem? Como foi? – a mãe dele rapidamente questionou.


                - Graças a Deus, foi tudo bem. Eles estavam costurando ela, me tranquilizaram dizendo que o procedimento agora não tinha riscos.


                - E os bebês? Como eles estão, que horas vamos vê-los? – a mãe de Fátima parecia aflita.


                - Nossa... Eles são lindos, gente. São perfeitos, são saudáveis, eu tô tão emocionado, chorei demais. Tô louco pra ver meus filhos de novo, não vejo a hora. Eu não sei como é agora, o médico deve passar aqui assim que terminar pra explicar pra gente. A moça disse que logo trazia a Fátima pro quarto. Ela não conheceu eles, eu tão agoniado com isso... Queria que ela tivesse visto eles.


                - Ela dormiu o tempo todo? – A curiosidade era geral.


                - É, ela ficou desacordada, ás vezes ela abria os olhos, mas acho que ela nem tava consciente. Ai que sensação terrível ver minha mulher daquele jeito, nem parecia ela. Mas a enfermeira disse que é normal, passa rápido o efeito. O que importa é que ela tá bem.


                - É assim mesmo, filho, preocupa não. – O vovô tentou acalmá-lo.


William se sentou e bebeu água. Todos se sentaram ao redor dele, prestando atenção no que ele estava contando.


                - O Vinícius nasceu primeiro né, como já mais ou menos sabíamos que seria. Depois foi a Beatriz e por último a Laura. É tão rápido, é um atrás do outro, mal eu abaixava pra ver um e já vinha o outro chorando. A Beatriz é a menorzinha, mas é linda demais. Carequinha, mais branquinha igual a Fátima. A Laura achei mais parecida comigo, narigudinha. – todos riram emocionados, inclusive ele – E é mais moreninha também, tem umas penugens pretinhas de cabelo. É linda! Eles são lindos! São tão pequenos, eu não pude pegar no colo ainda, mas são pouco maiores que as minhas mãos. Vi eles muito rápido, logo a enfermeira já correu com eles que o pediatra já estava esperando. E a minha visão ficou meio turva, porque eu só chorava. Foi muito emocionante, foi o melhor momento assim da minha vida.


E permaneceram ali, todos em um misto de diversos sentimentos. Alegria, ansiedade, aflição para saberem notícias dos bebês, mas o principal que pairava dentro daquele quarto era AMOR.


 


 


***


 


                Já se passava cerca de uma hora. Com a TV ligada, William andava de um lado para o outro, atordoado. Com três batidinhas na porta, o médico anunciou sua entrada acompanhado do pediatra.


                - Doutor! Nossa, que bom que o senhor veio, eu já tava desnorteado aqui. E aí? Não sei nem o que eu pergunto primeiro... – William sorriu um pouco constrangido com tamanha ansiedade. O médico retribui o sorriso.


                - Calma, rapaz! Está tudo sob controle, eu vim o mais rápido que pude dar notícias. Como você pôde ver, o parto foi um sucesso, correu tudo na mais perfeita ordem. Sua mulher está bem, as enfermeiras estavam trocando o lençol dela e já iam subir com a maca. Ela ainda está zonza, mas já está acordando aos poucos. É provável que nessas primeiras horas ela sinta o corte um pouco dolorido, é normal. Se o incômodo for muito grande, só chamar a enfermeira que ela aplica um analgésico no soro para dar uma aliviada. Vai sentir muita sede também, mas é FUNDAMENTAL que vocês fiquem sempre perto dela. Nas próximas seis horas, é importante que ela guarde repouso e não fique andando e se movimentando muito para não ter sangramentos. Vômitos, moleza e sonolência são normais, deixem que ela descanse. Eu volto aqui no fim da tarde para ver como ela está e libera-la para tomar um banho, ir ao banheiro e caminhar pelo quarto. Certo? – todos acenam positivamente com a cabeça. – Bom, agora meu colega aqui vai dissertar sobre os bebês. – o médico sorri e dá voz ao pediatra.


                - Bom William, vamos lá. Fique tranquilo, seus filhos estão bem, na medida do possível. Acredito que ao longo de toda a gravidez, vocês foram preparados para esse processo que iremos enfrentar agora, né? – O obstetra afirma com a cabeça, confirmando que explicou tudo ao casal durante as consultas de pré natal. – Prematuros possuem um quadro bem mais delicado do que o de uma criança que nasce nas 38 semanas, que é o normal para uma gestação.


O pediatra vira a prancheta com o prontuário das crianças, mostrando o peso de cada um deles.


                - Quando a Fátima estiver descansada, eu vou sentar com vocês dois e vou tirar todas as dúvidas, passar detalhes para vocês de todo esse processo. Agora, como eu sei que vocês estão cansados, ela deve estar chegando por aí a qualquer momento, eu vou ser breve e apenas vou te tranquilizar explicando o atual estado de cada  um deles. O Vinícius é o mais gordinho e o maior deles. Respira com facilidade, já mamou a primeira mamadeira com  complemento alimentar adequado para prematuros. Não teve dificuldades para sugar, estamos bem tranquilos com ele. Está dormindo agora na incubadora, acho que seria o caso de introduzirmos uma chupeta porque ele está com o polegar todo enrugado já de tanto sugar. – William sorri, emocionado. – A Laura é temperamental e esfomeada. Também já mamou, mas para poupá-la do esforço e de  uma possível perda de peso, injetamos o alimento na boquinha dela com uma seringa. Eu saí de lá e ela estava resmungando, não havia dormido ainda. Agora vamos para a Beatriz. Ela não sofreu nenhuma sequela da formação tardia, felizmente. Examinamos cuidadosamente e todos seus órgãos estão em perfeito funcionamento. Conseguiu se recuperar relativamente bem, quase que alcançou os irmãos, mas não deu tempo, então por isso é a menorzinha e mais magra. A alimentação dela é feita por uma sonda gástrica, ou seja, o complemento é introduzido direto no estômago dela. Notamos que ela está fazendo um pequeno esforço para respirar, então a ligamos no respirador da incubadora. Aos pouquinhos, vamos retirando gradativamente para que ela não crie uma dependência e desaprenda a respirar. Vamos deixá-la respirar sozinha quando necessário para que ela exercite seus pulmões. Eu saí de lá quando ela estava acabando de ser pesada. Vamos monitorar cada grama deles para sabermos como está o desenvolvimentos. Já te adianto que não temos previsão de quando receberão alta. Pode demorar trinta ou sessenta dias, depende muito, não temos como saber.  Mas considere essas notícias que eu acabei de te dar muito boas William, seus filhos estão sob os cuidados de ótimos profissionais, muito competentes e uma UTI muito bem equipada. Pode estar certo de que vocês serão informados de todo o prontuário dessas crianças, nunca iremos poupar vocês de nada, até porque participarão dos procedimentos juntamente com nossa equipe de enfermeiros. Alguma dúvida?


                - Algumas, mas a primeira coisa que eu gostaria de saber é que hora eu vou poder ver meus filhos de novo. Nossos familiares também estão loucos para conhecê-los e minha mulher... ela não ficou acordada durante o parto, ela não os viu, doutor. Eu tenho absoluta certeza que a primeira coisa que ela vai perguntar quando acordar é por eles, o que eu falo? Não há possibilidade de trazê-los aqui? É muito importante para ela... e pra mim também, eu nem peguei meus filhos no colo.


                - Não, claro que há possibilidade William. Claro que tem todo um aparato, afinal de contas, são três, né? E para a Beatriz, temos um respirador portátil justamente para essa mobilidade. William, entenda que a incubadora é importante para proporcionar ao recém nascido um ambiente termoneutro, controlando o fluxo de ar, temperatura e umidade, mas isso não significa que eles estejam impedidos de ficarem fora da incubadora,  pelo contrário, é ótimo que eles tenham contato com o exterior, para criarem imunidade e para que seus organismos aprendam a lidar com o clima habitual. Temos incubadoras móveis também, podemos colocar os três nela para trazermos para cá. Deixaremos eles com vocês por um período curto, mas suficiente para que peguem no colo, enfim, curtam eles. Uma enfermeira virá junto e ficará todo o tempo aqui operando o respirador da Beatriz, espero que vocês não se importem com a falta de privacidade.


                - Não, claro que não. Muito obrigado, doutor. O senhor sabe me falar por volta de qual horário ela vêm com eles?


                - Não, vou ver como está a agenda de mamadas delas, peço pra alguém ligar aqui no quarto e  te informar, pode ser?


                - Pode, claro! Vou ficar aguardando.


A família toda vibrou com a fala do pediatra, inclusive William. Os dois médicos se despediram de todos em meio a muitos agradecimentos e se retiraram do quarto. Dez minutos depois, a enfermeira bate a porta.


                - Com licença, é aqui que tá faltando uma mamãe?


Os olhos de William se iluminam. Ele responde que sim, movendo a cabeça. A moça sai do quarto e empurra a maca de Fátima para dentro. Manobra-a delicadamente, sem esbarrá-la nas paredes. Uma segunda enfermeira entra no quarto para ajudar colocá-la na cama. William segue as duas até a cama, apreensivo e curioso. Segurando nas bordas do lençol, elas transferem o corpo de Fátima para a cama. Ajeitam o soro no pedestal, afofam o travesseiro dela e se viram para  William:


                - Ela perguntou por você. Está sonolenta ainda, mas é bom que ela descanse. Assim ela acorda mais bem disposta. Qualquer coisa, só apertar esse botão aqui e a enfermeira vem atender vocês, certo?


                - Certo. Obrigado! Bom trabalho para vocês. – William sorriu cordialmente.


As enfermeiras saíram envergonhadas do quarto. “Meu Deus, que homem lindo!” “Pena que é casado!”, cochicharam.


                Todos ficaram ao lado da cama de Fátima, silenciosos. William se agachou para que ficasse no mesmo nível dos olhos dela. Ela estava de olhos fechados, ressonando. Reparou que ela estava sem a touca que usava na hora do parto. Acariciou seus cabelos, de leve. Olhou as mãos dela. No dedo indicador, ainda tinham marcas deixadas pelo aparelho medidor de pressão. Beijou de leve o dedo dela. Bateu uma súbita saudade da esposa, de seu cheiro e sua voz. Fátima era o alicerce dele, seu consolo e sua fonte de energia. Era o olhar dela que o motivava, o sorriso dela que fazia com que o  dia dele valesse realmente a pena. Faziam poucas horas que haviam se falado pela última vez, mas daquela hora até o atual momento, já tinham acontecido um turbilhão de coisas e William sentia uma necessidade esmagadora de compartilhar com ela. Acariciou o cabelo dela com muito carinho. Fátima se remexeu, suspirou e abriu os olhos sonolentos.  


                - Oi... – disse ela, com a voz baixinha.


                - Oi, meu amor! – William abriu um largo sorriso para ela.


Fátima abriu os braços e se espreguiçou, mas sentiu uma fisgada no pé da barriga e interrompeu imediatamente, fazendo uma careta de dor.


                - Cuidado com os pontos, filha. – disse a mãe dela apreensiva.


Ela olhou ao redor. Todos os familiares ao redor da cama dela a olhavam com ternura e ansiedade. Olhou para William, que agora já estava em pé do lado dela. Passou a mão na barriga e a sentiu um pouco inchada, mas sem os filhos. Teve uma súbita lembrança de ter acordado na sala de parto algumas vezes e viu William ao lado dela, em uma cadeira. Lembrou-se da enfermeira parada em sua frente com um carrinho e o marido segurando sua mão. Lembrou-se dos sons que ouvia, as vozes a sua volta... Ficou confusa se realmente aconteceu ou tinha dormido tão profundamente que até sonhou.


                - Cadê meus filhos? William... – um pouco assustada, olhava fixamente para o marido, buscando nele alguma resposta.


                - Calma, meu bem. Eles estão bem, vão vir daqui a pouco com a enfermeira para você conhecê-los.


A família se apressou em ir pra a sala, na tentativa de deixá-los sozinhos. Fecharam a porta para dá-los ou pouco de privacidade.


                - Minha boca tá seca, eu quero um pouco de água. O médico tinha dito que a anestesia era forte, mas parece que eu tinha esperança de que eu conseguisse ficar acordada. Eu lembro de tão pouco, amor, não me lembro deles. Eu vi eles de perto? – ela ficou com os olhos úmidos.


                - Não. Quando a enfermeira passou com eles, você até olhou mas estava muito zonza.


                - Você viu?


                - Vi! – William se abaixou pra ficar perto dela. – Amor, eles são tão lindos! Eles são as coisinhas mais pequenininhas e mais resmungonas que já vi. Eu peguei na mãozinha do Vinícius e ela é minúscula, do tamanho do meu dedão. – Fátima chorava emocionada ouvindo ele contar.


                - Preciso vê-los, William. Que horas eles vêm? Ai que agonia, eu quero meus filhos. Eles estão passando bem? São saudáveis?


William explicou rapidamente que Beatriz estava no respirador para poupá-la do esforço e evitar que ela perca peso. Precisou explicar para que Fátima não se assustasse quando visse a filha usando um tubo de oxigênio. Disse que eles eram bem pequenos, bem magrinhos, mas que estavam dentro dos parâmetros de normalidade para prematuros. Fátima reagiu bem, não fez perguntas. Já estava preparada para isso. Sabia dos riscos. Não se permitia sentir tristeza diante de tantas bênçãos que haviam recebido. E duas horas depois, a enfermeira bate a porta. O coração de Fátima pula no peito. Já sabiam que eram os bebês, a equipe da maternidade confirmou o horário, como combinado. Todos se levantaram de onde estavam sentados, menos Fátima, que sentiu vontade de pular da cama em direção a porta, mas sabia que não podia. Aguardou com as lágrimas escorrendo no rosto enquanto a enfermeira se aproximava. Estavam os três embrulhadinhos em suas mantas com suas respectivas iniciais, dentro da incubadora móvel. Fátima tapou a boca estupefata quando visualizou os três. William estava perto dela, também muito emocionado.


                - Oi mamãe, chegamos para conhecer você... – disse a doce enfermeira, com grande delicadeza na voz.


Fátima sorriu sem tentar esconder o choro. Sentiu o coração partido ao ver o respirador no narizinho de Beatriz, mas procurou nem reparar nisso e olhar só os detalhes positivos. A enfermeira abriu a tampa da incubadora depois de posicioná-la no canto da parede e ligá-la na tomada. Retirou Laura primeiro e a entregou nos braços da mãe. Fátima inclinou o rosto, beijando a bochecha dela e chorando de emoção.  Sentiu dor no corte por estar sentada, mas nem se importou. Aquele momento era o mais inesquecível de sua vida. Era seu primeiro contato direto com os três filhos que carregou na barriga durante sete meses e meio. Eram os três coraçõezinhos de Fátima que, agora, batiam fora do corpo dela. Uma extensão de si, pequenos pedaços dela, ela conseguia visualizar escancaradamente características muito suas em todos eles. Pegou um a um no colo e os beijou várias vezes. William envolveu Fátima nos braços, encostou sua cabeça no rosto dela e ficaram ali, os cinco abraçados. Toda a família assistia a cena emocionados, comovidos e orgulhosos. Era a concretização de um sonho que, naquele momento, já pertencia a todos eles. E sabiam que aquele era o início de um período de muito trabalho e de um grande desafio, mas que valeria a pena cada noite não dormida, cada renúncia que precisassem fazer por eles. Tudo, sempre valeria a pena.


 


 


***


 


 


                Quarenta dias se passaram. A vida de Fátima e William deu uma sacudida geral. Mudaram seus hábitos, sua rotina, suas preocupações e prioridades. Mudaram também a forma com que viam a vida e suas perspectivas de futuro. Descobriram em si próprios características que nem sabia que existiam e isso nem sempre era algo positivo. Mas estavam se saindo muito bem na árdua, porém gratificante missão de serem papais de trigêmeos. O período em que os bebês passaram no hospital não foi menos desgastante do que já presumiam que seria ao longo de toda a gravidez. Uma rotina de hospital, da típica preocupação de irem embora para casa a noite sem os bebês, deixando-os sob os cuidados de médicos e enfermeiros. Era uma sensação terrível, mas sabiam que era um mal necessário. Mas as crianças se saíam bem, não tiveram nenhum declínio na recuperação, seguiram uma constante, sempre apresentando melhoras, quilos a mais e pequenos ganhos, mas que representavam muito para eles. Viviam um dia de cada vez. Eventualmente, Fátima acordava em casa no meio da madrugada e caminhava até o quarto dos bebês. Chorava um pouco, sentia tanta falta dos seus filhinhos e torcia fortemente para que estivessem logo ocupando seus bercinhos. Mas sabia que isso agora era só uma  questão de tempo. O dia em que saíram do hospital foi uma festa geral. Laura e Vinícius vieram primeiro, vinte e três dias depois de nascidos. Dois dias depois, foi a vez de Beatriz. Decoraram a casa com vários ursinhos e balões em formato de corações. Claro que por serem tão pequeninos, nem notariam os enfeites, mas o clima de receptividade e alegria em que estavam inseridos com certeza sentiram. Fizeram um lanche como uma pequena confraternização, apenas com as babás e vovós, para comemorarem mais esse passo. Mas a rotina era uma loucura. Tabelas de mamadas, de banhos e de remédios foram fixadas na geladeira para organizar melhor os horários das crianças. Exausta, Fátima mal conseguia tomar banho no fim do dia. Caía na cama frouxa, mas indescritivelmente feliz. William, por sua vez, era um pai maravilhoso. Dedicado, se mostrava sempre interessado em aprender pequenos cuidados, como trocar fraldas, enxugar depois do banho, limpar as orelhinhas e fazê-los dormir. Fátima ficava orgulhosa do marido por ser um pai tão presente e preocupado com os filhos. Ele entrou no esquema de revezamento de mamadas, acordava animado e sempre disposto a ajudar com o que fosse necessário. No íntimo, William sentia um grande prazer em participar de todos os momentos dos filhos. E tinha muito orgulho de  Fátima, por ela ser tão boa mãe, tão guerreira e tão dinâmica. E apesar da dificuldade, era delicioso vivenciar tudo isso com ela. Mal tinham tido tempo para namorar nesses últimos dias, mas se satisfaziam em dormir um do lado do outro, abraçados e entrelaçando as pernas. Os pais de William ainda estavam hospedados no apartamento do casal, para ajudá-los no que fosse preciso. Fátima ficava aliviada, pois confiava muito na sogra, apesar de ter sempre a mãe por perto colaborando, gostava de alternar a ajuda das duas para que nenhuma ficasse sobrecarregada. Não queria de forma nenhuma ser um peso para elas. Naquele dia, foram a uma consulta de rotina ao ginecologista de Fátima. Era o fim do período de resguardo dela e o médico quis confirmar se ela já estava plenamente recuperada. A sogra foi acompanhando-a.


                - É dona Fátima... Você já está ótima, pronta para engravidar novamente. – ele gargalhou.


                - Nossa doutor, nem brinca com isso! Pelo amor de deus... – ela sorriu.


                - Você já praticamente voltou ao seu peso anterior, com a amamentação agora você vai notar que vai sempre perdendo peso, a tendência é essa. E quanto a cirurgia, está completamente cicatrizada mesmo, como eu já tinha constatado na consulta anterior. Agora pode retomar a vida normal, se quiser praticar algum exercício físico já pode, tudo normal... – ele pausou e sorriu pra ela. - ...inclusive relações sexuais. Você já está em plena forma para voltar a “ativa”.


Fátima sorriu. Agradeceu e voltou para casa, saudosa de seus bebezinhos. No mesmo dia a noite, deu banho nos três, William enxugou e ajudou a vesti-los. Colocaram-os na cama depois de uma mamada caprichada e eles dormiram tranquilos e calmos. Fátima ficou no quarto cobrindo eles com a manta e ajustando a temperatura do ar condicionado. William seguiu para o quarto do casal para tomar banho e descansar e ficou lá, esperando por ela. A mãe de William parou na porta do quarto e acenou para ela.


                - Fátima! O que você está fazendo aqui ainda que não foi descansar, criatura? – perguntou ela, em um tom divertido.


                - Ai, dona Maria Luiza, eu fico preocupada em deixá-los e algum acordar, chorar e eu não escutar. – Coçou a cabeça, olhando para os berços.


                - Não, para com isso! Eles estão bem, já mamaram, vão dormir  agora até a hora da próxima mamada, que é só daqui três horas. Qualquer coisa também, eu estou aqui no quarto ao lado, não vou dormir agora, vou bordar um pouco. Se eles chorarem eu ouço e venho ver o que é, pode deixar! Criei três que eram muito mais chorões que eles. Vai pro seu quarto, toma um banho e bota uma camisola e vai ficar com seu marido, minha querida. O médico hoje te liberou do resguardo... vai já ficar com ele, vocês estão mesmo precisando de um tempo sozinhos. Passa a chave e esquece só por algumas horas os bebês, eu vou ficar por aqui olhando se tá tudo certo, qualquer coisa eu te chamo, fica tranquila. Olha... você não pode se esquecer que mesmo vocês sendo papai e mamãe, vocês também são marido e mulher. Isso é importante. Vai!


Fátima pensou bem. A sogra estava certa, precisava de um tempo com William. Pensou no resguardo. Já estava enlouquecida com a falta de sexo, mas esteve tão atribulada nesses últimos tempos que nem lembrou-se de pensar nisso. Tinha certeza que William também estava, mas também reprimiu sua vontade devido a rotina que estavam tendo.


                - A senhora tem certeza? Não está cansada, precisando dormir, descansar...


                - Cansada de que, Fátima? Não sou eu que estou amamentando três crianças duas vezes por noite, aqui na sua casa eu não preciso lavar um garfo. Eu estou é sem sono, isso sim. Pode ir mesmo, não se preocupa.


                - Então eu vou mesmo. Obrigada, dona Maria Luiza. QUALQUER COISA pode bater lá no quarto que meu sono é leve, eu acordo e venho tá?


                - Tá certo. Boa noite, querida.


                - Boa noite e obrigada!


Ela caminhou até seu quarto, aliviada por saber que podia se desligar um pouco. Entrou discretamente, fechou a porta e girou a chave. Ouviu William batendo o desodorante em spray no banheiro. Caminhou lentamente até o closet para que ele não percebesse. Abriu uma gaveta de lingeries e procurou uma camisola de cetim branca, curta e decotada nas costas até quase o quadril. Era muito sexy e sabia que William adorava-a. Já havia usado algumas vezes. Enfiou a camisola dentro do macacão para que o marido não visse. Ela parou na porta do closet e olhou para ele. Era um homem lindo. Estava de bermuda de elástico e sem camiseta. O cheiro do perfume dele misturado com o sabonete e o vapor quente do banheiro virou uma combinação deliciosa. Ele saiu do banheiro e olhou para ela.


                - Ué! Que susto, não vi você entrando aqui não! – Fátima sorriu para ele.


                - Eu vou tomar um banho. Você já vai dormir ou me espera?


                - Eu te espero. – e deu uma piscadinha de um olho só para ela.


Fátima tentou ser rápida no banho para não fazê-lo esperar. Ele nem sabia que o resguardo dela tinha terminado. Mal podia esperar para ver a reação dele. Fátima saiu do chuveiro e olhou para si no espelho. Lembrou-se de quando fez o mesmo no espelho do closet antes de saber que estava grávida, meses atrás. Como sua vida tinha mudado desde então, ela própria também. Fátima acariciou os seios. Estavam enormes, três vezes o tamanho original dos seios dela. Se apertasse, jorrava leite. O corpo dela tinha mudado um pouco. O quadril estava mais largo, mas ela gostava daquele novo corpo. A barriga já estava quase lisa novamente, apenas uma pequena flacidez embaixo do umbigo, mas era quase imperceptível. E a cicatriz da cesariana estava avermelhada ainda, mas fechada, seca e nem um pouco dolorida. Fátima escovou os dentes, usou o perfume favorito de William para ela. Penteou o cabelo curto para trás, juntando-o todo na nuca. Vestiu a camisola sem calcinha. Na ponta dos pés, olhou as costas no espelho. A camisola estava bem mais curta do que quando tinha sido comprada. Mal cobria a curvinha do bumbum de Fátima. Ela mordeu na boca e sorriu, adorando a expectativa. Nunca se esqueceria de como era fazer amor com William, mas naquele momento, a lembrança da última vez deles estava muito distante. Saiu do banheiro e caminhou sensualmente até a cama. William estava sentado na cama, recostado em dois travesseiros lendo um livro de geopolítica. De óculos e cabeça baixa, ele a encarou por cima dos óculos, levantando a sobrancelha. No mesmo instante, levantou a cabeça e tirou os óculos. Olhou para ela sorrindo de lado, confuso. Fátima ficou de quatro na cama e engatinhou até ele, sorrindo. William se apressou em colocar o livro e os óculos no criado-mudo e inclinou as costas para trás, encostando na cabeceira da cama. Calado, ele a encarava excitado. Aquela camisola era o ponto fraco dele, todas as vezes que ela vestia ele ficava louco. Fátima ajoelhou-se de frente para ele. Trespassou a perna esquerda por cima dele, ficando montada no colo dele. Olhou para ele faiscando. William sorriu tentando entender, mas nem precisou.


                - Terminou hoje meu resguardo. – ela mordeu na boca. – Tô liberada...


William custou acreditar.


                - Liberada para... tudo? – ela riu.


                - Tudo. – e beijou o pescoço dele.


                - Tudo mesmo? – William deslizou as duas mãos pelas coxas dela, até alcançar o bumbum. Notou que ela estava sem calcinha. – Putz, você tá sem calcinha? Ai amor, faz isso comigo não...


Ele gemeu, revirando os olhos, sentindo Fátima lhe beijar o pescoço. Ela grudou na nuca dele, puxando-o pelos cabelos. Mordeu-lhe o queixo, ofegante.


                - Você tem certeza que já pode? Não está sentindo dor mais? – sussurrou, apreensivo.


                - Não... Estou louca de vontade! – Ela cochichou no ouvido dele.


                - Eu também. – ele desceu as alças da camisola, deixando-as caídas nos ombros dela. – Eu tô virgem de novo. Faz tanto tempo... – Fátima gargalhou e ele também sorriu.


William segurou Fátima pela cintura e a empurrou para a esquerda, jogando-a na cama. Ele tirou a própria roupa, ficando nu de joelhos, na frente dela. Inclinou-se sobre ela, ofegante. Subiu a camisola dela devagar, até que a barra ficasse na direção do umbigo dela. Olhou para o corpo despido dela da cintura para baixo. Soltou um gemido de excitação, mordendo na boca e deixando seu lábio escorregar pelos dentes lentamente até escapulir. Acabou de descer as alças da camisola de Fátima, deslizando-a pelo corpo dela, até passar pelos pés. Com muito cuidado, acariciou ao redor dos seios dela. Passou a língua pelas laterais, evitando encostar nos mamilos, que estavam cheios de leite materno por dentro. Apreciou a visão de todo o corpo de Fátima. Ela continuava linda. Passou os dedos pela cicatriz da cesariana dela, que ficava pouco acima dos pelos pubianos. Provavelmente aquela marca ficaria para sempre, mas ela era símbolo da coisa mais importante que tinham na vida: os filhos. Se inclinou para frente extasiado e beijou a boca dela. Antes de penetrá-la, fez um pedido baixinho.


                - Promete que se doer você me fala? Eu paro na hora.


Fátima fez que sim com a cabeça, com os olhos fechados e ofegante. Quando ela sentiu-o dentro dela, sentiu seu corpo formigar por inteiro. Cravou as unhas nas costas do marido e gemeu baixinho, no ouvido dele. Não houve dor, não houve incômodo e nem desconforto. Naquele momento, tudo que Fátima conseguia sentir era um sublime contentamento. E se sentiu agradecida. Pela vida, pela saúde, pela casa e por todas as preciosidades que havia conquistado. William foi a melhor coisa que já havia acontecido em sua vida. Só com ele conseguiu ter aqueles filhos e aquela felicidade. Só ao lado dele experimentou dúvidas e incertezas, mas sempre regadas com muita maturidade e respeito. Só com ele era plena, era livre, era feliz de coração e de alma. Era por ele que lutava todos os dias para ser sempre uma pessoa melhor e mais positiva. E agora, era por ele e pelas três partes que eram dela, mas que também eram dele. Sentiu culpa por todas as vezes que achou que o destino não permitiria que tudo na vida dela desse certo. Fechou os olhos e sentiu uma lágrima de emoção escorrer pelo rosto. E com ela, esvaiu-se todo medo do futuro. A convicção de que muitos outros dias e momentos felizes estavam por vir, desde que em todos estivessem presentes as quatro pessoas que ela mais amava no mundo. Para sempre.


                



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Autor(a): bonemerlove

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 7



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  • vfsv Postado em 18/08/2014 - 00:38:13

    Vai escrever mais ou agora foi o fim???? Já pensou em escrever uma fic dos tempos atuais, presente, com as idades e ocupações atuais de cada um? ;)

  • vfsv Postado em 09/08/2014 - 23:37:20

    Mais capitulos , please!

  • vfsv Postado em 05/08/2014 - 18:37:20

    Perfeitoooooo

  • vfsv Postado em 04/08/2014 - 00:26:37

    Muito perfeita essa fic! Que talento, menina! Devia escrever um livro. Continua por favor!!!!!!!!!!!!!!!

  • neucj Postado em 03/08/2014 - 22:54:06

    Quero o próximo cap logo,ta muito boa.

  • vanessatocha Postado em 20/07/2014 - 22:14:05

    Amando a fic. vc escreve tão bem... Aguardando os próximos capítulos!

  • mibonner Postado em 16/07/2014 - 16:19:35

    Parabéns sua fic é ótima.Anciosa para ler os próximos capítulos .


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